As cores e os cheiros da literatura de Jorge Amado

Brasil comemora centenário de nascimento do maior expoente da literatura brasileira

por Felipe Mendes sex, 10/08/2012 - 20:30
Reprodução/Internet Jorge Amado traduziu cores e cheiros do Brasil e de seu povo em sua obra literária Reprodução/Internet

O Brasil é um país em que é lugar comum afirmar que o povo não lê. É um fenômeno, portanto, quando um escritor brasileiro consegue ter êxito comercial, vender tiragens expressivas e ter suas histórias e personagens transformados em assunto de conversas banais e cotidianas das pessoas, resistindo por décadas no imaginário popular. E desta forma, mais que traduzir hábitos, costumes e contradições do país, se tornar um construtor da identidade nacional.

Pois Jorge Amado conseguiu o que pode ser considerado uma façanha no Brasil: sendo um escritor de ofício, fez – e faz – um sucesso estrondoso, alcançando números expressivos na venda de seus livros. A popularidade de Jorge Amado causou não apenas um impacto no Brasil, mas influenciou leitores e escritores em dezenas de países. A obra de Amado já foi publicada em 52 países, sendo traduzida para 49 idiomas.

Em sete décadas de vida literária, colecionou prêmios, amigos, e elogios de alguns dos mais importantes escritores mundiais do século XX, como os vencedores do Nobel de Literatura Gabriel García Márquez e Albert Camus. Mais que isso, Jorge Amado conseguiu se inserir no imaginário brasileiro e ser peça fundamental na construção da identidade cultural nacional, ao trazer para suas histórias personagens com as cores, cheiros e linguagem de uma brasilidade ímpar.

A brasilidade da obra de Amado se manifesta em vários aspectos de suas histórias. Está nos cenários, nos diálogos, na sensualidade tropical de algumas das mais importantes personagens de sua vida literária, como Dona Flor e Gabriela. Está, também, no profundo conhecimento e interação dele com a religiosidade multifacetada do país, bem como na sensibilidade para as mazelas sociais que até hoje ainda fazem parte do cotidiano brasileiro, como os meninos de rua, a pobreza, a violência, os problemas políticos e convenções sociais tantas vezes desnecessárias e até ridículas.

Mesmo se especializando em uma linguagem e temática marcadamente popular, o escritor baiano foi, ao longo da vida, sendo reconhecido pela academia, tornando-se Doutor Honoris Causa por dez universidades no Brasil, Itália, Israel, França e Portugal, incluindo a conceituada Sorbonne. Em 1961, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras e passou a ocupar a cadeira 23, cujo patrono é José de Alencar. Jorge Amado foi ainda indicado pela União Brasileira de Escritores duas vezes para o Prêmio Nobel de Literatura, em 1967 e 1968, mesmo demonstrando que não queria.

Em 6 de agosto de 2001, Jorge Amado morreu em Salvador, capital baiana, aos 89 anos de idade.  Como havia pedido, foi cremado e teve suas cinzas espalhadas ao redor de uma mangueira localizada em sua casa no Rio Vermelho. Foram 36 livros, entre romances, contos, novelas e até obras infanto-juvenis. A primeira delas, publicada em 1931, foi O País do Carnaval, que deu início à caminhada que levaria Jorge Amado ao ponto mais alto da literatura brasileira.

O seu legado, acervo literário, manuscritos, artigos e objetos estão na sede da Fundação Casa de Jorge Amado. Fundada em 1986, a casa foi inaugurada em março de 1987. Além de reunir se acervo, a Fundação também traz as obras de sua esposa, Zélia Gattai, realiza eventos, exposições, além de ações sociais como a distribuição de livros e o atendimento a escolas.

Cores e som

A obra de Jorge Amado inspirou e ainda inspira diversas releituras audiovisuais no cinema e na televisão, o que contribuiu decisivamente para uma popularização ainda maior de sua obra. Dona Flor e seus Dois Maridos, Gabriela Cravo e Canela, Tenda dos Milagres, Tieta do Agreste e Capitães de Areia são alguns de seus livros que viraram filmes, novelas e minisséries televisivas, quase sempre com muito sucesso de público e crítica. Confira as matérias especiais sobre o assunto publicadas pelo LeiaJá aqui e aqui

Política

Desde cedo, Jorge Amado se envolveu com a política, se aproximando do comunismo. A primeira fase de sua obra é impregnada deste posicionamento. A ação política do escritor o levou a ser eleito, em 1945, deputado federal pelo PCB – Partido Comunista Brasileiro, sendo um dos deputados da constituinte do ano seguinte.  Mas também fez com que Jorge Amado amargasse períodos preso. A primeira prisão aconteceu em 1936, durante o governo de Getúlio Vargas, acusado de participar do movimento que ficou conhecido como Intentona Comunista, de 1935. Amado ainda seria detido em outras oportunidades, sempre por motivos políticos.

Em 1948, após ter seu mandato de deputado cassado quando o PCB foi considerado ilegal, partiu para um exílio voluntário em Paris. Na década de 1950, afasta-se da militância política, afirmando que seu engajamento estava atrapalhando seu ofício de escritor.

COMENTÁRIOS dos leitores