Veja como elaborar uma conclusão menos clichê no Enem

Professores de redação explicam como surpreender os corretores ao fugir de ideias prontas na construção da sua proposta de intervenção

por Thaynara Andrade qua, 08/06/2022 - 16:28
Júlio Gomes/LeiaJá Imagens/Arquivo A redação é uma das disciplinas mais importantes da prova do Enem Júlio Gomes/LeiaJá Imagens/Arquivo

A redação dissertativo-argumentativa cobrada no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é de gênero discursivo, que se caracteriza pela defesa de um ponto de vista através da argumentação. Dessa maneira, é importante que o estudante tenha em mente que, apesar da defesa da tese ao longo do texto ser de inquestionável importância, será na conclusão que ele dará o desfecho da sua ideia central e demonstrará aos corretores que realmente tem o caminho para a solução do problema.

Isto posto, é um erro grave quando o participante do Enem chega até o final do texto com uma proposta de intervenção enfraquecida, o que acontece bastante quando são abordadas ideias clichês na elaboração da solução. Uma muito comum é delegar ao governo a responsabilidade de resolver o problema, mas nem ao menos informar qual seria o ministério adequado para isso ou como isso deveria ser feito.

Para evitar esse erro e ajudar os estudantes na escrita de uma conclusão mais interessante e inovadora, sem repetir clichês que provavelmente estarão na redação de milhares de participantes, o LeiaJá conversou com professores de Língua Portuguesa e Redação que explicaram um pouco sobre o que é esperado na conclusão do Enem e quais são as alternativas para fugir dessas ideias prontas.

Com embasamento e sem clichês

De acordo com a professora de Língua Portuguesa, Carliria Fumeiro, a conclusão é responsável pela síntese do texto. “A conclusão é a parte da redação em que o candidato deve resumir as ideias expostas e trazer uma possível proposta de intervenção. Um dos critérios mais observados na correção do Enem é a necessidade do estudante trazer uma proposta de intervenção não utópica, ou seja, atingível e eficaz. Ela deve ser articulada com o texto e detalhada”, frisa a docente.

Para isso, a professora cita três elementos que são fundamentais para elaborar uma proposta de intervenção factível e, assim, fugir de soluções vazias. São elas: Agente (quem vai fazer); Ação (o que poderá ser feito); Meio, modo (como poderá ser desenvolvido) e Finalidade (Para quê), seguido do detalhamento de um desses itens.

Enquanto aos clichês, Carliria cita como exemplo a expressão “negligência do governo”, que é muito presente nas redações. Para evitar esses erros, ela indica a estratégia de usar o próprio texto para formular uma ideia de intervenção. “É bom ler com atenção os textos motivadores, pois muitas vezes o próprio texto já traz as ações governamentais que visam sanar ou minimizar a problemática.”

“No último Enem, por exemplo, o tema era 'Invisibilidade e Registro Civil: Garantia de Acesso à Cidadania no Brasi'l e os textos tinham informações valiosas. No texto motivador um, mostrava que já é uma lei antiga a gratuidade do documento e o texto motivador dois mostrava que o governo ajudava na locomoção das pessoas disponibilizando para elas um ônibus para as levarem até os cartórios. Então, jogar sempre a culpa ou total responsabilidade no governo é um clichê. Pois, existem várias causas e muitos outros culpados para cada problema social” esclarece.

O professor de redação Felipe Rodrigues, explicou o que é esperado pelos corretores no encerramento da redação: “No Enem é preciso realizar a retomada da tese, a inserção da proposta de intervenção e o fechamento textual que serve como solução, fazendo uma ponte futurista, tentando um encaminhamento argumentativo para que você faça uma ligação com o que você trouxe na introdução e também resolva os problemas de forma atual.”

Para Felipe, uma boa saída para não cair em clichês é ser real, como se o participante imaginasse sua proposta de intervenção ouvida no rádio, vista em blogs, em páginas do Instagram e visualizasse que o mecanismo de solução que ele criou realmente ajudaria na diminuição do problema social proposto pelo Enem.

“Uma dica que eu dou é que o aluno traga consigo elementos que ele utiliza em seu cotidiano, como a tecnologia e a educação. E ele precisa trazer com propriedade, saber qual o ministério, entidade ou ONG irá realizar esse trabalho. Por isso, é importante a construção de repertório, porque o estudante precisa adentrar nesse mundo para se chegar numa proposta de intervenção, ele precisa conhecer esse meio educacional para poder criar”, conclui. 

Já a professora de português Marcela Silva explicou que uma conclusão perfeita precisa usar conectivos conclusivos, retomar a tese defendida, fazer uma proposta de intervenção e, se o estudante assim desejar, finalizar com um repertório sociocultural. Para fugir dos clichês, ela cita alguns agentes que podem ser citados como os Ministérios, ONGs,  Mídia, Instituições, Família, Escola e Sociedade.

A professora ainda citou um exemplo de conclusão de uma redação nota 1000 que pode servir de inspiração para os concorrentes no Enem 2022. Confira:

“Portanto, é impreterível que o Ministério da Infraestrutura, em parceria com o Ministério da Cultura, construa cinemas públicos, por meio da utilização de verbas governamentais, a fim de atender a população que não pode pagar por esse serviço, fazendo com que, assim, o acesso ao cinema seja democratizado e essa parcela da sociedade deixe de usufruir apenas de uma "Cidadania de Papel”. (Stella Terra)

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