Resistência ucraniana chega às telas do Festival de Berlim
O primeiro grande festival europeu do ano, que termina no próximo sábado (25), destacou a solidariedade aos produtores, idealizadores e artistas ucranianos
Produtor de cinema que se tornou motorista de ambulância voluntário, Yevhen Titarenko compareceu ao Festival de Berlim ao lado de outros cineastas ucranianos para mostrar a guerra filmada "por dentro" e denunciar a ofensiva russa iniciada há um ano.
"Na linha de frente não há tapetes vermelhos, apenas um chão encharcado de sangue", disse recentemente o embaixador da Ucrânia na Alemanha, Oleksii Makeyev, ao apresentar o cinema de seu país.
O primeiro grande festival europeu do ano, que termina no próximo sábado (25), destacou a solidariedade aos produtores, idealizadores e artistas ucranianos com um programação de filmes e discussões sobre o país atingido pelos conflitos.
O próprio presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, fez uma aparição em vídeo na Berlinale na última quinta-feira (16), ocasião em que pediu compromisso com a arte e o cinema.
O ex-comediante é o protagonista do documentário dirigido pelo ator americano Sean Penn, que apresentou a produção no festival.
Na sexta-feira, 24 de fevereiro, quando se completa um ano da invasão russa, o tapete vermelho da Berlinale receberá manifestações de apoio à Ucrânia.
- "A guerra por dentro" -
Entre os filmes ucranianos exibidos, "Sem Retorno" (2020), de Titarenko, retrata a vida de um paramédico próximo à linha de frente.
Enquanto filmava um documentário no ano passado na região de Donetsk, o diretor de 34 anos tomou a decisão de se candidatar "como voluntário", contou à AFP.
Desde então, fez uma série de filmes "para mostrar às pessoas como é a guerra por dentro".
"Os ucranianos não querem fazer guerra. Preferem fazer coisas normais, se dedicar à cultura como em todos os outros países. Mas não temos escolha a não ser lutar", diz ele, cujo filme selecionado para o festival foi produzido junto ao documentarista russo que vive em exílio, Vitaly Manskiy.
Alisa Kovalenko também trocou de papel após o início da ofensiva russa.
A cineasta de 35 anos interrompeu a produção do documentário iniciado em 2018 sobre cinco adolescentes na região ucraniana do Donbass que faziam planos para o futuro antes da guerra.
Após quatro meses na linha de frente, onde participou de mutirões de voluntários em Kiev e Kharkiv, a diretora retomou o projeto e começou a editá-lo.
"Entendemos que precisávamos mudar tudo. É um filme completamente diferente" do previsto inicialmente, contou à AFP.
O documentário "We will not fade away" (2023), rodado entre 2019 e 2022, retrata as frágeis esperanças destas jovens da região de Luhansk, uma área sob controle ucraniano.
- Uma "luz" interior -
"A Rússia pode bombardear nossas cidades e nos deixar sem eletricidade (...) Se você preserva a esperança e continua sonhando, sempre terá uma luz dentro de si. E essa luz, os russos não podem tirar de nós", disse Kovalenko.
Durante as filmagens, dois adolescentes que protagonizavam o filme deixaram a região e outros dois desapareceram, conta a diretora.
Entre as outras produções ucranianas apresentadas estão "Do you love me?" (2023), uma ficção sobre uma adolescente no fim da União Soviética, e "In Ukraine" (2023), documentário sobre o cotidiano do país em guerra.
Além de "Iron butterflies" (2023), do cineasta Roman Liubyi, que conta a história do voo MH17 da Malaysia Airlines, derrubado em 2014 por separatistas do leste da Ucrânia, e como esse drama foi um prelúdio para o conflito atual.
Além do festival, os ministérios da Cultura da Alemanha, França e Luxemburgo lançaram um fundo europeu de US$ 1,06 milhão (cerca de R$ 5,49 milhões) para apoiar o cinema ucraniano em 2023.