Cineasta Gus Van Sant estreia no teatro com musical
O espetáculo, que depois segue para Roma, Amsterdã, Paris e Atenas, permitiu ao diretor concretizar um projeto, com o qual sonhava há muito tempo
O cineasta americano Gus Van Sant apresenta nesta quinta-feira (23), em Lisboa, sua primeira produção para o teatro, um espetáculo musical sobre um jovem Andy Warhol prestes a virar um ícone da pop art.
"Tentei reunir os melhores momentos da vida de Andy Warhol para explicar sua ascensão no mundo da arte nos anos 1960", explica Van Sant, de 69 anos, diretor de "Gênio Indomável" (1997) e vencedor da Palma de Ouro de Cannes com "Elefante" (2003).
Dos encontros de Warhol com o escritor Truman Capote, com o crítico de arte Clement Greenberg, ou com a atriz Edie Sedgwick, emerge "um personagem estranho, que não corresponde ao Andy Warhol que nós conhecemos".
"É um pouco como o seu duplo", explica Gus Van Sant antes da estreia de "Andy", no Teatro Nacional D. Maria II, de Lisboa.
Autor dos diálogos e das canções, Van Sant "mistura o tempo, a realidade e a ficção, para construir sua relação imaginária com Andy Warhol", comenta John Romão, que incentivou o cineasta a arriscar sua primeira criação teatral durante a bienal de arte contemporânea BoCa, organizada pela capital portuguesa.
O espetáculo, que depois segue para Roma, Amsterdã, Paris e Atenas, permitiu ao diretor concretizar um projeto, com o qual sonhava há muito tempo.
O diretor, roteirista, pintor, fotógrafo e músico já havia preparado o roteiro de um filme, no qual o ator River Phoenix, irmão de Joaquin Phoenix falecido em 1993 aos 23 anos, interpretaria Warhol.
A obra foi produzida com uma equipe 100% portuguesa, o que reduziu as limitações vinculadas à pandemia de covid-19.
- "Um jovem tímido" -
Em sua filmografia, Van Sant fez outras incursões no gênero biográfico, incluindo "Últimos Dias" (2005), sobre o fim da vida do cantor do Nirvana Kurt Cobain, ou "Milk" (2008), sobre o ativista dos direitos homossexuais Harvey Milk.
"Poucas pessoas sabem realmente quem era Andy Warhol", afirma o ator português Diogo Fernandes, que interpreta Warhol ao lado de um jovem elenco em que todos falam e cantam em inglês.
"Penso que era um garoto tímido, fascinado pela cultura americana e que queria ser uma estrela, mas que nunca imaginou o impacto que teria", completa.
A obra revela a superficialidade do artista que, neste retrato, mostra sua atração pelo glamour e pelo dinheiro associados ao mundo da arte.
Para John Romão, o autor dos retratos coloridos de Marilyn Monroe, ou das latas de sopa Campbell, "é um personagem meio escondido na sombra, tímido e, ao mesmo tempo, com uma grande força, graças a sua capacidade de concretizar suas ideias".
"Isto provocou uma espécie tanto de fascínio como de medo ao redor dele", acrescenta.
"Andy" também atende o desejo de Van Sant "de levar ao palco seu olhar de diretor de atores, de escritor de diálogos, mas também de criador de atmosferas musicais", afirma Tiago Rodrigues, que em breve deixará a direção artística do teatro lisboeta para se tornar o primeiro estrangeiro a comandar o prestigioso Festival de Avignon (França).