Maracatus ensaiam para celebrar a chegada do Carnaval

Músico Naná Vasconcelos reuniu cerca de 300 batuqueiros de 10 nações de maracatus

seg, 09/01/2012 - 11:20
Marionaldo Junior/LeiaJá Imagens Sob sua regência, Naná fez a festa na tarde de ontem (8), em evento gratuito, no Parque Dona Lindu Marionaldo Junior/LeiaJá Imagens

Por Karolina Pacheco

Os moradores do bairro de Boa Viagem, na zona sul do Recife, escutaram na tarde deste domingo (8), uma trilha sonora diferente ecoar pela orla da praia. Toadas de alfaias e abês transmitiam energia por todos os lados, anunciando a chegada do carnaval. Isso porque, pela primeira vez, o tradicional ensaio das nações de maracatu de baque virado, regidas pelo consagrado músico pernambucano Naná Vasconcelos, aconteceu no Parque Dona Lindu, à beira mar, ao invés do tradicional bairro do Recife Antigo.

Naná, que comandou cerca de 300 batuqueiros (e desde 2002 é o convidado da Prefeitura do Recife para a cerimonia de abertura dos carnavais da cidade) falou sobre a importância do maracatu e o momento que o ritmo tem vivido no estado. “O maracatu já quebrou muitos preconceitos. Antes era só para o morro, agora tem gente de todo o Brasil, do mundo. Tem ganhado bastante espaço e é muito importante termos essa abertura do carnaval do Recife, valorizando o que é nosso. Também gostei de vir ensaiar aqui pertinho do mar, de Yemanjá, quero isso mais vezes”, afirma o cantor que, durante o ensaio, recebeu o Maestro Forró, regente da Orquesta Popular da Bomba do Hemetério, tocando seus frevos no trompete e o grupo Voz Nagô, composto por setes mulheres que cantam loas de maracatus.

O maracatu Raízes de Pai Adão, que nasceu em 1998, foi uma das dez nações presentes no evento. Ele foi fundado a partir do terreiro Ilé Iyemojá Ògúnté, que já existe há 25 anos e fica localizado em Água Fria. Itaiguara Costa, presidente do grupo, afirma que esse encontro é importante, pois fortalece a cultura e o maracatu, que ainda precisa de maior divulgação e reconhecimento pelo público. O cantor Cannibal, vocalista da banda Devotos e agitador cultural da cidade, também foi espectador do evento, com sua filha Maria Vitória. Ele ressaltou a importância do maracatu não acontecer apenas no período carnavalesco. “Eu acho que essa movimentação bonita vai além do carnaval do Recife. Temos os terreiros, comunidades e no interior, é o ano todo que acontece, é uma cultura que vem sendo preservada”, afirma.

Todas as nações que normalmente costumam se encontrar no carnaval para "disputar" entre si, tocaram em uníssono sob o comando de Naná. O engenheiro mecânico Rubem Maranhão é paulista e tem 47 anos, toca há seis no Maracatu Estrela Brilhante, do Alto José do Pinho, e comenta a relevância da reunião. “As nações gostam de ensaiar com Naná. Sempre, todo mundo, comparece. Ele faz uma miscigenação de ritmos como afoxé, frevo, baião... É uma grande diversão, diferente do que a gente costuma ensaiar nas comunidades que são mais as surpresas para o desfile e competição”, declara.

Foi uma celebração não somente do carnaval, mas principalmente da força da cultura popular pernambucana. Não foram apenas as nações de maracatu que se agregaram, nem só a música. Todos os pernambucanos presentes estiveram juntos, unidos pelo que têm de mais valor: as suas raízes.

 

Parque Dona Lindu - Característico por ter um público bastante variado, de todas as classes sociais e de diferentes tribos, foi exatamente este o público que lotou o pátio, na área da esplanada. Haviam muitas famílias que foram prestigiar o evento e se aquecer para o carnaval do Recife. O Bacharel em Direito, Marlus Queiroz, 35, levou sua esposa e filha para assistir ao ensaio e se mostrou empolgado com o que está por vir. “Um evento cultural importante de Pernambuco, mostra a força que tem o carnaval do estado, onde todos podem brincar independentemente da classe social. Todo mundo interage e é por isso que temos o melhor carnaval do mundo”, elogia.

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