Flox coloridas, sinal fechado e o Dia das Crianças na rua

Longe dos grandes eventos, crianças sem-teto passam o feriado pedindo esmolas, no Recife

por Marília Parente sex, 13/10/2017 - 21:13
Paulo Uchôa/LeiaJáImagens Paulo Uchôa/LeiaJáImagens

Seja rosa ou branca, a flox é uma flor conhecida por transformar completamente um espaço exterior. O sinal está fechado para Pedro*, de 12 anos, prender cuidadosamente pétalas coloridas de flox nos retrovisores dos automóveis. Também é Dia das Crianças no Canal de Setúbal, onde não há palhaços famosos ou super-heróis, mas o reduzido tráfego de feriado, que diminuiu ainda mais as gorjetas que Pedro recebe. O garoto saiu do Alto Nova Olinda rumo à Zona Sul do Recife com o sonho de ganhar dez reais de presente. 

“Tá muito bom não, tia. O brinquedo que recebi foi dois negócios de palito. Estou aqui desde o começo do dia e não ganhei quase nada”, conta Pedro. Em outro sinal, uma família inteira de crianças pede esmolas. Os mais crescidos fazem malabarismos e carregam os mais novos nos braços, debaixo de um forte sol, passando de carro em carro. A mãe deles permanece sentada no canteiro da Avenida Visconde de Jequitinhonha, à sombra de uma pequena árvore, e impede que as crianças falem com nossa equipe.

A pequena Dandara*, de 12 anos, saiu cedo da Comunidade de Águas Compridas, em Olinda também escolheu o bairro de Setúbal para pedir gorjetas. “Eu queria ter ficado, mas vim, porque não tem brinquedo em casa. Queria ganhar qualquer coisa, uma boneca para minha irmãzinha”, comenta. Sofia*, de 9 anos, até ganhou uma boneca, mas não ficou satisfeita. “A gente não tá ganhando dinheiro hoje, nem muito presente. Queria uma boneca que não fosse de plástico ou um kit de panelinhas”, lamenta.

Na comunidade do Coque, no Bairro de Joana Bezerra, Moacir*, de oito anos, e Bernardo, de sete, tiveram um pouco mais de sorte. “Uma mulher passou no carro e deu essas sacolinhas pra gente. Tem pipoca, confeito e pirulito”, conta Bernardo. Moacir completa: “achei legal, divertido, porque ela parou, entregou e foi embora”. 

Pessoas distribuíram sacolinhas na Comunidade do Coque. (Paulo Uchôa/LeiaJá Imagens)

Outros benfeitores também utilizaram o tempo livre do feriado para doar brinquedos e doces para crianças carentes. “É o quarto ano que o MABE (Movimento Arrebentando Barreiras Invisíveis) promove a festa de Dia das Crianças no Coque. A gente faz esse evento a partir da mobilização das pessoas da própria comunidade. Um dá dinheiro, outro compra pipoca, cada um ajuda como pode”, coloca Auta Azevedo, integrante do MABE. Mal foi montado e o pula-pula alugado pelos moradores da comunidade já está ocupado. “É do que mais gosto. O pula-pula e os brinquedos que a gente ganha”, diz Miguel*, de 11 anos. Tiago*, de 11 anos, discorda do amiguinho: “prefiro brincar. Brinquedo, derrubou no chão, quebrou. A brincadeira pode acabar o mundo, você pode brincar”. 

 

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