Quarenta anos depois, judoca quer repetir feito do pai
David Moura terá a oportunidade de, assim como seu pai, Fenelon Oscar Muller, trazer uma medalha para o País
Se em um primeiro momento a notícia do corte do judoca Rafael Silva dos Jogos Pan-Americanos de Toronto tenha sido recebida com tristeza pelo companheiro de seleção David Moura, por outro lado abriu a possibilidade de o suplente realizar um sonho de família. David terá a oportunidade de, assim como seu pai, Fenelon Oscar Muller, trazer uma medalha para o País, 40 anos depois.
Em 1975, Fenelon conquistou o bronze no Pan do México e, hoje, é a principal inspiração do filho em busca de superação. "Interessante que há exatos quarenta anos meu pai ganhou o bronze, mas espero fazer melhor que meu pai", afirmou David, nesta terça-feira, durante o treinamento da seleção brasileira de judô para o Pan, que ocorre em um hotel na cidade de Mangaratiba, na região da Costa Verde, no Rio.
De fato, David tem grandes chances de superar o pai. Recentemente, o atleta, 12º colocado do ranking mundial, venceu Rafael Silva (2º) na final do Campeonato Pan-Americano de judô. O resultado o credencia como um dos favoritos na categoria pesado (acima de 100Kg). "Meus familiares vão viajar para assistir as lutas, estão muito empolgados."
Além de David, outros 13 atletas estão participando da concentração em Mangaratiba - ao todo, sete homens e sete mulheres. Longe cerca de 100 km da euforia da cidade do Rio, os judocas treinam sete horas por dia, com longa sessões de trabalho muscular na academia, atividades técnicas, fisioterapia, conversam com os psicólogos e analisam os vídeos com registro das lutas de seus rivais.
O período de treinamentos se encerra no dia 2 de julho, quando os atletas saem da concentração direto para o aeroporto. Chegando em Toronto, a delegação brasileira vai seguir para a Universidade de Iorque, onde será complementada a preparação para o torneio. As disputas ocorrem dos dias 11 a 14 de julho.
Apenas dois dias antes da luta, os atletas seguem para a Vila Olímpica, onde ficarão hospedados com competidores estrangeiros de várias modalidades. Esse contato com a vila, porém, foi adiado pela comissão técnica da seleção brasileira. "A Vila Olímpica não é lugar para quem quer ganhar medalha. Lá tem cinema, restaurantes, gente bonita, ou seja, tudo que pode tirar o foco na competição", comentou Ney Wilson, gestor de alto rendimento da Confederação Brasileira de Judô (CBJ).
A expectativa da CBJ é que todos conquistem medalha, quebrando, assim, o recorde do último Pan em Guadalajara, em 2011, quando 13 brasileiros subiram ao pódio. A competição também é considerada fundamental para o ciclo olímpico. "Vai servir como laboratório para os atletas. No Pan, eles vão se confrontar com vários ídolos mundiais, não só do judô, vão sofrer mais pressão. Por isso, o tempo todo terão o comportamento acompanhado. E isso vai servir de base para a Olimpíada (do Rio, em 2016)."
Para Maria Suelen Altheman, oitava do ranking (acima de 78kg), o Pan será a oportunidade de voltar a boa fase, interrompida em setembro do ano passado, quando rompeu o ligamento do joelho direito ao conquistar a prata no mundial da Rússia. Agora, em Toronto, ela vai disputar sua primeira competição desde a cirurgia que a afastou do tatame.
Além de mostrar a recuperação física, Maria Suelen acredita que pode ter uma revanche diante sua algoz do vice-campeonato mundial, a cubana Idalys Ortiz. "O período em que fiquei lesionada serviu para eu refletir e me focar mais. Agora estou com muita vontade de ser campeã", afirmou. "O Pan vai ser a chance de enfrentar a cubana, que não foi tão bem nas últimas competições, mas que pode surpreender."