Era Campos: do Ganhe o Mundo aos problemas estruturais
Durante o mandato do ex-governador, houve destaque para a criação de escolas e PGM. Porém, greves dos professores e unidades com falta de estrutura também chamaram atenção
Foram sete anos, três meses e três dias a frente do Estado de Pernambuco, com duas candidaturas. Eduardo Campos, agora pré-candidato à presidência da república, promoveu avanços significativos na educação. Escolas Técnicas e de Referência foram reformadas e criadas, jovens participaram de intercâmbio, através do Programa Ganhe o Mundo, e, atualmente, segundo a Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco (SEE), há 670 mil alunos matriculados nas 1058 escolas estaduais. Entretanto, o Sindicato dos Trabalhadores da Educação de Pernambuco (Sintepe) ressalta que muitas unidades estão em situação precária.
O Portal LeiaJá fez um balanço da educação pública de Pernambuco, dos projetos da gestão de Campos e visitou algumas instituições. Mesmo com o aumento de escolas durante a gestão do ex-governador, há aparelhos educacionais alvos de reclamação por falta de professores e de estrutura. No total, o Estado oferece 1058 escolas, em que dessas, 300 são Escolas de Referência, 125 Integrais, 175 Semi-integrais, 25 Técnicas e as demais são regulares.
No início do governo de Eduardo Campos, em 2007, havia 20 unidades integrais. No ano de 2008 esse número subiu para 51, sendo 33 integrais e 18 semi-integrais; em 2009 foram 48 integrais e 55 semi-integrais. No ano seguinte, Pernambuco disponibilizou 60 instituições integrais e 100 semi-integrais, em 2011 a população contava com 65 integrais e 108 semi-integrais. Já em 2013, os dados mostram que o Estado disponibilizou 260, sendo 122 integrais e 138 semi-integrais, conforme o gráfico à direita.
As Escolas Técnicas de Ensino (ETC) foram as que mais crescerem nesse período. Em 2007, existiam cinco instituições, com 231 matrículas. Em 2014, esse número subiu para 26, com 21 mil alunos matriculados, e, até o final deste ano, segundo informações da Secretaria, existirão mais 14 unidades, espalhadas na Região Metropolitana do Recife e no interior do Estado. Mesmo com esse aumento na quantidade de unidades, alunos fazem protestos pela precariedade da merenda escolar e estrutura.
Os estudantes da Escola Técnica Estadual Professor Agamenon Magalhães (ETEPAM) realizaram, na última terça-feira (8), um protesto contra a qualidade da merenda. Segundo os alunos, foi encontrado larva na comida e lodo no bebedouro. Ainda relataram que a direção do colégio já havia comunicado diversas vezes o problema, porém, nada foi resolvido. A Secretaria de Educação se posicionou dizendo que iria notificar a empresa prestadora do serviço.
De acordo com a Secretaria, as ETC são projetadas com dois pavimentos e acessibilidade total dos usuários. "Elas obedecem ao padrão de 12 salas de aula, seis laboratórios (informática, língua estrangeira, química, física, biologia e matemática), dois laboratórios específicos para os cursos técnicos (conforme os cursos oferecidos), auditório, biblioteca, quadra poliesportiva (coberta e com vestiário) e refeitório, cantina".
Em protesto, realizado durante a greve dos professores, no dia 18 de março, alunos relataram o descaso na Escola Técnica José Alencar Gomes da Silva. O aluno Matheus Torres (foto à esquerda), de 16 anos, liderou um grupo de colegas para alertar a população sobre as falhas da instituição. “Muitos alunos estão sem livros, porque a quantidade de material é oferecida de acordo com o último censo. “Como houve um aumento significativo de estudantes, muitos estão sem livros”, disse o adolescente. Ele ainda questionou, “não há professor de Informação Básica de Logística e Sistema da Informação, como uma escola técnica pode funcionar desse jeito?”.
Já o Programa ‘Ganhe o Mundo’ (PGM) possibilitou mais oportunidade para os alunos do ensino público de Pernambuco, através do projeto de intercâmbio para vários países. O programa iniciou em 2012, levando 552 estudantes para os Estados Unidos e Canadá. Em 2012, esse número aumentou para 1253 e abrangeu além das duas primeiras nações, a Austrália, Nova Zelândia, Espanha, Argentina e Chile. Até o mês de fevereiro deste ano, foram enviados mais 465 estudantes para o Chile, Argentina, Canadá e Nova Zelândia. Os alunos recebem mensalmente o valor de R$719,76.
Descontentamento dos professores
Em pesquisa realizada pelo Sindicato dos Trabalhadores de Educação de Pernambuco (Sintepe), foi divulgada a falta professores, educadores de apoio e cadeiras escolares. Além disso, algumas escolas estão com banheiros precários, infiltração, salas sem ventilação, biblioteca não existe, laboratórios de informática sem estrutura e material didático insuficiente pela quantidade de alunos.
Durante a adesão oficial à paralisação nacional, o Sintepe apresentou a situação de 132 escolas, que representam aproximadamente 13% das 1.058 unidades existentes no Estado. Na relação, faltavam 72 docentes das disciplinas de geografia (6), física (8), arte (4), português (15), matemática (8), química (7), ciência/biologia (4), inglês (7), história (3), educação física (2), interprete de libras (2) e polivalente (6). Sobre as necessidades da escola, ficou constatado que havia a ausência de 54 técnicos, 83 educadores de apoio, 3.300 bancas escolares, além de problemas estruturais.
O Portal LeiaJá visitou a Escola Estadual Valeriano de Melo - localizada no bairro de Beberibe, Zona Norte do Recife -, um dos aparelhos educacionais que está com infiltração, paredes rachadas e atualmente as aulas estão sendo ministradas em estrutura de PVC, sem climatização adequada. A equipe foi recebida por Jorge Luiz França, um dos gestores da instituição, porém foi impedida de registrar a situação da escola e obter informações. "A escola recebeu a orientação da Secretaria de Educação de não deixar a imprensa fotografar e nem passar informações sobre a instituição", disse categoricamente França.
Apesar do impedimento, a reportagem conseguiu observar salas sem climatização, banheiros sem higienização e alunos sem aulas. A aluna M.D, de 15 anos, falou que não tem segurança e os alunos fazem o que quer. "Os alunos saem e entram quando bem querem, está faltando professor e não há segurança", pontuou a estudante. Já I.S., de 17 anos ainda alertou. "Os alunos fumam maconha dentro da quadra de esportes e até dentro das salas de aula. Não há controle", disse.
O professor de história, João Cristiano Vasconcelos (foto à esquerda), em entrevista ao LeiaJá, explicou como as aulas são ministradas e identificou as dificuldades. "Temos pouco para proporcionar o máximo. Como as salas são em PVC e não são climatizadas, não conseguimos ficar 15 minutos dentro dela. Com isso, os alunos não conseguem se concentrar e nós não lecionamos adequadamente", falou o docente.
O ex-aluno da instituição, Isaías Antônio dos Santos, de 25 anos, disse, que os problemas da escola já existe há anos. Confira o vídeo: