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Notas XIII: Marthe Roberts, sobre o romance

Cristiano Ramos, | ter, 06/12/2011 - 22:50
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Nas terças e quintas-feiras, Redor da Prosa traz algo bem mais valioso do que meus escritos: textos literários ou teóricos – vozes tiradas dessas estantes que, assim como seu dono, quase não dormem. Hoje, Marthe Roberts, sobre o romance:

“A fortuna histórica do romance deve-se evidentemente aos privilégios exorbitantes que a literatura e a realidade lhe concederam ambas com a mesma generosidade. Da literatura, o romance faz vigorosamente o que quer: nada o impede de utilizar para seus próprios fins a descrição, a narração, o drama, o ensaio, o comentário, o monólogo, o discurso; nem de ser a seu bel-prazer, sucessiva ou simultaneamente, fábula, história, apólogo, idílio, crônica, conto, epopéia; nenhuma prescrição, nenhuma proibição vem limitá-lo na escolha de um tema, um cenário, um tempo, um espaço; nada em absoluto o obriga a observar o único interdito ao qual se submete em geral, o que determina sua vocação prosaica: ele pode, se julgar necessário, conter poemas ou simplesmente ser “poético”. Quanto ao mundo real com que mantém relações mais estreitas que qualquer outra forma de arte, permite-se-lhe pintá-lo fielmente, deformá-lo, conservar ou falsear suas proporções e cores, julgá-lo; pode até mesmo tomar a palavra em seu nome e pretender mudar a vida exclusivamente pela evocação que faz dela no seio do mundo fictício. Se fizer questão, é livre para se sentir responsável por seu julgamento ou sua descrição, mas nada o obriga a isso: nem a literatura nem a vida pedem-lhe contas da forma como explora seus bens”.

“Para o romancista, portanto, o romance tira sua força precisamente de sua absoluta liberdade; para o crítico, essa liberdade tem algo de escandaloso, não podendo aceitá-la sem nela introduzir pelo menos alguns limites, disposto a se basear neles para substituir as regras que lhe faltam sobre seus sentimentos, seus gostos, seu humor (o que faz, não raro, sem se dar conta, ao erigir, segundo a fórmula de Remy de Gourmont, ‘seu gosto em lei’)”.

As duas citações estão no livro Romance das origens, origens do romance (Cosac Naify, 2007). A primeira, nas páginas 13 e 14; a segunda, página 16.

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