Realização profissional ou financeira?
Muitas pessoas escolhem uma profissão pela remuneração salarial. Especialista alerta sobre os perigos dessa escolha
Com 21 anos de idade e a certeza que optou por uma formação superior correta. Eduarda Santos Vieira está no sétimo período do curso de administração e afirma que se sente realizada profissionalmente. “Tinha dúvida entre alguns cursos e acabei optando por administração. Estou muito feliz com a formação e com o mercado”.
Já Roberto Luan Medeiros, 21, escolheu o mesmo curso de Eduarda. Mas, o pensamento dele é diferente, com foco na realização financeira. “Realização financeira é mais importante, mesmo que você se frustre por não estar no trabalho ideal, pois, com dinheiro, algumas coisas ficam mais fáceis. Eu escolhi administração apenas pelo lado financeiro”, diz Medeiros, que está no primeiro período do curso.
Esse jogo de interesses influi bastante na qualidade dos trabalhos realizados por um profissional. Todavia, a grande disputa por vagas no mercado, concorrência profissional que cresce sem parar, desemprego, entre outros fatos, são alguns fatores que influenciam as pessoas a optarem por uma profissão apenas pelo contexto financeiro e não pela realização profissional.
De acordo com a psicanalista e psicóloga Sílvia Gusmão, que atua numa consultoria de carreiras profissionais, no bairro das Graças, no Recife, uma pessoa é considerada realizada profissionalmente quando a profissão que ela escolheu é desempenhada por prazer. Neste contexto, ela comenta que essas pessoas nem sempre são realizadas em termos financeiros, todavia, o bem estar encontrado no trabalho é o que os deixam saudáveis e felizes. Sobre os indivíduos que escolhem uma profissão apenas pensando em se dar bem financeiramente, esses podem passar por sérios problemas e prejudicar as pessoas que estão ao seu redor.
Perigos para quem só pensa no financeiro
“Só há perigos para essas pessoas”. É o que afirma Sílvia. Ela argumenta que quando um indivíduo escolhe uma área na qual não se identifica ela dificilmente será um bom profissional. “Ela não consegue se preparar bem para o mercado, apenas se forma pensando no dinheiro, e esquece que é preciso realizar um trabalho com prazer e que beneficie a sociedade”, diz a psicóloga. Esses profissionais, de acordo com a Sílvia, podem até adoecer, ter estresse, entre outros males.
Sílvia também destaca que há pessoas que escolhem um segmento profissional que está em alta em um determinado período, em termos de oportunidades de trabalho. “O mercado é muito volátil e pode mudar de uma hora para outra. Existem profissões que podem estar hoje com ótimas oportunidades de trabalho, e depois de um período elas diminuem a demanda. Então, é desejável que o profissional entre na área pensando em se qualificar de verdade e não somente por causa do mercado positivo de momento”, aconselha.
Sonho romântico
Sílvia Gusmão conta que existe um fator que não pode iludir os profissionais que acham que porque são bons, serão bem sucedidos na carreira. É o que ela chama de “sonho romântico”. “Existe uma crença que se você fizer o que gosta, basta ser bom que você consegue ingressar no mercado de trabalho e conseguir bons frutos. Isso é um engano”, adverte a psicóloga.
Ela explica que há áreas difíceis, repletas de concorrência, que mesmo os bons profissionais acabam sem trabalhar ou sem se realizar profissionalmente. Todavia, ela frisa que vale a pena tentar, pois “você não está fadado ao fracasso”.