Craques dentro e fora de campo

Nem só de jogadores vivem os times de futebol. Outros trabalhadores com longos serviços prestados aos clubes suam a camisa para ver suas equipes campeãs

por Nathan Santos qua, 22/02/2017 - 16:55
Brenda Alcântara/LeiaJáImagens Na foto, o segurança Pelé, o goleiro Magrão e o roupeiro Pelé, todos do Sport Brenda Alcântara/LeiaJáImagens

O LeiaJá publica nesta quinta-feira (22) a série "Craques dentro e fora do campo". Mostramos histórias de trabalhadores que são tão importantes para os clubes quanto os jogadores de futebol. São funcionários que guardam várias histórias e se emocionam com vitórias e derrotas de Sport, Santa Cruz e Náutico. Confira:  

Longe dos holofotes e de toda mídia que rodeia os jogadores de futebol, há pessoas que compõem uma base profissional primordial para os clubes. Gente simples, humilde, trabalhadora. Homens e mulheres que não abrem mão de viver a instituição, de estar perto dos diretores, atletas, da torcida. Também são torcedores que vibram, comemoram vitórias e choram com as quedas, mas não deixam que os insucessos do mundo da bola influenciem seus trabalhos. 

Não correm atrás da bola como os famosos atletas compensados com salários robustos. Mas fazem do seu dia a dia uma correia para manter a ordem nos clubes. Trabalhadores que cuidam da limpeza, comida, roupas, chuteiras, gramados, bolas, segurança... Às vezes são como pais, conselheiros dos atletas mais novos, e confidentes dos experientes. Em vários momentos guardam segredos que os profissionais de imprensa não mediriam esforços para descobrir. São pessoas de confiança, cheias de anos dentro dos clubes, donos de longos serviços prestados. Porém, nem sempre são conhecidos pelos torcedores que lotam os estádios. Mas como num esquema armado por um técnico de futebol, são peças essenciais para que os times marquem gols dentro e fora de campo.

Entre os que são a base para a engrenagem logística dos times de futebol, muitos trabalhadores se destacam. Franzino, mas de gordo sorriso no rosto, Manoel Augusto de Almeida, 56 anos, é daqueles que fazem do clube sua segunda casa. Lar rubro-negro, por sinal. Manoel, preferencialmente chamado de Leguelé, é roupeiro do Sport. Já soma 17 anos de clube. Período em que viu e viveu histórias, algumas tristes, outras felizes, mas com o desfecho sempre igual: na vitória ou na derrota, Leguelé prefere o bom astral.

 

“Futebol é alegria. É bom a gente trabalhar com aquilo que gostamos. Sou do meio, sou boleiro. Joguei futebol, passei pelo Fluminense. Mas não o do Rio de Janeiro. Joguei no Fluminense do Caranguejo”, diz o roupeiro, descontraído, ao lembrar que foi peladeiro e por isso sabe das coisas que acontecem dentro das quatro linhas. O roupeiro nasceu e mora até hoje na comunidade do Caranguejo, localizada ao lado da Ilha do Retiro, no Recife.

Leguelé começou nas categorias de base do Leão. Pelos bons serviços prestados ao clube, foi convidado para o profissional, onde soma oito anos. Em suas mãos está a missão de organizar os uniformes dos atletas, tanto de jogo, quanto de treino. “Tenho que deixar tudo pronto. Camisa, chuteira, meião... Nós temos que prestar atenção nos gramados, porque quando está chovendo, os jogadores preferem a trava. Mas quando o tempo está bom, eles usam o cravo de borracha. Vai depender do jogador”, relata o trabalhador.

Querido entre atletas, diretores e outros funcionários do clube, Leguelé não deixa que os momentos de euforia atrapalhem seu serviço. Redobra a atenção para manter as roupas organizadas, mas não perde o sorriso que contagia os rubro-negros. Ele sabe também as informações e produtos fornecidos pela empresa que produz o padrão leonino, a Adidas, além de colher dos atletas suas preferências de vestes. Sob os cuidados do Leguelé estão desde os jogadores mais vaidosos, até os que preferem uma vestimenta mais séria.

“Os jogadores gostam de estar bem vestidos. Quando pegamos o material, já sabemos a quantidade de camisas que os atletas terão direito. Quando há empate ou vitória, o jogador tem direito a duas camisas. Na derrota, só podem pegar uma cada um. Temos estoque e a Adidas sempre traz mais”, explica. “O jogador mais vaidoso que peguei aqui no Sport foi Marcos Aurélio – um dos principais atletas que ajudaram o Sport subir, em 2013, para a Série A -. Ele me dava um dos perfumes dele e sempre que tinha jogo ou treino, a camisa dele tinha que ficar perfumada. Só entrava em campo cheiroso. Sempre gostava de calção folgado e camisa apertada”, complementa o roupeiro, enfatizando que Marcos Aurélio é um dos seus grandes amigos no futebol.

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Nenhum visual nos conformes da moda esportiva é válido caso o atleta não honre a camisa do clube. E nos momentos de insucessos, torcedores cobram empenho de diferentes maneiras. Por outro lado, ainda existem as torcidas adversárias, que nem sempre recebem o elenco do Sport de forma amigável. Em casos como esses, entra em cena um rubro-negro que, além de torcedor, é um dos responsáveis pela segurança do clube.

 

Ivan Araújo da Silva, 53 anos, é segurança do clube. São mais de 30 anos defendendo as cores vermelha e preta. Passou por situações perigosas, manteve posição firme, precisou se impor. Mas a postura de durão cai por terra quando há lembranças de algumas derrotas leoninas, como os títulos pernambucanos perdidos para os rivais. Conhecido como Pelé, Ivan chegou ao clube por indicação de um parente e até hoje não deixou de cuidar da Ilha do Retiro e mais recentemente do Centro de Treinamento do Leão. 

Uma "acusação" que dá risos nos rubro-negros

Ídolo da torcida do Sport, o goleiro Magrão também é muito querido entre os funcionários do clube. São mais de dez anos prestados ao futebol do Rubro-Negro, além de uma relação forte e contínua com homens e mulheres que soam a camisa para deixar tudo em perfeitas condições para que os atletas façam o melhor dentro de campo. De acordo com o arqueiro, esses trabalhadores são essenciais para manter o bem estar dos atletas.

Em entrevista ao LeiaJá, o goleiro lembrou nomes de funcionários que horam seus trabalhos no Sport. Falou do Leguelé, do Pelé, e de tantos outros nobres trabalhadores. Mas o ar de seriedade do goleiro se desfez ao lembrar o massagista conhecido pela massa rubro-negra como Mema. Em tom de brincadeira, Magrão diz que o massagista também é habilidoso em prestar serviços para os atletas leoninos. É o famoso ‘quebra galho’, principalmente quando o elenco está confinado na concentração.

Edson Batista, o Mema, de 52 anos, é um dos poucos funcionários dos clubes pernambucanos reconhecido pela grande massa de torcedores. A forma como corre para acudir os atletas machucados arranca sorrisos e aplausos das arquibancadas. Sobre a brincadeira de Magrão, o trabalhador entre no clima descontraído e diz que precisa receber boas quantias em dinheiro para comprar utensílios do dia a dia para os jogadores, como escova de dente, toalha, sabonete, entre outros.

“Magrão sempre esquece a pasta de dente, escova... E diz que depois traz o dinheiro pra mim. Com esse negócio, a gente traz e ele não paga. Diz que o dinheiro está no carro ou que esqueceu em casa. Termina não pagando. Trago coisas boas e por isso que são caras”, diz Mema, aos risos.

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