Não é novidade que o excesso de trabalho faz mal para saúde das pessoas. Durante a pandemia, pudemos observar o esgotamento de profissionais da área de saúde pela carga horária de trabalho interminável. Foi assim que a Síndrome de Burnout ou síndrome do esgotamento ficou mais popular. Apesar de ser comumente vista em adultos e relacionada ao trabalho, ela começou a ser observada também em adolescentes em época de vestibular. 

Segundo a psicóloga Bruna Marinho, a rotina atual em que envolve alta performance, alto rendimento e muita informação fez com o que a síndrome começasse a ser observada em outros grupos e os estudantes, principalmente em época de vestibular, foram um dos mais acometidos. “É colocada muita pressão em estudantes de vestibular para estudar, conseguir a aprovação cedo e por ter que decidir rapidamente sua vida profissional”, afirma ao Vai Cair No Enem.  

Stella Avelino, psicóloga especialista em terapia cognitivo-comportamental (TCC), afirma que a pandemia agravou a situação, pois fez com que a rotina de estudos tivesse uma carga horária maior do que o normal. “No caso dos estudantes, a síndrome pode estar relacionada a carga horária excessiva gerando sintomas como desânimo, isolamento social, baixa auto-estima, problemas com o sono, irritabilidade e apatia”, explica. 

“A pandemia pode ter potencializado esse problema devido ao isolamento social. Isso fez com que o tempo de estudo fosse mais prolongado do que o que seria se esse estudante tivesse se deslocando para a escola ou cursinho. A convivência com os colegas também é importante para gerar momentos de lazer. Fora isso, em casa, os estímulos e distrações podem ser um problema para que esse estudante consiga se concentrar e isso gera mais estresse”, completa Stella Avelino. 

Diferente do que se pensa, a Síndrome de Burnout não acontece apenas por uma demanda enorme de assuntos para estudar ou cobranças externas ao estudante, mas a própria auto-cobrança que o aluno faz consigo. Stella Avelino pontua que levantamentos mostram que a reação ao estresse nessa situação é estudar ainda mais. “As pesquisas apontam que o Burnout acontece em trabalhadores muito motivados que reagem ao estresse do trabalho trabalhando ainda mais até entrar em colapso. No caso dos estudantes, seria estudando ainda mais”, diz.

Bruna Marinho afirma que o estudante que está próximo ao esgotamento começa apresentar muito cansaço físico e mental, um esgotamento em relação as tarefas relacionadas a vida acadêmica, mudanças de humor como irritabilidade, alterações de comportamento. Além disso, o aluno começa a querer evitar tudo relacionado por causar um mal-estar: “Quando ligado ao trabalho, a pessoa começa a não querer ficar mais naquele ambiente, não querer mais trabalhar, porque aquele ambiente traz diversas sensações desconfortáveis. No caso do estudante, acontece o mesmo”, pontua. 

Para prevenir que o estudante chegue nesse ponto e comprometa seu desemprenho no vestibular, Bruna aconselha: “Respeite as pausas dos estudos, faça um cronograma que respeite essas pausas e preencha esses espaços com coisas que fazem sentido para você como uma praia ou um tempo ocioso. A gente vive numa sociedade que o descanso não é bem visto, frases como ‘trabalhe enquanto eles descansam’ são populares, levando as pessoas a crer que quanto mais trabalho mais conquistas materiais a pessoa tem e isso não leva em conta o quanto é custoso para saúde mental.”, afirma a psicóloga. 

“Respeite seus limites, mantenha o equilíbrio, não vire madrugadas estudando, tenha uma alimentação balanceada, pratique exercícios físicos, faça atividades de relaxamento como meditação e disponha do serviço socioemociocinal que a escola pode oferecer”, disse Stella. “Se achar que já deu, se já estudou aquela quantidade ‘x’ de horas por dia, para, descansa, o cérebro  precisa de um tempo para fixar o que foi aprendido. Seu rendimento com toda certeza será melhor se você descansar e recomeçar no outro dia do que ficar forçando a estudar cansado.”, completa Bruna.

Se você está sentindo que já está com o Burnout, as profissionais recomendam que você procure um psicólogo ou psiquiatra para darem o diagnóstico com precisão e, se necessário, iniciar um tratamento psicoterapêutico. O importante é não deixar de buscar ajuda.