"Tatuagem ou piercing, amigo?"
Pergunta marca vários pontos da Boa Vista, no Centro do Recife. Vendedores enfrentam o desafio de convencer clientes a fazer tatuagens
Passos apressados, circulação intensa de ônibus e demais veículos. Pipoqueiros, ambulantes e comerciantes também incorporam um dos principais cenários do Centro do Recife. Na Avenida Conde da Boa Vista, um dos mais importantes corredores de mobilidade do coração recifense, a disputa por clientes entre trabalhadores dos mais variados segmentos tem características bem peculiares. Gritos oferecem água e pipocas, assim como palmas e técnicas verbais de vendas atraem consumidores para lojas de roupas e calçados. Democrática, a Boa Vista ainda cede espaço aos vendedores de tatuagem. Contudo, convencer alguém a “riscar” a pele tem seus empecilhos, pois não são todas as pessoas que têm coragem de sentir dor por uma tattoo; se sobressaem aqueles vendedores que utilizam boas técnicas e conversas envolventes.
“Tatuagem ou piercing, amigo?”. A pergunta é uma marca da Boa Vista. Em frente aos estúdios de tatuagem espalhados pela Avenida, vendedores e divulgadores tentam conquistar clientes oferecendo panfletos, além de apresentar dicas essenciais aos interessados em desenhar o corpo. É quase impossível cravar quantas vezes a pergunta é feita pela jovem Isabela Martins, 21 anos. Apesar de atuar como body piercing há oito anos, ela não deixa de ir à rua para captar clientes, tanto para tatuagens quanto para as próprias aplicações de piercing.
A simpatia de Isabela vai além de uma característica pessoal. Para ela, o largo sorriso e a educação são fundamentais para quem trabalha em busca de clientes. Funcionária do estúdio “Edinho Tattoo”, ela explica que o trabalho é simples, mas requer habilidade para atrair a atenção dos populares. “A gente convida para nossa loja. É importante mostrar que o ambiente é limpo, mantemos tudo bem higienizado para garantir a segurança dos clientes. Tatuagem não é roupa, você precisa convencer a pessoa que está em dúvida a fazer”, comenta Isabela.
Isabela utiliza estratégias para vender tatuagens. Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens
De acordo com Isabela, a média de clientes que resolvem fazer tatuagens a partir de sua abordagem é em torno de cinco por dia. No entanto, nesta época de fim de ano, o número praticamente dobra. “A galera quer fazer uma tattoo para exibir nas fotos da virada do ano e também no carnaval”, diz. “A maioria dos nossos clientes sai de casa para pesquisar, porque quer se riscar ou já saem decididos a fazer em algum estúdio”, comenta a jovem.
Companheiro de trabalho de Isabela, Alexandre Lemos, 28 anos, há oito meses divulga o estúdio ‘Edinho Tattoo’. Com panfletos nas mãos, repete incansavelmente a pergunta “tatuagem ou piercing, amigo”? Ele conta que resolveu trabalhar na divulgação por gostar de tatuagem. “Resolvi dar uma força ao estúdio e também porque gosto de tatuagem. Tenho duas e quatro piercings. Geralmente é uma galera mais jovem, a partir dos 18 anos, que aceita parar e ouvir nossa proposta. A gente tenta levar a pessoa para conhecer o estúdio”, conta Alexandre. Ele ganha 15% em cima das tatuagens vendidas e 5% quando vende um piercing. De acordo com Alexandre, os preços das tatuagens variam de R$ 70 a R$ 1 mil, enquanto os piercings podem ser comprados a valores de R$ 40 até R$ 150.
Dono do estúdio ‘Edinho Tattoo’, o tatuador Edson Luiz Assunção, com seus 15 anos de profissão, valoriza o contato próximo com os clientes. Segundo ele, o trabalho feito pelos vendedores em plena Boa Vista é um dos pilares para o sucesso do negócio. “Representa 50% do nosso trabalho. Sempre digo para eles demonstrarem educação ao falar com os clientes. É um serviço muito importante para a gente”, comenta Edson.
Em meio a tentativas de vendas, a universitária Laura Beatriz Viana, 28 anos, resolveu prestar atenção na divulgação de Isabela. “Pretendo colocar um piercing no nariz por aqui no Centro, porque na minha cidade, Abreu e Lima, praticamente não tem quem ofereça este serviço. Um dia, futuramente, posso até fazer uma tatuagem. Acho muito legal esse serviço deles, porque precisam divulgar o trabalho”, diz Laura.
“Ter tatuagem ajuda”
No lodo oposto aos pontos de trabalho de Isabela e Alexandre, mais vendedores tentar conquistar clientes. O objetivo é convencer os indecisos a riscar o corpo ou simplesmente aplicar delicados piercings. Com cerca de sete meses de experiência na função de divulgador, o jovem Matheus Iosefeer Silva, de 21 anos, aposta em seu visual para agradar quem passar pela Boa Vista.
De camiseta regata, o divulgador exibe inúmeros desenhos pelo corpo; para ele, ter tatuagem é fundamental para encorajar e conquistar clientes. “Ajuda muito o fato de eu ter tatuagem. Quem tem mais desenhos se destaca entre a multidão”, comenta o jovem.
Matheus utiliza panfletos, mas não abre mão de perguntar aos populares se eles querem ou não fazer tatuagens. “Geralmente, quem procura mais informações sobre nosso serviço são jovens sem experiência, que nunca fizeram uma tatuagem. Como já fiz e sei como é um procedimento seguro, procuro tirar todas as dúvidas e levar a pessoa para conhecer nosso estúdio. Ganho 20% do valor pago por cada cliente”, descreve.
Não muito longe de Matheus, o vendedor de tatuagens Erick de Souza, 21, utiliza técnicas verbais para convencer quem circula pelo Centro do Recife. Tanto que não consegue ao certo dizer o número exato de vezes que pergunta “tatuagem ou piercing”? “Pergunto mesmo se a pessoa quer fazer. Tatuagem é massa, representa uma marca de vida, relembra até momentos marcantes que a gente passa”, diz o vendedor. Das 7h ao meio dia e das 13h às 18h ele tenta conseguir clientes, de segunda a sábado.