Novo Ensino Médio: veja o que pensam professores e alunos

Confira quais as principais mudanças e o que pensam os professores e alunos sobre o novo modelo de ensino

por Thaynara Andrade sex, 14/01/2022 - 10:43
Júlio Gomes/LeiaJáImagens/Arquivo Novo Ensino Médio será implantado a partir deste ano Júlio Gomes/LeiaJáImagens/Arquivo

O mundo mudou, mas a escola permaneceu com os mesmos métodos de ensino, currículos rígidos de conteúdos e uma rotina pouco atraente para a parte dos estudantes. Na tentativa de mudar essa realidade e incentivar a permanência dos jovens na escola, o Ministério da Educação (MEC), propôs o Novo Ensino Médio, modelo que terá início neste ano de 2022 e oferecerá um aprendizado alinhado ao mercado de trabalho. 

Segundo o levantamento da organização Todos Pela Educação, os números de evasão escolar no Brasil cresceram 171% em 2021 em comparação com o ano de 2019, o que demonstra uma necessidade antiga, mas ainda atual, de re:ver o caminho percorrido pela educação básica. De acordo com o Secretário Executivo do MEC, Victor Godoy,  o novo modelo terá o papel de fazer o ensino médio ficar mais próximo das necessidades dos alunos.

“Há aspectos que irão preparar o estudante para lidar com o planejamento de estudos em sua jornada escolar e profissional ao longo da vida. Dentre as expectativas, está a ampliação da implantação do ensino profissionalizante, tornar o ensino médio mais atrativo, reduzir os índices de evasão escolar e melhorar os índices de qualidade na educação brasileira”, afirma Godoy.

Para esclarecer o que será o Novo Ensino Médio e como ele funcionará, o LeiaJá responde a algumas dúvidas. Confira:

O que é Novo Ensino Médio 

É um novo modelo de aprendizagem no qual o estudante terá acesso aos conhecimentos essenciais em conjunto com uma formação técnica e profissionalizante. Para isso será implementada uma nova organização curricular, permitindo ao aluno a escolha de quais campos do conhecimento ele pretende se dedicar, conquistando, ao final da sua formação, o certificado regular acompanhado de um certificado de curso técnico ou profissionalizante.

Mudança na carga horária 



Com a iniciativa, a carga horária mínima será ampliada das atuais 800 horas para 1000 horas anuais, chegando a 3000 horas ao fim do ensino médio. Dessa forma, os estudantes terão que dedicar mais tempo aos estudos, ou seja, em vez de 4 horas de aulas por dia passarão a ser 5 horas. 

Essas horas serão distribuídas ao longo dos três anos, em cerca de 60% para os conteúdos essenciais, no caso 1800 horas-aulas, e outros 40%  para os itinerários formativos que irão ocupar 1200 horas-aulas.

Conteúdos 

O componente curricular será composto pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e pelos itinerários formativos. Segundo o MEC, não haverá exclusão de disciplinas mas sim a reformulação das mesmas em quatro áreas de conhecimentos, assim como já é feito no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), são elas: 

- Linguagens e suas Tecnologias

- Ciências Humanas e Sociais Aplicadas

- Matemática e suas Tecnologias

- Ciências da Natureza e suas Tecnologias

Já os itinerários formativos, que terão duração de 1200 horas, dizem respeito a um conjunto de unidades curriculares que serão ofertadas segundo a escolha das respectivas instituições de ensino, cada uma deverá oferecer ao menos duas formações, obrigatoriamente. Esses itinerários podem aprofundar os conhecimentos das quatro competências da BNCC ou proporcionar uma formação técnica e profissional (FTP). 

O grande diferencial é que o estudante terá autonomia para escolher a qual itinerário irá se dedicar durante seu ensino médio, havendo um alinhamento dessa formação com suas próprias aptidões como indivíduo e pretensões profissionais.

Como será implementado 

O Novo Ensino Médio será implementado de forma progressiva e tem início neste ano de 2022 para as escolas públicas e particulares. Confira o cronograma disponibilizado pelo MEC: 

1) No ano de 2022: implementação dos referenciais curriculares no 1º ano do ensino médio.

2) No ano de 2023: implementação dos referenciais curriculares nos 1º e 2º anos do ensino médio.

3) No ano de 2024: implementação dos referenciais curriculares em todos os anos do ensino médio.

4) Nos anos de 2022 a 2024: monitoramento da implementação dos referenciais curriculares e da formação continuada aos profissionais da educação.

O que pensam os professores e alunos 

O LeiaJá também conversou com alguns professores que atuam no ensino médio para saber suas opiniões e interrogações sobre o novo modelo. Segundo a professora de língua portuguesa e redação, Beth Andrade, a medida torna a educação mais próxima das necessidades reais dos estudantes atuais.

“É possível perceber que é consoante ao que o Enem vem trabalhando há muitos anos, vai existir essa linearidade com o exame que o aluno estuda o ensino médio inteiro para prestar lá no final e seguir na carreira. Além disso, dá um direcionamento também ao aluno, faz a escola ficar mais interessante, ficar mais conectada com a realidade da vida de cada estudante”, ressalta. 

O Novo Ensino Médio é uma mudança complexa, que precisa do envolvimento de todas as partes que compõem o sistema educacional, desde os órgãos responsáveis até os alunos e professores que irão vivenciar essa transição no dia a dia. Para a professora Beth Andrade, a ideia é positiva, mas existem ressalvas.

“Na teoria, é uma mudança muito atrativa para professores e alunos, porém, na prática, a gente tem o receio se isso realmente irá funcionar em todas as escolas, inicialmente causa um espanto em caso de não haver o suporte adequado", revela Beth Andrade.

A professora ainda ressalta a preocupação com as desigualdades existentes entre as escolas. "Tem o desafio da falta de investimento na formação dos professores e na infraestrutura para suporte desse aumento de carga horária e, consequente, aumento do tempo dos alunos na escola. É preciso haver uma formação assertiva, unânime, existe uma discrepância entre a rede pública e privada, o que é um dos maiores desafios", explica.

O professor de história Everaldo Chaves também demonstrou uma expectativa positiva para o Novo Ensino Médio. “Acredito que a mudança será válida, tornando o ensino básico mais próximo dos anseios dos estudantes, ao mesmo tempo em que gera uma maior autonomia pedagógica e possibilita um protagonismo para os discentes", diz. 

Para o professor,, o desafio também será a preparação de todas as partes para esse novo modelo. “O maior desafio será a adaptação, sem dúvidas. Toda mudança gera uma relativa insegurança junto à comunidade educacional. Para tanto, se faz necessário todo empenho das escolas e poder público para a formação de todos os agentes envolvidos, possibilitando a criação de novas habilidades no menor tempo possível", explica Everaldo.

Com um currículo mais atual, que qualifica o jovem para o mercado de trabalho e ainda oferece uma formação mais alinhada ao Enem, o Novo Ensino Médio é um desafio para todos, inclusive para os estudantes.

Segundo a aluna Alice Padrão, que irá iniciar o 1º ano em 2022, a mudança traz expectativas mas também receios. “Espero que este Novo Ensino Médio venha a melhorar a vida dos estudantes, estimulando eles a gostarem de estudar e se dedicarem ao assunto que têm preferência, mas não deixando de lado as outras matérias. Eu estou bastante receosa sobre esse novo ensino médio pois com ele vem diversas outras mudanças.”, explica. 

Alice ainda destaca suas dúvidas sobre essa nova estrutura: “Para mim seria ótimo ter mais aulas e aprofundar certas matérias que tenho maior afinidade e que vão me preparar para o curso que eu escolher na universidade. Porém, ao mesmo tempo, não sei se diminuir a carga horária de certas matérias (mesmo aquelas que eu não preciso tanto) sejam o ideal a se fazer”, finaliza a estudante.

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