Intolerância à simulação ajuda bola a rolar mais

No ano passado, o Campeonato Brasileiro já apresentou índice compatíveis com os principais campeonatos europeus, com exceção do Inglês

dom, 03/07/2016 - 15:39

Além da exigência de maior respeito aos árbitros, uma outra "cruzada" poderá contribuir no curto prazo para o aumento do tempo de bola rolando no Campeonato Brasileiro: é a "cruzada contra a praga da simulação", como define o presidente da comissão de arbitragem da CBF, Sérgio Corrêa. Os árbitros estão sendo instruídos, de acordo com o dirigentes, a não tolerar a simulação. São lembrados constantemente que, quando induzidos ao erro, viram alvo de críticas pesadas, enquanto o simulador passa incólume.

"A simulação é nociva e faz parte dessa condição de respeito. É contabilizada contra o árbitro", afirmou Sérgio Corrêa. "Quando ele erra, tem de ser cobrado, mas também é preciso cobrar do jogador que simula. Se um atleta não quer que sua equipe seja prejudicada por simulação, tem de agir de forma correta".

Há quem esteja do outro lado e concorde. É o caso do técnico do Fluminense, Levir Culpi, que também diz condenar as ações deliberadas para enganar o juiz. "A simulação sempre deixa o árbitro em situação muito difícil. A gente já nasce querendo enganar o árbitro".

O responsável pela comissão de arbitragem diz que essa cruzada está em fase inicial, mas destaca que a exigência de maior respeito também já resultou em outro fator positivo: a redução do número de faltas e de cartões.

No ano passado, o Campeonato Brasileiro já apresentou índice compatíveis com os principais campeonatos europeus, com exceção do Inglês, em que normalmente só as faltas mais violentas são marcadas. "A média de cartões amarelos pelo mundo é próxima da brasileira. A de vermelhos, em seis países, também. Depois de comparar anos e anos, vimos que o Brasil está no mesmo patamar dos outros", disse Sérgio Corrêa.

O ex-árbitro gaúcho Leonardo Gaciba enfatiza, porém, que essa melhora é recente e está bastante ligada à "cruzada pelo respeito". "O futebol brasileiro era mais faltoso, mas em 2015 veio para o bolo (está dentro da média dos principais campeonatos)", observou.

SEM REPRESSÃO - Reservadamente, alguns árbitros têm reclamado de que se sente pressionados a deixar o jogo correr, visando redução no número de faltas. Sérgio Corrêa vê a reclamação como descabida. "A média de faltas caiu e as pessoas acharam que demos ordem aos árbitros para não marcarem. Isso é absurdo. O árbitro pode marcar 100 faltas numa partida, se elas existirem. Mas se ocorrerem 100 contatos físicos que não são falta, não devem marcar".

Intolerante mesmo os árbitros devem ser com os treinadores que azucrinam suas vidas à beira do campo. A orientação é para punir com expulsão. Gaciba defende a medida. "Tem técnico que é especialista em incendiar o público, joga para a torcida", disse o ex-árbitro. "Em 1999, a área técnica foi concedida ao treinador para que falasse com a equipe dele. Mas o sentido foi deturpado. Tem treinador que está ali (na área técnica) mais para cobrar do árbitro do que para falar com seus atletas".

Nas primeiras rodadas do Brasileirão, muitos técnicos foram tirados das partidas, mas o número de expulsões têm diminuído. Recém-chegado ao futebol brasileiro, o português Paulo Bento já teve problemas com a arbitragem, mas afirma que uma das funções do treinador é orientar os jogadores a ter disciplina em campo.

"Acho que o futebol deve ser valorizado pelo positivo, ou seja, que meus jogadores joguem de uma forma leal e que tentem fazer um jogo com maior tempo útil possível", definiu.

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