Empoderamento e luta contra o machismo no cenário musical
Cantoras Aninha Martins, Sofia Freire, Dani Carmesim e Isadora Melo exaltam seus trabalhos em um cenário que ainda é considerado machista
A suavidade das vozes entoa a delicadeza de uma força que vai além das letras e da interpretação musical. Cantar, compor, criar e, acima de tudo, lutar pelos seus sonhos são algumas das ‘passagens’ escolhidas pelas cantoras Aninha Martins, Isadora Melo, Sofia Freire e Dani Carmesim, que despontam no cenário pernambucano, como as novas vozes.
São mulheres com estilos próprios e essência única, que exaltam em seus trabalhos a representação de uma conquista pessoal e profissional, em um cenário que ainda é considerado machista. Por meio de suas histórias e vivências, as artistas revelaram as principais dificuldades, reações, preconceito e suas conquistas.
Nesta quarta-feira (8), data na qual se comemora o Dia Internacional da Mulher, o LeiaJa.com traz as vivências e o empoderamento de cada uma delas. Sem querer ser rotulada como uma cantora ‘fofinha’, Aninha Martins, de 29 anos, mostra sua força e encara o cenário musical como um terreno fértil para as mulheres, mas que precisa ser explorado e encarado com empoderamento. Com experiência nas áreas de dança e interpretação, Aninha ganha os palcos com uma sinergia única, envolvendo o público com as suas interpretações.
Para Martins, o cenário pernambucano, especificamente, é muito machista. Ela tem a sensação que para ingressar no meio musical é preciso que os homens ‘abram uma concessão para nós mulheres fazermos parte". Em entrevista ao LeiaJá.com, Aninha falou que começou a cantar de forma despretensiosa e só depois de anos percebeu que poderia cantar para outras pessoas. Confira a entrevista e a atuação da artista a seguir:
Com apenas 20 anos, a cantora Sofia Freire sabe exatamente o que quer. Mesmo com pouca idade, a jovem já coleciona prêmios. Entre eles, o Natura Musical, conquistado em 2016, e o Nova Jóias, em 2015. Segundo a artista, o interesse pela música começou quando ela tinha apenas 8 anos. “Sempre gostei de cantar. Na época, lembro que fazia algumas imitações e foi a partir daí que o meu pai perguntou se eu gostaria de fazer aulas de música”, lembra.
A partir daí, a cantora começou a ganhar o seu espaço. Fazendo uma mistura de sons psicodélicos, com o piano e voz, Sofia surpreende pelo seu estilo. Para ela, os seus trabalhos entoam a beleza e dá voz às parcerias com poetas e vários artistas. “É uma criação que é feita em conjunto e que vem ganhando força, nos últimos anos, a partir do meu entendimento profissional e principalmente pessoal”, diz.
Ainda em entrevista, Sofia Freire relata também que o cenário ainda é muito masculino. “Quando entramos no meio musical, percebemos que a maioria dos homens pensa que as mulheres não são capazes e, inclusive fazem comentários machistas, como por exemplo, perguntando se eu realmente consigo fazer tudo sozinha. Se fosse um homem, tenho certeza que seria diferente”, conta.
Para ela, essa realidade acontece em várias áreas da arte. “Na literatura, na música e em diversas áreas de atuação é assim. Uma mulher que tem um excelente trabalho é rotulada de mediana, porém, comparando com alguns trabalhos de alguns homens, tidos como extraordinários não são nem medianos. A realidade é que não há uma igualdade, sempre somos prejulgadas e até rotuladas por sermos mulher”, fala descontente. Conheça o trabalho da pernambucana no vídeo a seguir, que entrou na competição do projeto Natura Musical.
Quem também integra o novo cenário musical feminino e aborda o assunto é Dani Carmesim. A cantora que 'abraça' os estilo rock e pop diz que, além da luta pessoal e profissional, de conquistar o seu espaço, ela precisa provar seu talento. "Uma vez participei de uma seletiva para participar de um festival e quando a produção viu a minha ficha de inscrição, com a indicação do estilo musival, no caso o Rock, já rotulou e disse que eu não poderia tocar o estilo, por ser Rock. Detalhe, ele ainda nem tinha visto o meu trabalho", lamenta. "É exatamente assim, somos rotuladas, julgadas apenas pelo fato de sermos mulheres", complementa.
A artista, que atua de forma independente, confidencia também que além desse preconceito, ainda há a dificuldade do incentivo e da valorização. "Faço tudo na raça, com a ajuda do meu namorado, que me ajuda a gravar e editar todos os meus trabalhos, que são postados na internet. Porém, o que mais machuca o coração é estar cantando em um local e as pessoas ficarem do lado externo só para não pagar R$ 10", conta descontente.
De forma tímida, a cantora Isadora Melo também é uma das vozes femininas que chama atenção, pela leveza. Essa sutileza contrapõe com a intensidade de interpretação que a cantora coloca em suas apresentações. Com suspiros e pausas calculadas, durante os shows, ela encanta o público com os versos cantados dos seus parceiros de trabalho, entre eles Juliano Holanda.
A artista leva a pausa, o suspiro e as entonações como elementos únicos que se costuram no seu primeiro trabalho, intitulado ‘Vestuário’.
Em relação ao machismo, Isadora apontou que as mulheres estão conquistando cada vez mais os seus espaços e essa temática está sendo bastante debatida. "Nós temos uma cena crescente de mulheres fazendo vários trabalhos, inclusive já tiveram inúmeras discussões sobre isso; como por exemplo, no Sonora PE que apresentou as mulheres em funções que, normalmente, são ocupadas por homens, como produtor e holder. Esse tipo de situação é algo que está crescente e é muito importante ressaltar", destaca.
Além disso, Isadora também abordou a questão do machismo no cenário artístico. “Eu enxergo, sim, o machismo no mundo musical! E, atualmente, a gente está em um movimento de desconstrução da cantora vista como a princesinha e a fofinha. Queremos exaltar outras coisas que sobrepõem a essas imagens que são rotuladas”, conclui. Confira a entrevista com a cantora a seguir: