Depois de décadas de estagnação o mercado imobiliário brasileiro nos últimos anos viveu um “boom” em função de um programa de financiamento habitacional governamental que tinha por objetivo minimizar o elevado déficit habitacional presente no país.
No entanto, tal expansão não foi acompanhada de algumas pré-condições que garantiriam um crescimento equilibrado do mercado: desenvolvimento de projetos habitacionais abrangentes; estudo de mercado que revelasse as preferências da demanda potencial; limitação da renda das famílias e ausência de planejamento financeiro dos consumidores. Estas deficiências e a natural elevação na demanda resultante da expansão do crédito geraram uma corrida especulativa em tal segmento que elevou o preço dos imóveis. Ou seja, o sonho de milhões de brasileiros (aquisição da casa própria) continua distante.
Uma questão que muitos leitores devem estar se fazendo é a seguinte: Apesar das maiores facilidades de crédito e condições de pagamento, por que ainda está tão caro adquirir um imóvel?
Vejamos algumas possíveis razões:
- Perfil de imóvel que não atende a demanda do mercado;
No que tange a primeira razão, há uma clara discrepância entre o imóvel que o consumidor deseja adquirir e o tipo de imóvel ofertado pelo mercado. Segundo dados da PMEC-IPMN de jan/2013, dentre os entrevistados que desejavam adquirir um imóvel 57% pretendiam adquirir uma casa e 33% apartamento, fato que difere consideravelmente do perfil de lançamentos imobiliários dos últimos anos, nos quais há um franco predomínio do lançamento de apartamentos.
O perfil básico do imóvel pretendido pelo recifense possui: 3 quartos, 2 banheiros e uma vaga na garagem, perfil que também é bem distinto dos apartamentos de preço mais popular recentemente lançados na região.
A localização dos terrenos para lançamentos também é outro fator discrepante, pois os bairros de renda média e alta elevada são os locais preferidos para os lançamentos de novos empreendimentos na região. No entanto, a maior parcela da demanda potencial de imóveis está nas regiões mais populares da cidade e tais consumidores pretendem ficar em suas regiões. Os 5 bairros com maior demanda potencial possuem 37,7% da demanda total de Recife, destes 66% estão situadas em bairros mais populares da cidade.
- Estímulo do lado da demanda sem a devida preparação da oferta da economia;
A ausência de um planejamento urbano, de uma política de incentivo a produção de materiais de construção e de qualificação e recrutamento de mão de obra elevaram os custos de produção, fato que associado ao natural aumento da demanda elevaram em demasia o preço do m² nos quatro cantos do Brasil.
- Comprometimento da renda e incapacidade de pagamento;
O aumento do rendimento do brasileiro tem proporcionado o consumo de variados tipos de bens duráveis, produtos até então pouco acessíveis para um amplo contingente da população. Neste contexto, a prestação do carro e dos duráveis recentemente adquiridos concorre com a prestação à casa própria.
A baixa capacidade de pagamento dos consumidores está associada ao baixo nível médio de rendimento, dentre as famílias recifenses a renda familiar mais frequente é 2 salários mínimos por mês, ou seja, pouco mais de R$ 1.350,00 mensais. Tal montante de rendimento torna praticamente inviável o financiamento de um dos lançamentos mais baratos na Região Metropolitana do Recife, algo em torno de R$ 130.000,00, apesar de todo o subsídio concedido pelo governo para tal faixa de renda.
Assim, existe crédito disponível, mas, não existem imóveis que atendam a demanda do consumidor e sejam compatíveis com o seu orçamento, logo o imóvel ainda é um sonho distante.