Artistas LGBTQIA+ russos encontram refúgio em Paris

Atualmente, a guerra na Ucrânia precipitou a busca deles por exílio em Paris

sex, 24/06/2022 - 11:08
Olga Maltseva Marcha do orgulho gay em São Petersburgo, em 12 de agosto de 2017 Olga Maltseva

Alexei, Gena e Angelou são artistas LGBTQIA+ da Rússia que enfrentam problemas em seu país de origem por conta de suas identidade de gênero e orientação sexual. Atualmente, a guerra na Ucrânia precipitou a busca deles por exílio em Paris.

A Oficina dos Artistas no Exílio em Paris colocou uma linha telefônica urgente à disposição dos russos e ucranianos. Até o momento, já atendeu uma centena de pessoas.

Entre eles, Gena Marvin, de 23 anos, que chegou em Paris no final de abril. Artista transgênero e 'performer', encenou obras com o corpo rodeado por fita adesiva, simbolizando "um país onde não há liberdade e onde a liberdade do meu corpo não é permitida".

Em entrevista à AFP, a artista, que saiu nas ruas em apoio do opositor Alexei Navalny, explica ser "uma espécie de terapia, uma reciclagem dos meus temores de infância".

Após o estopim da guerra, a ideia de ser chamada para o alistamento a aterrorizava. Presa em uma manifestação contra a invasão da Ucrânia, ela decidiu abandonar a Rússia quando soube da Oficina em Paris.

"Na França não tenho o mesmo medo, mas mantenho a guarda alta, porque uma pessoa que viveu com medo não esquece nunca", declara Gena.

Em um dos estúdios da Oficina, o compositor e pianista de 23 anos Alexei toca um prelúdio de Rachmaninoff. Ele, que não quis revelar seu sobrenome por motivos de segurança, também foi detido durante uma manifestação em São Petersburgo.

Então, recebeu um convite para continuar seus estudos de composição no Conservatório de Paris.

- "Dor, vergonha, culpa" -

Alexei carregava a esperança de que o presidente russo, Vladimir Putin, "deixaria de estar ali algum dia", mas agora está ciente do perigo constante. A guerra lhe causa "dor, vergonha e culpa, porque tenho a sensação que não temos feito o suficiente contra esse regime".

Recentemente, a polícia invadiu a escola de música onde dava aula por conta de uma "propaganda LGBT" em sua página do Facebook. Na realidade, foi "por conta de uma foto em que beijava meu companheiro", assegura.

"A Rússia não é homofóbica, quem é homofóbico é o Estado russo", considera o jovem, que está compondo uma música para um filme sobre a guerra na Ucrânia. "Me sinto como em um filme", completou.

Estilista de 23 anos, Angelou declara-se uma pessoa não-binária. Em um dos ateliês na Oficina dos Artistas no Exílio, se exercita com silicone mesclado com tecidos reciclados, para desenhar um vestido.

Segundo Angelou, pessoas 'queer' eram detidas regularmente em Moscou. "Eram obrigadas a se despir e recebiam água fria. Compreendi que era o fim", explicou.

A retomada de atividade de Angelou se deu depois que deixou Moscou, e agora recebe aulas de francês com sua amiga Xenia, de 24 anos, atualmente decoradora. Viviam na Rússia sob o medo constante de agressões.

Judith Depaule, diretora e cofundadora da Oficina, explica que os artistas russos no exílio "formaram a ideia de que abandonaram definitivamente seu país", com o qual "já não se identificam".

Do lado dos ucranianos há uma "onda de patriotismo", entretanto ambos sabem que "a guerra acaba nas portas da Oficina", explica Depaule.

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