As intimidades do mar pelas mãos de Maíra Ortins

Artista plástica pernambucana em residência artística no MAMAM no Pátio apresenta resultado de 'Al revés' nesta terça (30)

por Marina Suassuna dom, 28/10/2012 - 12:16

Quem for ao MAMAM no Pátio, localizado no Pátio de São Pedro, nesta terça-feira (30), às 19h, provavelmente irá sentir-se mergulhado num mar de seres míticos e fantásticos, que ganham vida nas paredes do local, graças ao processo criativo que a artista plástica Maíra Ortins vem desenvolvendo. Em residência artística no local desde o dia 8 de outubro, Maíra mostra o resultado de seu projeto de pintura-processo intitulado Al revés.



Diferente de um trabalho de arte urbana como a grafitagem, Al revés, que tem curadoria da cearense Mariana Ratts, expressa, por meio de aquarela na parede, o desdobramento de uma pesquisa desenvolvida por Maíra há cincos, que tem como vertente o mar. "O mar é aquilo que traz as coisas.  É pelo mar que as coisas vêm, mas tambem é pelo mar que as coisas se vão definitivamente e não voltam mais", reflete a artista.

Os personagens de Maíra transitam entre o real e o imaginário com grande influência da literatura do realismo fantástico latino-americano. Muitos são reproduções de fotografias da Biblioteca Nacional do Congresso Americano, manipuladas pela artista. As criaturas habitam uma civilização perdida, que Maíra denominou de Ilha de Pasárgada, uma referência clara a Manuel Bandeira, com quem ela nutre uma forte ligação refletida em suas obras. Segundo a artista, que é formada em Letras, a ideia de reconstruir uma Pasárgada inexistente é o que permeia seu trabalho.

Para Maíra, o mar tem uma possibilidade gigante de imaginação e criação. Não o mar da praia, mais o mar enquanto oceano, profundo. O desenho do mar em movimento veio ganhando contornos de uma maré que, simbolicamente, engole o espaço gradativamente, deixando-o todo azul, principalmente os olhos dos personagens. "Dentro desse trabalho é como se o mar repousasse sobre os olhos", ressalta.Segundo Maíra, o azul denota a solidão do ponto de vista psicológico. Seus personagens não tem nomes, mas cada um tem uma história , contada no blog onaufragosolitario.wordpress.com, que a artista vem alimentando durante o processo.



O Naufrágio solitário é a história por trás de seu personagem principal, um homem que ocupa uma parede inteira do Mamam. "Quando o personagem vê que a ilha vai se destruir e que só ele vai sobreviver, ele se mata e se mune de dois pacotes de mar, que pra ele significa o sonho. Nessa civilização, o mar pode ser empacotado, ele é quase uma geleia, tem vida própria. O personagem prefere morrer boiando, para fazer de seu corpo uma ilha", explica.

Maíra se debruça na filosofia de que todo corpo é uma ilha. "Por mais que nos cerquemos de pessoas, somos sempre seres solitários, o que temos é o nosso corpo. Mas ao mesmo tempo, eu penso por que guardamos o conceito de ilha como um lugar sagrado, inatingível, por que é que toda ilha tem que ser deserta e dar a ideia de solidão?", questiona. Al revés, que significa às avessas em castelhano, aquilo que ocorre de maneira contrária, ganha vida através do transcorrer do tempo, elemento fundamental para a ação do mar.

Com relação ao processo de residência, Maíra, que é pernambucana mas mora em Fortaleza, fala de como o Recife inspirou seu processo. "Como eu não moro aqui há 15 anos, eu estranho tudo. Nesse contexto do centro da cidade, eu estou vivendo o Recife cru, sem máscara, sem nenhum tipo de encantamento. É o Recife como ele é, e isso tem tudo a ver com meu trabalho".

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