Estado Islâmico reivindica autoria de ataque em Liège
As autoridades tentam agora determinar se ele agiu sozinho
O grupo Estado Islâmico reivindicou nesta quarta-feira, 30, a autoria do ataque que matou duas policiais e um civil na terça-feira, 29, em Liége, Bégica. Segundo um site de propaganda dos terroristas, o homem que cometeu o ataque - morto depois em uma troca de tiros com a polícia - era um "soldado do califado".
Mais cedo, promotores belgas afirmaram que o homem cometeu um "assassinato terrorista" e poderia ter a intenção de causar mais mortes. As autoridades tentam agora determinar se ele agiu sozinho. A polícia informou que no dia anterior ao ataque, na segunda-feira, ele teria matado uma outra pessoa.
Benjamin Herman, de 31 anos, era um detento e estava em uma licença de dois dias quando atacou duas policiais, apunhalando-as repetidamente. Depois disso, roubou suas armas e disparou contra elas, segundo as autoridades. Em seguida, ele atravessou a rua e realizou diversos disparos contra um homem de 22 anos que estava dentro de um carro. Então, levou uma mulher como refém para dentro de uma escola nas proximidades. Quando a polícia cercou o local, Herman correu para a calçada, atirando contra os policiais, foi baleado e morreu. Quatro agentes ficaram feridos.
Segundo os promotores, o homem gritou "Allahu akbar" (Alá é grande, em árabe) várias vezes. A juíza federal belga Wenke Roggen disse que o ataque foi considerado "assassinato terrorista e tentativa de homicídio terrorista". Ela explicou que o modo de agir - atacar policiais com facas e roubar suas armas - é semelhante ao mostrado em vídeos do Estado Islâmico.
Wenke acrescentou que o homem também estava em contato com pessoas radicalizadas. Segundo a juíza, o ataque começou do lado de fora de um café. Wenke explicou que ele entrou e saiu do local algumas vezes depois de atirar nas policiais, mas os clientes do estabelecimento fugiram ou se esconderam graças à ação rápida do dono do local.
Quarta vítima
Nesta quarta, as autoridades belgas confirmaram que o atirador de Liège assassinou uma pessoa na segunda-feira. Segundo o ministro do Interior belga, Jan Jambon, a vítima era um ex-detento que esteve preso junto com Herman. Jambon afirmou que o homem morreu atingido por um objeto pontiagudo na cabeça.
Sobre o ataque de terça, o ministro disse que a mulher feita refém dentro da escola pode ter derrubado o atirador e, assim, evitado mortes dentro da escola. Jambon, o primeiro-ministro belga, Charles Michel, e o rei Philippe visitaram a vítima no hospital, onde estava sendo tratada. "Ela foi muito corajosa", afirmou.
A refém foi identificada apenas pelo seu primeiro nome, Darifa. Ela chegou a falar com a TV estatal RTBF, e afirmou que Herman queria "agitar" a polícia. Ele perguntou se Darifa era muçulmana e se estava observando o mês sagrado de jejum do Ramadã.
"Ele me disse: 'não se preocupe, não vou fazer nada. Escute, faça o que eu disser, mas não se preocupe. Eu não vou fazer nada com você'", revelou Darifa. Ela disse que Herman jogou seu documento de identidade no chão antes de sair correndo para confrontar a polícia. "Eu acho que ele sabia que tudo estava acabado para ele. E saiu."
Segundo Jambon, a investigação sobre o incidente vai incluir as circunstâncias sob as quais Herman foi liberado da prisão. Além disso, um investigador especializado em terrorismo pediu autópsias dos mortos e um exame toxicológico do terrorista.
Histórico
De acordo com as informações dos promotores, o atirador teve uma série de desentendimentos com a polícia desde quando era menor de idade. Herman foi condenado por crimes envolvendo agressão, drogas e insubordinação.
Apesar da declaração da juíza Wenke sobre seu contato com outras pessoas radicalizadas, Jambon afirmou que se trata de um caso isolado. "Ele não fazia parte de uma rede, não recebia instruções de ninguém, então não há necessidade de elevar o nível de alerta terrorista", disse, acrescentando que os investigadores não têm informações precisas sobre qualquer outro possível ataque.
Questionado sobre como duas policiais foram desarmadas, o ministro elogiou o trabalho dos funcionários envolvidos, ressaltando que "a polícia fez um trabalho extraordinário". "Eles reagiram bem. Todos os sistemas, todos os procedimentos funcionaram. Mas se você é atacado por trás, como foi o caso das duas policiais, você não pode fazer nada."
As policiais foram identificadas como Soraya Belkacemi, de 44 anos, e Lucile Garcia, de 54 anos. O passageiro morto dentro do carro era Cyril Vangriecken, de 22 anos. Ele se preparava para se tornar professor em uma escola primária.
O ataque abalou a Bélgica, onde policiais e forças militares trabalham para proteger prédios públicos há dois anos, desde que ataques suicidas coordenados no aeroporto de Bruxelas e no metrô mataram 32 pessoas e feriram centenas em 22 de março de 2016.