13 músicas para entender o Cordel do Fogo Encantado
De volta aos palcos após oito anos de paralisação, a banda retoma a carreira renovando não só o seu som como seu público, também
Em 1999, um grupo vindo do Sertão de Pernambuco, mais precisamente da cidade de Arcoverde, arrebatou plateias de todos os cantos do país com shows que eram verdadeiras experiências de som, poesia e imagem. O Cordel do Fogo Encantado apareceu trazendo uma música de percussão expressiva e apresentações de tamanha força que provocavam até chuva na cidade (ou, pelo menos, era o que os fãs da banda acreditavam).
Em 11 anos de carreira, o Cordel gravou três discos - Cordel do Fogo Encantado (2001); O Palhaço do Circo sem Futuro (2003); e Transfiguração (2006) -, um DVD - MTV Apresenta (2005) -; e arregimentou uma legião de fãs em todo o Brasil. Mas, quando a primeira década dos anos 2000 estava em curso, Lirinha, vocalista da banda, decidiu "trilhar novos caminhos", algo que talvez já estivesse anunciado - coincidentemente, ou não -, nos versos da música que fechava o então último disco do Cordel, Transfiguração: "E o tempo faz estrada para se chegar ao fim, nossa vida é feita assim; vou por aqui, vou por ali, o infinito é tão longe".
Porém, oito anos depois da dissolução do Cordel do Fogo Encantado, Lirinha, Clayton Barros, Rafa Almeida, Nego Henrique e Emerson Calado resolveram juntar-se novamente, desta vez para fazer uma Viagem ao Coração do Sol (nome que batiza o atual trabalho da banda). Como diz a primeira música do álbum, "o mundo agora é esse", e neste novo mundo, temos um Cordel mais melódico; atento às novas necessidades de seu público - eles disponibilizaram todos os discos nos serviços de streaming e lançaram um vídeo em 360º de sua música de trabalho -; e com pegada mais pop, produzidos por Fernando Catatau, da Cidadão Instigado. Mas, apesar de renovado, o Cordel não se desfez de suas origens, e continua trazendo à cena temas muito seus, como o sertão, a natureza e as tradições indígenas. O LeiaJá escolheu 12 músicas significativas da carreira do Cordel do Fogo Encantado para, através delas, contar um pouco dessa trajetória.
1 - Chover (Ou invocação para um dia líquido)
Como bons filhos do Sertão, os músicos do Cordel sabem bem o que é esperar pela chuva. Chover promovia verdadeiras catarses na plateia dos shows da banda e, por acaso, ou não, sempre acabava chovendo de verdade. Os fãs acreditavam tratar-se de um fenômeno metafísico promovido pela música do grupo.
2 - Os oim do meu amor
Com a linguagem simples de quem vem do interior, essa música é uma verdadeira declaração de amor. O 'poeta' canta saudoso pelo olhar da amada.
3 - Pedrinha
Os tambores cantam muito alto e forte nesta música que Lirinha costumava apresentar como "sagrada; uma celebração dos poderes pequenos e dos poderes grandiosos". Costumava causar um efeito de fato poderoso na plateia.
4 - Ai se sesse
Aqui não temos uma música, mas uma poesia, do poeta Zé da Luz. Os versos acabavam ganhando melodia mesmo quando o coro das vozes dos fãs decidiam acompanhar a declamação de Lirinha, nos shows.
5 - A Matadeira (Ou no balanço da justiça)
Mais uma música extremamente forte, em que o violão de Clayton Barros canta imponente e os tambores simulam trovões. Em alguns shows, o Cordel dividiu esta canção com convidados, a exemplo de Canibal, vocalista da banda pernambucana de hardcore, devotos.
6 - Na Veia
Também com forte presença do violão de Barros, essa era outra canção que arrebatava plateias. A música fala de saudade, temática que permeia quase todo o segundo disco da banda, O Palhaço do Circo sem Futuro.
7 - O Palhaço do Circo sem Futuro
A música que deu nome ao segundo álbum do grupo era muito esperada nos shows. Precedida por uma poesia que contava a história de um filho que tinha vergonha do pai, que era palhaço do Circo sem Futuro. A declamação vinha acompanhada de uma performance, em que Lirinha pintava o rosto de maneira 'desarrumada'.
8 - Tempestade (ou a dança dos trovões)
Mais uma que cantava as agruras de esperar pela chuva no sertão. Quando os versos cantavam para a "dona do trovão", o público costumava acompanhar a plenos pulmões: "é de relampiê, é de relampiá".
9 - Louco de Deus
Mais uma que trazia uma performance. Lirinha costumava cantar esta segurando fogo, aceso em um pequeno candeeiro.
10 - Dos três mal-amados palavras de Joaquim
Outra poesia que virava música ao ser acompanhada pelo coro da plateia. Escrita por João Cabral de Melo Neto, a poesia razia ao palco o Lirinha declamador e garantia um momento de bastante beleza nos shows.
11 - Preta
Esta canção chegou, em 2006, acompanhada de um clipe de visual fluído e de cores que se transformavam em pingos de chuva. Dirigido por Bruno Mazzili, o clipe agradou em cheio aos fãs do Cordel.
12 - Morte e Vida Stanley
Com forte apelo, a música contava a história de Stanley, mais um filho da Pedra do Gavião, no Sertão do Pajeú; "mais um homem pra trabalhar na cidade sem sol", revisitando a vida de tantos nordestinos que deixaram sua terra para ganhar a existência no Sul/Sudeste.
13 - Liberdade A Filha do Vento
Com sonoridade bem mais harmônica e melódica, a música de trabalho da volta do Cordel canta a busca do grupo pela liberdade. E, apesar de alguns fãs antigos terem reclamado da suavização da percussão neste momento, outros elementos presentes parecem ser suficientes para garantir a boa qualidade do trabalho da banda, como a poesia e a qualidade de seus músicos.