Ausência de verba afasta recifenses do empreendedorismo

De acordo com recente estudo do Instituto de Pesquisas UNINASSAU, imposto também é um fator que intimida pessoas que têm vontade de abrir um negócio

por Lara Tôrres qua, 07/06/2017 - 10:00

A liberdade de não ter que se subordinar ao comando de chefes e ser dono dos lucros obtidos com o próprio trabalho cria em muitos recifenses o desejo de empreender. No entanto, para cidadãos das classes C e D entre 16 e 64 anos, a "ausência de verba" é o principal fator que impede a abertura de negócios. A informação é do mais recente estudo realizado pelo Instituto de Pesquisas UNINASSAU, promovido em parceria entre o LeiaJá e o Jornal do Commercio. A análise, trabalhada de maneira qualitativa, contou com entrevistados de vários bairros do Recife.

O desejo de ter o próprio negócio é notado principalmente entre os recifenses considerados maduros. Entre os possíveis empreendimentos, estão principalmente venda de batata frita, comércio de roupas ou mercadinho. Integrante do grupo das pessoas que almejam empreender, mas param na falta de recursos financeiros, Luciane Maria Neves, que tem 43 anos e atualmente trabalha como empregada doméstica, pensa em ter um negócio. Como também faz artesanato, a recifense do bairro de Casa Amarela, Zona Norte da cidade, vislumbra uma empresa para vender suas produções artesanais. “A questão financeira me impede, porque é caro abrir um negócio, o valor para comprar tudo que você precisa para começar é alto e existe o risco de não dar certo”, diz Luciane.

Também moradora da Zona Norte do Recife, Ranna Ivani tem 21 anos e diz que gostaria de ter a oportunidade de abrir uma academia. “Tenho vontade de ter um negócio, mas para a gente investir tem que ter oportunidade de levantar algum dinheiro. No momento, eu gostaria de abrir uma academia”, relata. “O lucro da pessoa que trabalha para si é mais vantajoso”, complementa a jovem recifense.

Ainda de acordo com a pesquisa, os entrevistados também apontam os impostos cobrados pelo poder público como barreiras para a abertura de empreendimentos, além da falta de certeza sobre se o negócio terá ou não sucesso. No geral, segundo o estudo, "empreender traz incerteza" para vários moradores do Recife.

Essa incerteza faz com que o público mais jovem e uma boa parcela dos recifenses maduros prefiram a segurança de ter uma renda fixa. Para isso, a aprovação em concursos públicos é o ideal, segundo relatos dos entrevistados. "Eles mostram o desejo de ser funcionários públicos. Segundo parte deles, trabalhar para o Estado possibilita que todo o mês, o 'certo entre na conta'. Portanto, empreender traz incerteza, é inseguro. Ser funcionário público traz o 'certo'. Eles desejam e elogiam a estabilidade do emprego público. Contudo, reconhecem que é muito difícil passar num concurso público”, diz o estudo do Instituto de Pesquisas UNINASSAU.

Para o coordenador da pesquisa e cientista político, Adriano Oliveira, o estudo mostra claramente que o desejo do recifense das classes C e D de ter o próprio negócio, caminha ao lado da busca por estabilidade financeira e profissional. "Os eleitores têm vontade de ser empreendedores. Tal desejo é observado entre os eleitores maduros. Entretanto, eles reconhecem que impostos e ausência de capital para abrir um negócio os impedem de empreender. Concorre ao desejo de ser empreendedor, o desejo da estabilidade, do certo. Jovens e maduros revelam opção pela segurança, estabilidade. Por isto, elogiam o emprego estatal e mostram desejo de conquistarem emprego público", analisa Oliveira.

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