Prefeito de Catende é preso com R$ 758 mil
Na residência de Otacílio Alves Cordeiro (PSB), também foi encontrada uma barra de ouro no valor de R$ 40 mil. Polícia diz que o gestor comandava uma organização criminosa que fraudava licitações do município
A Polícia Civil de Pernambuco explicou em uma coletiva de imprensa, nesta sexta-feira (3), que o prefeito de Catende, Mata Sul de Pernambuco, Otacílio Alves Cordeiro (PSB), comandava uma organização criminosa que fraudava licitações do município e gerou um prejuízo estimado em R$ 5 milhões das verbas públicas. A prisão preventiva do político foi deflagrada nessa quinta-feira (2) pela Operação Tsunami e em sua residência os policiais encontram uma quantia de R$ 758.437 e uma barra de ouro no valor de R$ 40 mil.
A investigação da Polícia Civil teve início após a Procuradoria Geral da Justiça encaminhar ao Tribunal de Justiça algumas denúncias da gestão municipal de Catende, citando vários contratos licitados de forma irregular. Além do prefeito, foram presas outras dez pessoas na operação, incluindo o filho dele, Ronaldo Alves Cordeiro, secretário de finanças, e a nora, esposa de Ronaldo, Andrezza Pais. Foram apreendidos documentos, dinheiro, armas de fogo, computadores e celulares dos envolvidos. Os mandados foram cumpridos nas cidades de Catende, Palmares, Cupira, Altinho, Quipapá e Recife. Cerca de 200 policiais participaram da ação.
Durante a operação, Patrícia Domingos, titular da Delegacia de Crimes Contra a Administração e Serviços Públicos (Decasp), relatou que ao entrar no térreo da casa do prefeito, a estrutura fixa da residência era muito humilde, com móveis simples e aparência regular. "Em seguida ele nos informou que o primeiro andar era alugado para um casal de idosos e que não havia energia lá. Quando subimos para o andar de cima, o patamar subiu bastante. Eram móveis de luxo e uma casa totalmente diferente do térreo. Parecia uma casa de luxo. O dinheiro foi encontrado após os agentes da polícia pedirem a chave de uma gaveta trancada em um dos quartos", explicou.
O térreo, parte humilde da casa, era utilizado de fachada, apenas para receber os eleitores. O prefeito contou que por caridade as vezes dava algum dinheiro para populares que o visitavam. Em depoimento, Otacílio não soube explicar a origem do dinheiro e não sabia o valor exato de cédulas que estavam dentro de sua casa. De acordo com a polícia, Ronaldo, filho do prefeito, era o responsável direto pela maioria dos contratos licitados, especialmente para os contratos do Posto Canavieiro, que estava sob gestão de sua esposa Andrezza. No posto foi encontrada a quantia de R$ 438,748,50. Para a delegada Patrícia Domingos, os suspeitos tiveram um crescimento patrimonial injustificável, que não souberam explicar o surgimento. Ao todo, a quantia apreendida na operação foi de R$ 1.306.377,95.
Fraudes
Uma das licitações contratadas foi a de uma empresa, de uma única pessoa física, para colocar forro em uma escola do município de Catende. "Quando fomos investigar, o homem contratado para o serviço era deficiente físico e só tinha um braço", relatou Patrícia. Em outro contrato licitado, uma mulher foi supostamente contratada para lecionar palestras em uma semana de Ciência e Tecnologia promovida pela Prefeitura. Em depoimento à polícia, a mulher negou qualquer apresentação e não possuía nenhuma instrução para dar palestras no ramo citado pelo contrato.
A cidade tem quatro postos de gasolina. Mas o posto que pertence ao prefeito era sempre o único a concorrer nas licitações da gestão, com o preço da gasolina acima do mercado. "O posto dele, que estava no nome de sua nora, sempre vencia os contratos por estar concorrendo sozinho", argumentou a delgada. Entre as fraudes nas licitações, estavam empresas destinadas a fornecer produtos de informática, quando na verdade, a empresa não vendia nada de informática e sim de produtos de aviamento. "Em um município carente como Catende, com um saneamente básico de baixa qualidade, com hospitais cheios e faltando serviços básicos para a população e o prefeito roubou dinheiro público", criticou Patrícia Domingos.
Um outro fato que intrigou a polícia durante os oito meses de investigação é que um dos sócios do posto de gasolina, que trabalhava em uma das fazendas de Otacílio Alves, veio à óbito e mesmo assim, seis meses após falecer, passou o contrato de ações do posto para a nora do prefeito. "Eles também falsificaram a assinatura de um morto. Não souberam explicar como Andrezza Pais recebeu as ações do estabelecimento com essa assinatura".
Ainda há a Hibi eventos, que é uma empresa do município que promove palestras, gincanas, entre outras atividades. Investigando o contrato de licitação da Hibi com Catende, a polícia analisou que empresa era contratada para realizar reparos de produtos de informática, limpezas urbanas e de açougue. A companhia recebiaaa valores acima do mercado e não realizava as funções que na teoria estariam sendo pagas.
Operação
Ao todo, foram apreendidas 12 armas e 170 munições. São sete espingardas, um rifle de calibre 44, dois revólveres e uma pistola calibre ponto 40, restrita de uso a forças policiais e militares. Além das fraudes licitatórias que já foram comprovadas, o prefeito declara uma renda na Receita Federal e em sua conta movimenta 300% a mais do que o valor apresentado. Quatro dos envolvidos trabalham na Comissão de Licitações da Prefeitura de Catende no período de 2011 a 2012.
Ao todo, foram cumpridos 11 mandados de prisão preventiva. Os envolvidos foram encaminhados ao Centro de Triagem, em Abreu e Lima, na Região Metropolitana do Recife, e as mulheres levadas para a Colônia Penal Feminina Bom Pastor. O caseiro das fazendas e sítios de propriedade do prefeito foi o único preso em flagrante. Jorge Pedro Marcelino foi preso por porte ilegal de arma de fogo com três espingardas e um rifle. Ele falou em depoimento que todas as armas eram de posse do prefeito.
Todo o dinheiro apreendido na Operação Tsunami fica à disposição da Justiça. As investigações devem seguir com a ouvida de novos suspeitos que podem ter envolvimento nos crimes. A polícia apreendeu diversos documentos na sede da Prefeitura, incluindo contratos mais recentes que serão investigados.