Cultura popular nordestina é aprendizado de família
No Encontro de Sanfoneiros do Recife, Nadinho e Allyson, neto e avô, celebram a arte de tocar sanfona
Cultura popular não costuma ser aprendida nos bancos das escolas. O lugar de aprendizado das expressões mais genuínas do povo brasileiro é dentro de casa mesmo, método de ensino que não exige didática específica. A arte do povo é passada, de geração para geração, à medida em que avós, pais, filhos e netos naturalmente convivem. Foi assim na casa de Nadinho, que hoje vê no neto, Allyson, a continuidade da arte de tocar sanfona.
Aguinaldo Alves de Lima, o Nadinho, aposentado de 67 anos e ‘tocador’ de sanfona há mais de duas décadas, é o responsável por Allyson Martins, de 19, desde o nascimento do menino. À medida que o neto crescia, em sua casa, em Abreu e Lima, o interesse pelo instrumento do avô foi ganhando espaço: “Toda vez eu via a sanfona em cima da cama, comecei a pegar e quando ele viu, me ensinou”, conta o jovem. Nadinho fez logo gosto pela curiosidade do garoto: “Ele começou pegando devagarzinho, o que eu sabia fui passando pra ele. Depois botei ele no Conservatório. Eu não estudei nada, ele tá no estudo, vai ser melhor do que eu, se Deus quiser”.
O investimento - de tempo, carinho e estímulo do avô - tem dado certo. Hoje, Allyson trabalha com música e, além de ter tornado a sanfona seu instrumento de profissão, compartilha com o seu ‘mestre’ a paixão por ela: “Para mim é tudo, é o que eu gosto de fazer”, diz com sorriso largo. Seu Nadinho é só orgulho. Ele acompanha o neto nas apresentações, inclusive no Encontro de Sanfoneiros do Recife, que acontece todos os anos no Recife - evento no qual Allyson se apresenta desde os 10 anos de idade. E numa prova de que os ensinamentos da cultura e tradição populares não acabam nunca, o avô garante: “Ele agora tá me ensinando”.