Entrevista de Pasolini é encontrada após 36 anos
Registro de entrevista inédita do cineasta é publicada na íntegra pelo jornal italiano L'Espresso
Quem gosta de cinema italiano tem novidade pairando no ar: uma entrevista inédita do cineasta Pier Paolo Pasolini (1922-1975), gravada para a rádio nacional sueca - três dias antes de seu falecimento e, posteriormente, dada como perdida - foi encontrada e publicada na íntegra pelo jornal italiano L’Espresso, no mês passado.
Quem achou o registro foi Carl Henrik Svenstedt, tradutor sueco de Pasolini. Algumas falas fortes do cineasta, que discutiu com vários críticos suecos na ocasião, podem agora ser conhecidas. Ele afirma, por exemplo: “Considero o consumismo um fascismo pior do que o clássico, porque o fascismo clerical não transformou os italianos, não se entranhou neles. Era um estado totalitário mas não um estado totalizante”.
A entrevista tem duração de 75 minutos, utilizados por Pasolini com o intuito de lamentar a ruína das identidades rurais na Itália e a sua substituição por uma cultura uniformizada. Ele fala ainda de seu último filme, Salò ou 120 Dias de Sodoma. “O sexo é apenas uma alegoria, a metáfora para a transformação do corpo em mercadoria efetuada pelo poder. O consumismo manipula e violenta o corpo tanto quanto o nazismo. O meu filme registra essa coincidência sinistra”.
O cineasta foi assassinado em 2 de novembro de 1975, por um garoto de programa.