A História da Literatura Brasileira (Editora Leya, R$ 99,99), de Carlos Nejar, assim como algumas outras, serve para quase nada. Depois de constatar o fato, leitor pode doar para alguma biblioteca, bem carente, onde visitantes não tenham acesso a computador com internet, ou trocar por outros usados –quem sabe o dono do sebo não se deixa enganar pelo tamanho do livro e beleza da capa?
Sempre achei cruel, desnecessário mesmo, afirmar que trabalho de alguém não tem utilidade. Mas, com toda boa vontade que rode por esse mundo, qual razão de ser de uma História da Literatura que dedica meia, uma ou duas páginas para cada escritor? Como se não bastasse, esses “verbetes” trazem novidade nenhuma, são resumos de coisas já ditas, mais-do-mesmo que o poeta Carlos Nejar floreia, cobre com frases de efeito que oscilam entre a incoerência e a inocuidade.
Nem sempre foi assim. Houve tempo em que a simples listagem de autores, obras, datas e fichas de leitura justificava publicação. Para consulta. Ponto de partida ou lugar de tirar dúvida menor. A internet, no entanto, com seus sites de busca e enciclopédias virtuais, resolve essas demandas mais rasteiras, com a vantagem de que pode ser constantemente atualizada.
Para quem ainda não tem como navegar na rede mundial de computadores, livros como a História Concisa da Literatura Brasileira, de Alfredo Bosi, estão lá, na maioria das bibliotecas. Bosi ainda é a melhor escolha para quem deseja uma panorâmica ligeira de nossa produção, passada sem maiores desdobramentos, com didática e poder sugestivo suficientes.
Foi o próprio Bosi quem sugeriu a conquista de Carlos Nejar: “o largo espaço concedido à literatura contemporânea”. Largo é o coração de Alfredo Bosi, onde o amigo Nejar reside e goza de fraternos privilégios. Porque somente algum escritor muito deslumbrado e carente pode se sentir razoavelmente contemplado por uma citação de dez ou vinte linhas. Paulo Leminski e Francisco Alvim, por exemplo, estão nas páginas 988 e 989, com margens largas e dois poemas transcritos! Por aí, calcule-se que análises foram dedicadas aos poetas. Menos sorte ainda tiveram Ângelo Monteiro e outros tantos, que não mereceram sequer página inteira.
Nem escrevo sobre as ausências, pois são inevitáveis. Para dizer a verdade, no caso desta História da Literatura Brasileira, devem até sentir alívio. Além de não servirem de piada nos campeonatos informais de menor espaço recebido na obra, não correm risco de Nejar cometer qualquer gafe, com seus aforismos-pseudo-poéticos que mais servem à vaidade do poeta do que a qualquer outro propósito.
Grave é que tal exercício de vaidade foi patrocinado pelo Ministério da Cultura. É nosso dinheiro sendo gasto em 1100 páginas que valem bem menos do que pesam. Não julgo o caráter ou as intenções de Carlos Nejar. Até acredito que são legítimos. Cabe, porém, que a seleção da Fundação Biblioteca Nacional seja movida por outros critérios, que não a popularidade ou o lobby em torno dos autores.
O tema “histórias da literatura” requer longa série de reflexões. Entretanto, no comedido fôlego desta coluna (falando em brevidade), não custa perguntar: por que não escrever estudos com menos autores, com recorte onde menos obras analisadas, mas que ofereçam profundidade, desdobramentos e trilhas a serem percorridas, enriquecendo a experiência do leitor?
Responder antecipadamente também não custa: é porque, neste caso, menos é mais – dá muito mais trabalho, exige muito mais pesquisa, cobra bem mais responsabilidades.