Vanessa da Mata reencontra público pernambucano

Cantora lotou o Teatro Guararapes, no último sábado (18), em show do disco 'Bolos, Bicicletas e outras alegrias'

por Marina Suassuna seg, 20/08/2012 - 08:28

Com trinta e cinco minutos de atraso, Vanessa da Mata subiu ao palco do Teatro Guararapes, no último sábado (18), para presentear o público recifense com mais uma apresentação de seu último disco intitulado Bolos, bicicletas e outras alegrias (2010).

O show já havia passado pela capital pernambucana em 2011 no Teatro da UFPE. Esbanjando simpatia, Vanessa mostrou para o que veio desde o primeiro minuto que subiu no palco ao lado de sua banda afiadíssima formada por Gustavo Ruiz (guitarra), Donatinho (teclados), Stephane San Juan (bateria), Maurício Pacheco (guitarra) e Kassin (baixo), que também assina a direção musical do show.

A cantora mato-grossensse abriu o show com a canção Vermelho - sucesso de seu disco anterior - sendo ovacionada pelo público, que praticamente lotou o teatro e não escondeu a sintonia com o trabalho da artista até o último minuto da apresentação. Poupando conversas e respirações, Vanessa emendou a lambada Bolos, bicicletas e outras alegrias e o clássico Não me deixe só como quem não quer deixar escapar o ritmo de uma verdadeira festa.

A cumplicidade da cantora com o público, que foi ao delírio e não deixou de cantar nenhuma música em coro com a artista, tomou conta de todo o espetáculo. Foi difícil não enxergar mãozinhas pra cima e ouvir as palmas incessantes que acompanhavam cada canção. A sensação que fica é que a plateia recifense se identifica com Vanessa e vice-versa, proporcionando uma comunhão de sentimentos e emoções.

No palco, a cantora cria uma atmosfera própria, roubando os olhares e palmas da plateia não só pelas músicas contagiantes e românticas, mas pelos gestos, pelos movimentos e pelo figurino singular: flor no cabelo, colar de miçangas, pés descalços e saia longa, com cujo volume das camadas a artista faz questão de brincar, transmitindo um ar de bagunça leve que remete à infância.

A simplicidade do cotidiano ganha novo sentido nas canções da artista. "A questão da vivência, da infância e do apego estão muito presentes nas músicas de Vanessa. É como se cada canção contasse uma parte da vida dela", declarou o organizador do fã-clube da cantora no Recife, Artur Roberto, 21 anos. Para ele, que conferiu a última apresentação de Bolos, bicicletas e outras alegrias e acompanha a carreira de Vanessa desde o início, este show é um convite à dança. "A turnê anterior era mais cantada. Esse show tem um diferencial porque é mais instrumental. Já sei que vou ter que ficar contido", lamenta. 

Schierley Micaelly, 20 anos, também membro do fã-clube, enche a boca para falar de Vanessa da Mata: "Eu fui assistir o primeiro show dela sem conhecer nenhuma música e me apaixonei de cara. Hoje eu acompanho tudo da vida de Vanessa".



Na primeira pausa, Vanessa falou de Pernambuco com uma propriedade peculiar, citando o Carnaval como inspiração para seu trabalho, além de elementos que caracterizam a cultura local: "É sempre uma alegria voltar aqui e comer um bolo de rolo", disse ela. Em outro momento, a cantora abriu espaço para compartilhar breves histórias que viveu no Recife, além de fazer gracinhas com o público.

O novo repertório, que incluiu canções como O Tal Casal, Bolsa de grife, Meu Aniversário, Moro Longe, entre outras, misturou-se a antigos sucessos como Ainda Bem, Boa Sorte, Ilegais e Amado, esta última cantada de forma intimista, com Vanessa sentada no chão. Em Bolsa de grife, a cantora se perdeu no meio da música e encarou a situação com bom humor: "Gente, eu esqueci de cantar. Também, eu só faço dançar (risos). Uma parada para respirar pode, né?". O público pareceu não se importar com o pequeno deslize. Ao som de Você vai me destruir, a cantora convidou todo mundo a se levantar de suas poltronas e acompanhá-la mais uma vez em uníssono.

Incorporado nos repertórios anteriores da cantora, o sucesso "A Lua e eu" de Cassiano, foi, em mais uma turnê, um dos momentos mais delicados do show, quando Vanessa expressa toda sua capacidade de interpretação com uma sensibilidade que lhe é própria.



Na volta para o bis, Vanessa surpreendeu a todos com a execução de duas canções de Luiz Gonzaga: Pagode russo e Olha pro céu em versão de iêiêiê. "Além de projetar a música do Nordeste para o resto do Brasil, Luiz Gonzaga marcou minha infância com seu depoimento sobre a natureza, o povo, a cultura popular e a própria musicalidade nordestina". Para o jornalista Marcos Enrique Lopes, a homenagem ao Rei do Baião foi um momento significativo do show: "Deu pra ver que o momento não remetia apenas ao centenário de Luiz Gonzaga, mas à mensagem de sua obra. Vanessa demonstrou todo um conhecimento, um rebuscamento, tudo isso teve a mão de Kassin. Tudo fez sentido por causa dele", declarou.

Ao final da apresentação, Vanessa evocou a diversidade de ritmos presentes na música pernambucana e comparou: "A gente tenta trazer para o palco um pouco de cada sentimento desse Brasil". Depois de já ter encerrado a apresentação com "Baú", a cantora não hesitou em atender o último pedido da plateia e fechou com o clássico "Ai, ai, ai" para alegria dos fãs. Vanessa da Mata conseguiu preencher não só as cadeiras do teatro, mas também o coração de cada um que foi ao Centro de Convenções.

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