Procurando o "humano" fora das pessoas

Diego Rocha, | qua, 27/08/2014 - 16:09
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Desde muito tempo no passado, desde a Grécia antiga pelo menos, usamos as mais variadas criaturas para contar nossas histórias. Esse tipo de história é o que chamamos de "fábulas" e é daí que vem o termo "fabuloso": uma coisa além do normal, inimaginável, mágica... como uma lebre e uma tartaruga discutirem os termos de uma aposta... e a tartaruga vencer. Mas por que, mesmo a gente faz isso?

Estudando Semiótica, o pesquisador Antônio Fidalgo explicou uma coisa simples: estudar os animais e seu comportamento é estudar o homem. Quando pensamos numa colmeia de abelhas e chamamos uma de rainha, outras de operárias e assim por diante, estamos pensando nas pessoas e comparando os comportamentos de rainhas e de operários. Fazemos a mesma coisa quando vemos o alpha de uma matilha de lobos e trazemos a ideia desse comportamento para nos referirmos a pessoas que agem dessa forma.

Mas falando sobre o cinema temos grandes exemplos de qualidades humanas transferidas para animais. Por exemplo: Lassie era uma companheira leal e dedicada além de ser sagaz e excelente em desvendar crimes. Nemo e seu pai são o exemplo de uma família resiliente frente aos perigos e à imensidão do mundo. Até mesmo Wall-e e sua amiga Eve representam, em um relacionamento sem palavras, esperança e companheirismo num mundo devastado. Mas podemos olhar para filmes mais recentes e ver certos detalhes.

Nos filmes da franquia Planeta dos Macacos podemos perceber algumas ferramentas que humanizam os macacos. Percebemos vários closes e movimentos de câmera que focam em detalhes bem definidos como gestos de mão ou mesmo nas expressões faciais e olhares. A tecnologia atual permite que se faça uso dessas ferramentas pela computação gráfica, recursos de reconhecimento facial e mesmo maquiagem como antes não dispúnhamos. 

No filme lançado este ano, Cesar e seu bando vivem no que aparenta ser o equivalente à condição humana entre os períodos paleolítico e mesolítico, onde já existe uma divisão de tarefas, uma organização tribal, mas as suas ferramentas ainda são mínimas ou nulas. Os membros do bando começam a fazer uso de elementos simbólicos (como as fêmeas usarem adornos de cabeça que as diferencia). Apesar de toda essa  diferença na aparência, a delicadeza nas intenções parece mais clara, a capacidade de perdoar do líder, o cuidado entre eles e assim por diante. Mesmo os macacos mais violentos deixam os mais gentis mais óbvios. Nós nos vemos naqueles macacos como nos vemos na multidão.

Outra franquia que lançou mais um capítulo esse ano foi Transformers. Esses robôs alienígenas gigantes vieram à Terra depois que seu planeta "morreu" combatem sua facção rival (os Decepticons) e aqui assumiram o dever de proteger o nosso planeta. O tempo passa, as ameças mudam, mas seu voto permanece.

Embora se trate de robôs gigantes, várias técnicas são aplicadas para sua humanização. A postura física que eles assumem, os veículos em que cada um se transforma representa algo de sua natureza como o grande caminhão (estabilidade e confiança), o carro esporte (jovialidade e disposição), o caminhão de lixo (o serviço sujo que precisa ser feito em prol da comunidade). Outro exemplo: usa-se o óleo do seu funcionamento como sangue, de modo a expressar visualmente o impacto de um golpe. O fato de serem robôs tornaria isso desnecessário, mas todos eles tem ROSTOS. Nós nos vemos naqueles robôs gigantes como em nossas vidas.

E uma franquia que está retomando com força total o sucesso de anos atrás é Tartarugas Ninja. O enredo fala sobre esses personagens mutantes vivendo nos esgotos de Nova York, que adoram pizza, que lutam para proteger as pessoas da cidade, que lutam contra um grupo de ninjas malignos (o Clã do Pé).

O interessante nesse contexto é que as tartarugas expressam as qualidades dos ninjas das histórias: sua lealdade, sua honra e assim por diante. Para além disso, as tartarugas e seu mentor (um rato mutante chamado Splinter) se tratam como uma família. Todas as dinâmicas de uma família são retratadas, como a criação da identidade que diferencia os irmãos, os conflitos e as discordâncias entre si e com seu "pai", mas acima de tudo a sua união. Nós nos vemos naquelas tartarugas como em nossas famílias.

Então as fábulas estão aí no cinema com força total! E o motivo para isso é que elas nos permitem entender certas coisas e olhar para nós mesmos de uma forma diferente! Não existe limite para o que podemos entender dando vida a animais, seja na mitológica coruja que pousava no ombro da deusa Atena, seja no guaxinim espacial e suas armas de grosso calibre!

E caso alguém não conheça, aquele coelho lá em cima é Roger Rabbit e ele marcou um momento de retorno das animações às telonas mesclando desenho e pessoas.

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