Rua da Aurora é ocupada por música e história

Domingo na rua da área central do Recife foi abrilhantado pelo projeto ‘História ao Ar Livre’. Na pauta da aula aberta ao público, 'Histórias que não devem ser esquecidas: 1964 a 1985'

por Nathan Santos dom, 02/09/2018 - 18:33
Nathan Santos/LeiaJáImagens Segundo a organização da aula, cerca de 500 pessoas compareceram ao encontro Nathan Santos/LeiaJáImagens

Cangas colorindo a grama, música aos acordes de um violão. Cidadãos de diversas faixas etárias, ciclistas atentos à explanação. Esses e outros elementos abrilhantaram a tarde deste domingo (2) na Rua da Aurora, um dos principais pontos do Centro do Recife. Ao lado do representativo monumento ‘Tortura Nunca Mais’, o projeto ‘História ao Ar Livre’ chegou à décima edição com uma aula que destrinchou a temática “Histórias que não devem ser esquecidas: 1964 a 1985”.

O evento, aberto ao público, reuniu cerca de 500 pessoas. Muitas delas jovens estudantes, que em novembro deste ano vão encarar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Em pauta, uma séria discussão acerca da Ditadura Militar no Brasil, que foi de um resgate dos capítulos do passado aos atuais debates de defende a volta do regime ditador. 

Um dos idealizadores do projeto, o professor de história Rodrigo Bione ressaltou que, em primeiro lugar, a ação valoriza os espaços públicos do Recife. Outro objetivo é ensinar história de maneira gratuita e reflexiva, não com intuito único de preparar os participantes para provas educacionais, mas possibilitar uma análise sobre os fatos históricos que marcam a sociedade brasileira.

“O projeto busca valorizar os espaços públicos do Recife. A gente acredita que cidade viva é a que tem as pessoas na rua. Se divertir é também ocupar, conversar. Escolhemos a Rua da Aurora porque, como o tema tem a ver com o período ditatorial militar, esse é um local simbólico, tem o monumento Tortura Nunca Mais, entre outras coisas”, explica Bione.

“Temos um problema histórico que as pessoas esquecem muito fácil as coisas. E a gente vê a ascensão de movimentos que pedem a volta da Ditadura Militar e até mesmo da tortura. A ideia é a gente evitar erros do passado. É fundamental entendermos que a nossa democracia tem suas falhas, mas mesmo com a democracia falha, é melhor corrigir essas falhas e não destruir essa democracia”, acrescentou o professor de história.

A estudante Beatriz Percílio, 16 anos, natural de Olinda, aproveitou o domingo durante a aula ao ar livre. “É bom falar sobre a Ditadura para informar a quem não sabe. O governo teria sim que investir nisso, mas pelo visto não quer, porque informação é poder. Nas escolas, muitas vezes, a gente não tem aula sobre o assunto com frequência e quando tem, é algo muito superficial. Uma aula como esta ajuda muita a entender”, opina a jovem.

Moradora da cidade de Paulista, Região Metropolitana do Recife, Beatriz Santiago (à esquerda da foto, e sua amiga Beatriz Percílio de amarelo), 16, foi à Rua da Aurora acompanhar o aulão. Para ela, a ação é bastante positiva. “Achei maravilhoso, principalmente para quem está precisando de umas aulas e não tem condições de pagar por isso. É muito importante para a educação”, disse a estudante.

Convidado especial para conduzir a aula deste domingo, o professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) Paulo César Gomes ressaltou a aula como ação urbana, além do seu cunho histórico, político e social.  “Há a ocupação do espaço público e ao mesmo tempo é possível falar sobre o tema que tem se tornado cada vez mais recente, não só pela Ditadura Militar, mas pela permanência autoritária no momento presente e de que maneira essas pessoas podem ser vinculadas e como a história pode nos ajudar a compreender como chegamos até aqui. Tudo isso neste momento em que a gente observa o crescimento de movimentos autoritários e até mesmo fascistas”, declarou Paulo César.

As próximas edições do projeto ‘História ao Ar Livre’ podem ser vistas na página oficial da iniciativa. Confira no vídeo a seguir alguns momentos do evento:

Embed:

COMENTÁRIOS dos leitores