O ensino técnico invade o Brasil
Já são mais de 700 mil alunos cursando o ensino tecnológico
Os brasileiros aderiram ao curso técnico para alavancar a carreira, é o que aponta os números de uma pesquisa realizada pelo Ministério da Educação (MEC). Segundo a instituição, de 2009 a 2011, as matrículas em cursos técnicos cresceu mais de 12%, pulando de 537,6 mil para 669,7 mil estudantes.
O ranking é liderado pelos cursos presencias, contudo os cursos técnicos a distância apresentam números de crescimento ainda mais expressivos. A pesquisa do MEC apontou, ainda, que no mesmo período as matrículas nos cursos online cresceram 162,19%, registrando 75.364 mil alunos em 2011, enquanto em 2009, eram apenas pouco mais de 19 mil estudantes na modalidade.
Vantagens para fazer um curso técnico são inúmeras. Desde o curto período do curso, geralmente em torno de dois anos, até mesmo a possibilidade de se qualificar para um mercado cada vez mais aquecido. Estima-se que até 2015 o Brasil precisará de 7,2 milhões de trabalhadores nas áreas técnicas. A maior parte, 6,1 milhões, é de postos de trabalho já existentes, que precisarão de pessoas ainda mais qualificadas.
Já as outras 1,1 milhão de vagas serão para novos profissionais. O Brasil passa por um momento de bons ventos e economia superaquecida. A título de comparação, uma empresa do setor mecânico, que precisa um único engenheiro mecânico por turno, precisa ter mais de 20 técnicos em engenharia mecânica para executar os projetos.
No Brasil já existem mais de 185 tipos de cursos técnicos, divididos em 12 eixos tecnológicos, segundo o Catálogo Nacional de Cursos Técnicos, do Governo Federal. Esse cursos são divididos em três áreas: o integrado, em que o aluno cursa o ensino médio e o técnico concomitantemente; o concomitante externo, no qual o aluno cursa o ensino médio em uma escola e o técnico em outra, simultaneamente; e os cursos subsequentes, ou pós-médio, cursados depois de concluir o ensino médio.
O curso técnico deve ser utilizado coma forma de se qualificar, tanto para um primeiro emprego, quanto para aqueles trabalhadores que querem complementar o currículo. É o que aponta o diretor geral do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE), Valbérico Cardoso.
A qualificação do trabalhador é uma questão discutida por boa parte das empresas. Num levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), 69% dos empresários apontaram dificuldades para contratar funcionários, principalmente para os cargos técnicos. A maior parte desses empresários, que buscam principalmente jovens para compor o quadro de funcionários das empresas, se queixam da falta de experiência e da deficiência na formação.
Uma saída é o ensino técnico. “Os alunos passam a ter uma visão de mercado mais apurada”, aponta Valbérico Cardoso. A grande maioria das escolas técnicas, além de oferecer a formação, incentiva e possibilita que o aluno faça um estágio em alguma empresa. Ainda segundo o diretor do IFPE, os convênios estabelecidos com mais de 420 empresas possibilitaram a muitos jovens o ingresso no mercado de trabalho. “Não queremos mostrar apenas a teoria. A grande diferença dos cursos técnicos é a possibilidade de explorar a prática e estabelecer uma visão de mercado”, aponta Valbérico.
É essa visão que o coordenador do curso técnico de mecânica do IFPE, Rodrigo Ferreira, destaca como essencial na formação dos jovens. Ele próprio, formado em engenharia mecânica pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), lembra a dificuldade ao lecionar aulas práticas aos alunos. “Passei dois anos na universidade apenas vendo cálculos. Estagiei e trabalhei na área, mas quando comecei a dar aulas, senti a diferença que aulas práticas proporcionam na formação”, lembra Rodrigo, que confessa que mesmo depois de concluir o mestrado, também na UFPE, pode aprender muito com as aulas práticas que ministra no IFPE.
“Um aluno técnico sai na frente quando entra na universidade, se compararmos aquele que sai do ensino médio direto para os bancos das faculdades”, aponta o diretor Valbérico. A opinião é compartilhada pelos alunos do penúltimo semestre do curso de mecânica, Renan Santos, 20 anos, e Felipe Emanuel, 21.
Felipe espera entrar na universidade e posteriormente ainda fazer carreira pública, enquanto Renan quer cursar engenharia depois de concluir o curso técnico. “Sei que estarei mais preparado, vou aproveitar muito mais”, destaca Renan. Danilo Santana, 21, aluno do mesmo curso, conta que mesmo a família tendo uma visão diferente da dele e incentivando cursar outras áreas, ele prestou o concurso do IFPE. “O choque de realidade é muito grande, o curso técnico é muito diferente do ensino médio. Tudo é muito específico. Mas depois fica mais fácil”, comenta.
O professor Rodrigo lembra que apesar dos cursos técnicos proporcionarem uma visão ampla, é importante os alunos entenderem que para esse ensino é necessário gostar da área. “As aulas são muito específicas. Um estudante que não gosta de matemática não conseguirá passar dos primeiros períodos do curso”, afirma Rodrigo.
Os IFs do Brasil
Os Institutos Federais são hoje as maiores instituições de ensino técnico do país. Os 38 institutos oferecem juntos mais de 2.343 opções de cursos presenciais, é o que aponta o Sistema Nacional de Informações da Educação Profissional e Tecnológica (Sistec).
Pernambuco é um dos responsáveis por esses números expressivos. Apenas o campus Recife do IFPE têm 5.940 alunos, sendo mais de 4.700 em um dos 16 cursos técnicos oferecidos. A previsão é que o Vestibular 2013 da instituição atraia mais de 45 mil inscritos.