Após morte de bebê, mãe denuncia descaso na Barros Lima
A jovem, de 23 anos, peregrinou por quase um mês para conseguir dar à luz. Na Maternidade Barros Lima, ela diz que, por conta da negligência médica, o seu filho morreu
Uma jovem de 23 anos denuncia negligência médica na Maternidade Barros Lima, localizada em Casa Amarela, Zona Norte do Recife. Segundo Ellem Cardoso de Santana, seu filho morreu em sua barriga após descasos vividos na unidade de saúde. A jovem afirma que a equipe médica da maternidade ainda forçou para que o feto fosse expelido de sua barriga através de um parto “natural”, aplicando medicamentos após estourar a bolsa de água. Antes da morte do bebê, a jovem peregrinou por quase um mês para que o parto fosse realizado.
O primeiro socorro aconteceu no dia 27 de dezembro. Com 8 meses de gestação, Ellem foi levada pelos familiares para o Posto de Saúde da Família (PSF), do bairro de Casa Amarela. Sentindo muitas dores, a jovem foi orientada pela médica da PSF para que procurasse atendimento na maternidade do Hospital Agamenon Magalhães, também localizado no mesmo bairro.
Na unidade, a jovem foi atendida, medicada e, em seguida, recebeu alta médica. Pouco tempo depois, no dia 31 de dezembro, Ellem sentiu novas dores e procurou atendimento na Maternidade Professor Barros Lima, situada na Avenida Norte, Casa Amarela, onde escutou a mesma coisa: “Não está na hora do bebê nascer”. Por isso, tomou uma medicação e recebeu alta, conforme relata.
Reclamando de dores mais fortes, na última sexta-feira (18), às 5h15 da manhã, Ellem Cardoso retornou à Barros Lima, onde só foi atendida às 9 horas e 45 minutos da manhã, exatamente quatro horas e meia depois de sua chegada na unidade.
Na triagem, “a médica falou que não tinha ninguém para fazer a ultrassom e teria que estourar a minha bolsa de água”, relembra Ellem, com exclusividade ao LeiaJá. Segundo a jovem, foi nesse momento que médica revelou à gestante: “Você vai ser internada, mas se conforme porque o seu bebê já está morto”.
“A médica disse à minha mãe que o meu filho tinha feito cocô na minha barriga”, lembra a jovem, que mesmo correndo risco de vida, já que o bebê defecou dentro dela, foi obrigada pela equipe médica a passar pelo parto “natural”.
Ellem relata que a médica responsável colocou um comprimido pela via vaginal, para forçar o corpo da gestante a expelir o feto. “Meu filho nasceu todo roxo, com a língua para fora (da boca) e com o cordão umbilical todo enrolado em seu corpo, dos pés a cabeça”, recorda.
A jovem garante que, quando chegou na maternidade Barros Lima, sentia o seu bebê mexendo e em momento nenhum passou pela sua cabeça a possibilidade do seu filho estar morto, até o momento em que foi atendida pela equipe médica da unidade de saúde.
“Tudo aconteceu quando ela (a médica) estourou a minha bolsa. Foi por conta disso que ele ficou sem ar”, acredita Ellem Cardoso.
Se tivesse nascido vivo, esse seria o seu terceiro filho. Tudo já estava comprado, berço armado, só esperando a chegada do tão esperado bebê. O que não acontecerá mais.
O menino foi enterrado neste último domingo, dia em que Ellem teve alta médica da maternidade. “Eu não queria deixar enterrar o meu filho, foi muito doloroso ver aquilo”, salienta a jovem.
Após o enterro do pequeno, na segunda-feira (21) Ellem Cardoso de Santana precisou procurar por atendimento médico e ser internada porque, segundo afirma, a maternidade Barros Lima não fez a limpeza corretamente e deixou resto de parto dentro dela.
Desde então, a jovem está internada no Hospital Agamenon Magalhães para que os médicos façam os procedimentos necessários. A previsão de alta é daqui a sete dias, quando Ellem poderá, enfim, chegar em casa e rever seus outros dois filhos.
Processo
Os familiares pretendem processar o Estado pela morte do bebê. Eles afirmam que tudo se deu por conta da negligência médica. “Já estamos em contato com o advogado. Não vamos deixar passar barato o que aconteceu”, acentua Luis Eduardo de Jesus chagas, padrasto de Ellem.
O que diz a Secretaria de Saúde
A equipe de reportagem do LeiaJá entrou em contato com a Secretaria de Saúde do Recife, responsável pela Maternidade Professor Barros Lima. Confira a nota na íntegra.
Após análise do prontuário dos atendimentos da paciente na Barros Lima, a direção da Maternidade verificou que a mesma deu entrada na unidade no último dia 2 de janeiro, alegando sentir uma diminuição de movimentos fetais. Ela foi examinada, e nada foi constatado. A maternidade a encaminhou para um exame de ultrassonografia obstétrica, realizado no dia seguinte, com resultado normal.
A paciente voltou à Barros Lima nesta sexta-feira (18), com 4 centímetros de dilatação. Desta vez, não houve escuta fetal. O feto estava morto.
No prontuário que consta na Maternidade há relato de familiares alegando que, no dia 26 de dezembro, durante o pré-natal, a paciente fora diagnosticada com uma infecção urinária. Foi-lhe receitado um antibiótico. Ainda segundo consta no prontuário, a jovem não seguiu o tratamento, com receio pela gravidez. O uso de antibiótico foi reforçado em seu atendimento na Maternidade Barros Lima, no dia 2.
Seguindo todos os protocolos, o caso será encaminhado aos comitês da Secretaria de Saúde para averiguação.