Exposição ao ar livre retrata cultura popular do Pará
Fotógrafos Bruno Carachesti e Ratão Diniz mostram em 35 telas a tradicional festa do boi faceiro de São Caetano de Odivelas, município do nordeste paraense
Em São Caetano de Odivelas, município do nordeste do Pará, a cerca de 100 quilômetros de Belém, o fotógrafo paraense Bruno Carachesti e o fotógrafo carioca Ratão Diniz montaram uma exposição fotográfica que retrata uma das mais importantes representações da cultura popular paraense, o boi faceiro. Com proposta de intervenção urbana, as fotos ficam expostas na rua, na travessa Antonio Baltazar Monteiro.
A exposição é composta por 35 telas que ocupam dois quarteirões, totalmente a céu aberto. As imagens são colocadas na frente das casas às 8 horas e retiradas às 18 horas, pelos próprios moradores. Os fotógrafos registraram as manifestações que ocorrem pelas ruas da cidade e devolveram as imagens para a comunidade montar a exposição. “Devolver isso para a comunidade é muito legal, muito democrático. A exposição não fica em um lugar fechado, no ar-condicionado, fica a céu aberto na frente da casa das pessoas e marca o aniversário de 20 anos do boi faceiro. Essa resistência cultural da cidade é muito interessante”, afirmou o fotógrafo.
A tradição e o encanto do município de São Caetano e a interação entre as pessoas para a organização do evento, junto com o colorido, a simplicidade e a calmaria do local, foi o que motivou os fotógrafos para o registro. “Na exposição ficou o olhar do Ratão com base na quadra junina, no mês de junho, e o meu olhar com base no carnaval”, disse Bruno Carachesti.
As manifestações dos bois de máscaras, existentes desde 1930, são apresentações que, diferentemente do boi-bumbá tradicional, não possuem enredo nem história a ser contada. “As apresentações são baseadas na dança, na música e no teatro de improviso, então é tudo na base do improviso e concebido inteiramente pelo povo de São Caetano, que participa de modo direto em todos os processos”, disse Rondi Palha (40), historiador e produtor cultural.
O boi faceiro faz parte dessa manifestação e surgiu em 1937 junto com o boi tinga, que são as duas principais referências da tradição. “O boi faceiro foi criado em 1937 e desapareceu dez anos depois. Ele tem uma história muito peculiar. É considerado como um exemplo das lutas folclóricas no Estado do Pará, porque ele desapareceu em 1947 e foi resgatado 51 anos depois, em 1998, com o incentivo do mestre Bené Careta, Benedito Cardoso de Aquino, que faleceu em 2000”, conta o historiador. O boi faceiro é considerado um ícone da cultura popular no Estado do Pará.
Ratão Diniz disse que o desejo de fotografar o evento surgiu do contato que teve com fotógrafos paraenses, principalmente com Bruno Carachesti. “Senti uma necessidade de conhecer essa festa tão incrível. Minha busca fotográfica, dentro dessa temática de festas populares pelo Brasil, é o personagem mascarado. Que cobre seu rosto, sua identidade para ser quem ele deseja ser, pelo menos naquele momento da festa, da brincadeira”, declarou o carioca.
A festa do boi faceiro não tem um número definido de participantes. É dinâmica e envolve toda a comunidade. Com duração de seis horas, começa às 17 horas e vai até 23 horas ou meia-noite, durante todo o mês de junho e metade do mês de julho. Os participantes se fantasiam dos personagens principais da manifestação, entre eles o pierrô, os cabeçudos, o buchudo e o vaqueiro. No encerramento do evento tem a fugida do boi para não ser morto e o retorno na festa do ano seguinte. A exposição ao ar livre fica em São Caetano de Odivelas até o dia 5 de agosto. Veja galeria de fotos abaixo.
Por Rosiane Rodrigues.