Reutilização de questões no Enem pode ser prejudicial, explicam especialistas

De acordo com a opinião dos especialistas, a medida abre espaço para que seja questionada a fragilização do processo seletivo mais importante e mais esperado pelos estudantes brasileiros que sonham com uma vaga no ensino superior
A reutilização de questões antigas vai de encontro às mudanças no novo Enem e no Novo Ensino Médio - Júlio Gomes/LeiaJáImagens/Arquivo

O Ministério da Educação é coberto por situações polêmicas e muitas envolvem o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A mais recente diz respeito a um documento enviado por gestores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), à direção do órgão, com o pedido para que seja realizado um reaproveitamento de questões antigas do Enem, com a justificativa de não haver enunciados suficientes no Banco Nacional de Itens (BNI), para elaboração de futuros exames. 

Tal medida abre espaço para que seja questionada a fragilização do processo seletivo mais importante e mais esperado pelos estudantes brasileiros que sonham com uma vaga no ensino superior. Para saber as repercussões desse caso, o Vai Cair No Enem conversou com alguns profissionais de educação que atuam diretamente na preparação dos alunos para o Exame.

Para o coordenador educacional do colégio GGE, José Veiga Neto, a precarização do exame é perceptível. “Essa medida demonstra um total descaso com um dos maiores, senão o maior evento da educação brasileira. Além de ressaltar a falta de planejamento e o desdém com os estudantes que se preparam, enfrentando muitas vezes todos os tipos de adversidades”, afirma. 

Além disso, o coordenador chama a atenção para a contrariedade dessa falta de planejamento do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) - autarquia organizadora da prova - com as propostas apresentadas para o Novo Ensino Médio e para o próprio Enem. As mudanças teriam como finalidade incentivar os estudantes a buscarem um aprendizado mais autônomo e focado na resolução de problemas reais. Com essa repetição de questões, seria incitado na verdade, a busca por decorações de enunciados.

“Além disso, sobretudo, a medida vai de encontro com o que promulga a BNCC [Base Nacional Comum Curricular] e o Novo Ensino Médio, pois poderá gerar nos alunos uma busca desenfreada em decorar as questões dos exames anteriores, na esperança das repetições dos quesitos e não na preocupação do desenvolvimento das habilidades e competências para resolução das situações-problema. Por isso, ocorreria, sim, a precarização do Enem, não só na prova, mas na confiança dos estudantes nas políticas públicas”, esclarece.

De acordo com José Veiga, essa insuficiência de questões demonstra claramente a falta de planejamento, expondo que durante os últimos anos não houve preocupação do Inep em repor a Base Nacional de Itens (BNI). Para ele, o país enfrenta uma crise da educação e da cultura, a qual afetará não só a credibilidade do exame, mas também a eficácia na verificação da proficiência dos alunos. 

O Vai Cair No Enem também conversou com a professora de língua portuguesa e redação, Katilini Oliveira, que reitera a preocupação com o exame. “Assim como toda seleção, o Enem sempre prezou pelo ineditismo na elaboração de questões, como também na temática abordada na redação. Reutilizar questões de edições anteriores implica não só a fragilização do exame, como também, não traz para a prova novas temáticas e reflexões  relevantes, que são pautas de discussão na sociedade contemporânea”, explica.

A docente também demonstra receio quanto à defraudação da prova. “É urgente a formação de uma nova banca para a renovação de questões do Inep, a maioria dos enunciados antigos já estão disponíveis em sites e portais na internet. A lisura do exame deve começar na própria elaboração de novas questões, do contrário, além de ferir a legitimidade, é um caso de desrespeito aos estudantes, professores e instituições de ensino do país”, afirma.

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