Discurso de pluralidade, vaias e protesto marcam Cine PE
Em sua 21ª edição, completando a maioridade, o festival foi marcado por discursos emotivos dos realizadores, posicionamento político e exaltação calorosa do público
O Cine PE, que é considerado um dos mais expressivos eventos de audiovisual do Estado, promoveu, nesta terça-feira (27), a exibição dos trabalhos selecionados em 2017. Em sua 21ª edição, completando a maioridade, o festival foi marcado por discursos emotivos dos realizadores, 'posicionamento político' e exaltação calorosa do público que foi conferir os curtas e longas.
Abrindo o evento, a realizadora do Cine PE Sandra Bertini exaltou o amor pela sétima arte e proferiu um discurso falando sobre sua trajetória à frente do festival e das dificuldades enfrentadas este ano. "Estou ligada à arte e ela em mim. Mesmo com as dificuldades, que surgiram durante toda a produção, percebi que o festival sobrevive e está a frente do seu tempo", falou emocionada.
Em entrevista ao LeiaJa.com, Sandra relatou que a expectativa é muito grande de promover mais um ano o evento e que os seis meses de trabalho estão aglutinados em sete dias de exibições, que primam pela qualidade de som e das exibições. Em relação às polêmicas envolvendo à retirada dos filmes, ela lamenta. "Foi um ano difícil! Essa questão da retirada dos trabalhos, de certa forma, revirou tudo e me aborreceu, mas depois percebi que precisamos continuar e fazer um festival para todos e de forma plural", concluiu.
Dando início à exibição dos curtas, o público pode se surpreender com dois delicados trabalhos, 'Los tomates de Carmelo' (PE) e Diamante, o Bailarino' (SP). O primeiro abordou uma perspectiva sútil do cenário da década de 1945, passando uma mensagem de amor aos pais e aos avós. Um dos produtores do curta, Danilo Baracho defendeu a pluralidade do cinema e das questões relacionadas à família. "O filme retrata um tempo remoto, mas ao mesmo tempo se encaixa perfeitamente no tempo atual. Além disso, o filme reforça que é necessário retribuir e agradecer aos nossos pais e avós", finalizou.
Já o segundo, Diamante, o Bailarino' (SP) aborda de maneira muito eminente a coragem e a realidade vivida por um jovem que sonha em ser um lutador e a noite brilha em bailes de drag queen. O ator que interpretou 'Diamante', Sidney Santiago relatou que o curta tem como principal objetivo falar de amor. "O trabalho aborda as dificuldades do público LGBT, do negro e do atleta e por isso, decidimos exibir o filme", defendeu o ator.
Veterano no Cine PE, Sidney já conquistou alguns prêmio no festival em três momentos distintos, nos anos de 2007, 2010 e 2015. De acordo com o ator, voltar ao Recife é sempre uma realização. "É muito bom poder estar aqui e poder trazer temas importantes, uma vez que, o público local está sempre aberto ao diálogo, principalmente quando envolve essas questões", finalizou.
Após a exibição dos curtas, a organização do Cine PE decidiu cancelar o intervalo que antecedia o longa 'Real, o plano por traz da história' e convidou um dos realizadores para falar sobre a produção. Depois de iniciar a defesa da criação do longa e de defender o discurso de pluralidade cultural, Ricardo Rihan foi surpreendido por vaias e aplausos do público. Com o seu posicionamento, o secretário de cultura do Estado de Pernambuco, Marcelino Granja saiu da sessão.
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As declarações do produtor não agradou grande parte do público presente. A insatisfação dos cinéfilos retoma o posicionamento dos sete realizadores selecionados para o Cine PE que desistiram de participar da mostra competitiva do evento. Em uma nota divulgada, os representantes dos filmes defenderam que a edição de 2017 do festival favorece um discurso partidário alinhado à direita conservadora. A decisão foi tomada devido à escolha dos filmes 'Real, o plano por traz da história' e 'O Jardim das Aflições'.
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