Xadrez: esporte ganha adeptos em meio à pandemia
Jogo de tabuleiro é influência positiva para a mente dos enxadristas em isolamento social
Do ano 700, na Índia, ao modelo atual criado na Europa, durante a segunda metade do século XV, o xadrez é um dos esportes mais praticados do mundo. Exige concentração, visão estratégica e agilidade, além da disciplina inerente aos esportistas. Com essas qualidades, o jogo atrai novos praticantes e torna-se uma influência positiva na mente dos enxadristas.
Embora não haja um número oficial de praticantes de xadrez, as plataformas de jogos online registraram um aumento considerável na quantidade de adeptos do esporte no ambiente virtual em meio à pandemia. Uma reportagem do portal GE mostra que o site Chess teve 13 milhões de perfis criados por praticantes da modalidade. Em outro levantamento, desta vez realizado pelo jornal O Estado de S. Paulo, também no Chess, pouco mais de 9 milhões de partidas foram disputadas nos tabuleiros digitais entre março e junho de 2020. No mesmo período, em 2019, cerca de 5 milhões de pessoas jogaram xadrez online.
A universitária Nathalya Camargo, 19 anos, sempre quis aprender a mover as peças de acordo com as regras do tabuleiro quadriculado. No entanto, a familiaridade com o jogo só veio em 2016, quando começou a praticar no clube de xadrez da escola em que estudava. "Minha maior dificuldade era conseguir montar estratégias e perceber as intenções do adversário no tabuleiro", conta a jovem. Ela acredita que a modalidade não tem um aprendizado tão complexo. "O esporte em si não é difícil, mas precisa de tempo para ser aperfeiçoado e, para isso, o jogador precisa ter paciência e, principalmente, saber perder", complementa.
A enxadrista Nathalya Camargo com os prêmios no esporte | Foto: Arquivo Pessoal
Além do xadrez ter se tornado uma via de acesso para conhecer pessoas que passaram a fazer parte de seu convívio, o jogo também proporcionou à Nathalya expandir os horizontes mentais. É no esporte que a enxadrista busca inspiração para outras atividades do cotidiano. "Percebo que penso estrategicamente em outras áreas da minha vida, como quais tarefas eu devo priorizar, se eu quero conseguir algo, quais são os passos para isso. O xadrez ajuda com a paciência e o raciocínio lógico", conta. Ainda segundo a estudante, a evolução conquistada a cada partida é uma recompensa prazerosa. "É um jogo muito divertido, e vai ficando cada vez melhor conforme me aprofundo. Demanda tempo, esforço e até dinheiro para participar de torneios, mas eu recebo tudo de volta em forma de satisfação. Todos deviam aprender a jogar xadrez, mesmo que seja como um hobbie. Vale a pena", recomenda.
Xadrez: plataforma de aprendizado
Foi no esporte que a bancária Adriana Fragoso, 51 anos, encontrou a solução para amenizar a dificuldade cognitiva do filho, Luiz Fernando Fragoso, 13 anos. A iniciativa de inscrever o filho no xadrez do programa municipal Iniciação Esportiva, em Guarulhos (SP), tinha como expectativa o desenvolvimento do adolescente. "Imaginei que iria ajudar ele a evoluir o raciocínio intelectual, até mesmo o emocional, e, realmente, foi isso que aconteceu. O Luiz passou a ficar mais atento, o jogo fez com que ele pudesse pensar com mais calma para tomar uma decisão ou atitude", explica a mãe.
A bancária Adriana Fragoso e o filho, Luiz Fernando Fragoso | Foto: Arquivo Pessoal
Segundo Adriana, o filho, que nasceu com uma pequena deficiência intelectual, é competitivo e, no início, só queria aprender como vencer a disputa. "A dificuldade foi entender o jogo e como fazer para ganhar e dar xeque-mate. Mas, quando o professor deu a ele um manual, com um caderno de exercícios e práticas, as facilidades de entendimento e posição de peças ficaram mais claras para ele", comemora. A evolução de Luiz só não foi maior porque as aulas foram interrompidas devido à pandemia. "Hoje, retardou um pouco o processo de raciocínio e estratégia que ele estava aprendendo no jogo. Mas, as táticas do xadrez o ajudaram ainda mais na comunicação verbal e cognitiva", complementa.
Disciplina, esporte e saúde
Para o professor de xadrez, Laércio Correia Filho, além de conhecer as regras, a disciplina, como em todos os esportes, é apenas mais um dos pontos essenciais para aprender a jogar no tabuleiro. "É fundamental para o jogador de xadrez a dedicação ao estudo e ao treinamento constante. Tudo no jogo pode ser considerado decisivo. Os dois jogadores têm que estar atentos, o emocional e a experiência contam muito. Temos o fator tempo, mas, como é uma batalha de mentes, aquele que está mais concentrado, mais calmo pode ter um fator mais que decisivo", aponta ele, que coordena a modalidade em Guarulhos (SP).
O professor Laércio Correia Filho durante uma partida com Luiz Fernando Fragoso | Foto: Arquivo Pessoal
Segundo o enxadrista, não é apenas na esfera esportiva que a modalidade pode ser aplicada. A influência do jogo pode estar presente em diversos aspectos do cotidiano. "Além de ser um dos esportes da mente mais conhecido e jogado no mundo, tem inúmeros benefícios, como memorização, empatia, resolução de problemas e tomada de decisões, socialização, formação de caráter, imaginação, criatividade e aceitação de regras. Também há estudos que mostram que algumas doenças são prevenidas pela prática do xadrez, entre elas o Alzheimer e muitas doenças senis", conclui o professor.