Jovens fazem jejum de Facebook e até seriados na Quaresma
Período é envolvido por penitência e jejuns que são tomados formas modernas por fiéis
O Carnaval foi embora há quase um mês, deixando muitos já na contagem regressiva para a festa no próximo ano. Mas, para outros tantos, uma contagem diferenciada, de 40 dias, se iniciou na Quarta-feira de Cinzas: a Quaresma. Nesta época do ano, para os católicos, é comum a realização de tipos de jejuns, um processo que precisa ser difícil, mas cumprido à risca como forma de evolução do ser humano.
Os 40 dias que antecedem a Sexta-feira Santa - este ano marcada para 23 de março - são conhecidos entre os cristãos como período da Quaresma. Criado pela igreja católica no século IV, o tempo existe tradicionalmente para incentivar a prática da oração e do jejum de carne após o período carnavalesco. A ação, no entanto, tem sido atualizada pelos fiéis nos últimos anos: redes sociais, músicas, doces e outros costumes, mais modernos, entraram no "cardápio" de privações dos católicos, principalmente os mais jovens.
O padre Moisés Lima, chanceler da Cúria Arquidiocesana, explicou que “a Quaresma é um retiro de toda a Igreja por quarenta dias, durante os quais ela propõe a seus fiéis o exemplo de Cristo em seu retiro no deserto, período no qual rezava e jejuava. Assim, a Igreja prepara-se para a celebração da Páscoa, propondo a penitência, a purificação e a prática mais intensa da caridade e da oração na vida cristã”. O padre ainda acrescenta qual a intenção final de adotar algum tipo de abstinência. “O apelo de Jesus à conversão e à penitência não visa primariamente às obras exteriores, os jejuns e as mortificações, mas a conversão do coração, a penitência interior, pois sem ela as obras de penitência são estéreis e enganadoras. A intenção final é a conversão do coração”.
A ingestão de carne, por anos, foi a opção adotada como abstinência de muitos cristãos. No entanto, com o acesso cada vez maior de meios pelos quais as pessoas se tornam mais dependentes, a renúncia mudou de alvo.
O estudante de gestão da informação Deyverson Santana, de 23 anos, optou por passar os 40 dias longe do Facebook e do Instagram. “Decidi que sairia do Facebook e do Instagram através de um testemunho de um amigo. Ele publicou que desapegaria daquela rede social na Quaresma e aquilo me tocou. Parei, refleti e segui o exemplo”, explicou à reportagem.
Indagado sobre como estava sendo os primeiros dias longe das páginas, Santana classificou como “muito difíceis”. “Desinstalei os Apps do celular. Tenho muita vontade de usar, mas o propósito com Deus tem sido um fator crucial para eu conter a minha vontade. Espero que a Quaresma contribua para que depois eu use o Facebook, mas não seja tão fissurado nele quanto antes”, declarou.
De acordo com o padre Moisés, “abstinência significa renúncia. Abster-se de carne na Quaresma é uma foram de penitência, mas é possível fazer renúncia de outras ações que nos custam um pouquinho. Há jovens que renunciam nesse tempo o uso de redes sociais, por exemplo. Para uma pessoa habituada a estar conectada sempre, isso vai lhe custar. Contudo, é importante que a ação penitencial externa vá unida à prática da misericórdia. Por exemplo, uma pessoa que escolhe renunciar às redes sociais deve buscar estar mais conectada a Deus na oração, buscar o sacramento da confissão, dar atenção aos pais ou aos avós, visitar uma pessoa enferma ou idosa, mudar de comportamento, entre outras formas”, esclarece.
Já a administradora Catarina Espírito Santo (foto acima) resolveu se abster de assistir seriados durante os quarenta dias que precedem a Páscoa. “Assistir séries estava me fazendo mal. Passou a ser vício e isso estava me prejudicando. Eu estava dividindo minha atenção aos estudos com o hábito intenso de ver as séries”, explicou a administradora. “Eu usava a desculpa de não estudar para assistir as séries. No caso, os seriados serviam de fuga para a minha falta de vontade em me dedicar aos estudos”, disse Catarina ao contar que em todos os anos ela realiza tanto abstinência como penitência, inclusive fazendo jejum de carne.
O professor de educação física, Victor Diniz, resolveu, em 2016 fazer abstinência de jogos eletrônicos. O rapaz afirma que costumava dedicar de 1h a 1h30, mas resolveu se afastar dos jogos eletrônicos como Leage of Legends. “Resolvi parar porque esse tempo é um tempo muito perigoso e uma época muito propícia à conversão e passar a olhar mais pra cristo. Afinal a Quaresma é o período que Jesus passou no deserto passando por provações e, neste período nós tentamos acompanhar o sofrimento de cristo. Então a ideia é carregarmos a cruz com a finalidade de obter mudança e ver o que é necessário ou não é pra sua vida”.
Entre as tantas possibilidades de penitência, Victor afirmou que está realizando cerca de quatro abstinências. Nesta lista está incluído também o afastamento músicas. “Resolvi abrir mão de escutar músicas ditas do mundo. No caso, a busca voluntária por essas músicas, o que difere de, caso esteja na rua e tocar, não posso evitar”, detalha.
Pegando o gancho dos quarenta dias de abstinência, a equipe das editorias de Notícias, Tecnologia e Política do Portal LeiaJá também resolveu adotar a medida. Doces, consumo de refrigerantes, ingestão de carne e até mesmo mudanças de ações foram tomadas pelos nossos profissionais durante a Quaresma com a finalidade de desarraigar hábitos que eram julgados como ruins para a vida de cada um.
O jejum
A Quaresma é um período de abstinências, no entanto, o jejum é uma ação obrigatória em dois dias no ano, pois, nestes dias, a alimentação fica restrita a apenas uma refeição ao dia. “A Igreja, assim como Cristo, insiste principalmente na necessidade da conversão do coração, na penitencia interior. A conversão interior impele à expressão dessa atitude com sinais visíveis, gestos e obras de penitência. As práticas recomendadas são: oração, caridade e o jejum. O jejum como tal está previsto como obrigatório em dois dias do ano, a quarta-feira de cinzas e sexta- feira da paixão. O jejum consiste em só realizar uma refeição completa nesses dois dias e as outras duas em quantidade reduzida. É obrigatório nesses dois dias para os católicos maiores de 18 anos e até 60 anos. Fora disso, cada pessoa pode escolher alguma renúncia para poder se unir mais espiritualmente a Cristo, para poder ser mais generoso ou fazer gestos concretos de caridade para com os mais necessitados”.
Com colaboração de Giselly Santos