Criança trans é proibida de participar de torneio

A Confederação Brasileira de patinação vetou a participação da criança no Sul-Americano que acontece em Santa Catarina

por Luan Amaral qua, 10/04/2019 - 12:05
Arquivo pessoal Maria foi vice-campeã brasileira Arquivo pessoal

No dia 23 de abril começa o Campeonato Sul americano de patinação 2019 em Joinville, Santa Catarina. Maria Joaquina Cavalcanti Reikdal, de 11 anos, tem sua vaga garantida para o torneio, mas foi impedida de participar pela Confederação Brasileira por ser uma criança trans.

Maria participa regularmente de competições da patinação e sofre com proibições e restrições como explica em entrevista ao site Ponte o pai Gustavo Cavalcanti de 37 anos que é professor e empresário.

“Não é fácil, a gente briga para que ela exista socialmente. Se a gente não faz isso, ela não existe. No colégio, ela viraria menino porque chamariam pelo nome de registro. Ser pai de uma criança trans é uma luta diária, não consigo nem sequer viajar sem brigar, acham que estou raptando ela. As pessoas veem o documento e perguntam: Cadê ‘ele?’. É um constrangimento todo dia”, disse.

Foi para o e-mail do pai Gustavo, que a Confederação Brasileira de patinação informou que a filha, vice-campeão brasileira, estaria impedida de participar da competição por ser uma criança trans.

“O Comitê Executivo da Confederação Sul-americana de Patinagem, com base nos Estatutos e Regulamentos vigentes desta Confederação Regional, informa que só se permite que compitam em seus eventos patinadores cujos documentos de identidade confirmem a que categoria pertencem, ou seja RNI [Registro Nacional de Identidade] masculino = categoria masculina, RNI feminino = categoria feminina”, diz o comunicado.

“Tal conceito não é passível de contestação, uma vez que segue os mesmos critérios da Federação Continental de Patinagem, World Skate America e da Federação Internacional de Patinagem e World Skate” finaliza.

Gustavo entrou em contato com a World Skate na tentativa de reverter a situação e salientou que eles têm a obrigação de aceitar a inscrição de sua filha e recebeu a seguinte resposta:

“Na transição de feminino para masculino, só é necessário manter os níveis normais de testosterona para um homem. Masculino para feminino é um pouco mais complicado. A política mundial de skate trabalha alinhada aos requisitos do IOC (Confederação Olímpica Internacional, na sigla em português COI) e os níveis de testosterona devem ser menores que 5nmol/L por pelo menos 12 meses antes da competição. Além dos níveis de testosterona, há outras normas e condições que atletas precisam aceitar”.

Gustavo explica e garante que ela tem nível de testosterona dentro do permitido que é 0,5 nmol/L.  “A Talia (irmã de Maria), com 9 anos, chegará a 100 de testosterona na puberdade. A da menina também sobe a quantidade do hormônio nessa época. Nem tem vantagem hormonal, ela terá esse processo só depois, não está tendo agora”, argumenta, Gustavo.

“Ela ama patinação, vem do colégio e entra na patinação direto, é onde ela pode ser o que ela é. O sofrimento dela hoje é de achar que as pessoas possam não gostar dela porque era menino, embora seja muito segura de ser uma menina trans. Cada vez fica mais forte a identidade dela”, finaliza.

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