Autismo requer atenção multiprofissional e inclusão

Estudo da Organização Pan-americana de Saúde (OPAS) revela que, no Brasil, uma em cada 160 crianças tem o transtorno

por Brenna Pardal qui, 04/04/2019 - 15:40
Arquivo pessoal Karina Medrado, neuropsicóloga: transtorno tem forte componente genético Arquivo pessoal

Segundo a Organização Pan-americana de Saúde (OPAS), no Brasil, uma em cada 160 crianças tem autismo. O transtorno possui forte componente genético, cerca de 70% dos casos diagnosticados, segundo a neuropsicóloga Karina Medrado. 

Em 2 de abril é celebrado o dia Mundial da Conscientização do Autismo. Durante todo o mês, eventos, palestras, debates e campanhas reforçam a importância do diagnóstico, do tratamento e da inclusão.

Entrevistada pelo LeiaJá, Karina Medrado alerta que os cuidados de especialistas são fundamentais para o desenvolvimento das pessoas autistas.

O que é o autismo?

Autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento de amplo espectro, que pode apresentar algumas características específicas, como: dificuldade para interagir, atraso no desenvolvimento da linguagem, dificuldade para manter contato visual, estereotipias motoras, seletividade alimentar, sensibilidade sensorial, dentre outros.

Existem diferentes graus de autismo?

Sim. O autismo é considerado um espectro exatamente porque os graus em que o transtorno se apresenta são variados. Existe aquela forma mais leve, sutil, que é o caso da Síndrome de Asperger, onde não tem comprometimento intelectual, mas apresenta outras características como a inabilidade social, o hiperfoco em um determinado assunto, a preferência pelo isolamento. Já o autismo de grau médio são os casos daquelas pessoas não verbais, ou seja, que não conseguiram desenvolver a linguagem ou que desenvolveram de forma limitada. Os casos severos são aquele onde existe um comprometimento importante em vários aspectos, como estereotipias motoras excessivas ou comportamento autolesivo.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico é realizado por um médico neuropediatra ou psiquiatra infantil. Paralelo a isso, a criança é avaliada por um neuropsicóloga ou psicólogo especialista na área que vai avaliar com protocolos específicos para autismo, se a criança apresenta um desenvolvimento adequado para sua idade; se possui atraso cognitivo; características que envolvem o transtorno. Sempre com base nesses instrumentos de avaliação e experiência clínica na área.

O que desencadeia o transtorno? Fatores hereditários, metabólicos ou o problema ocorre ao acaso?

O fator genético ainda é o de maior importância, apontando uma incidência em 70% dos casos. Hoje já sabemos que nós temos mais de cem genes compatíveis com o autismo, e que através de uma mutação pode ocorrer a predisposição. Existem outros fatores que podem contribuir. Algumas pesquisas apontam também para o contato com substâncias tóxicas, mas o fator genético ainda é o mais significativo.

Existe tratamento? Como funciona?

Sim. O tratamento deve ser realizado em equipe multiprofissional para que cada um possa trabalhar um aspecto específico. Neuropediatra, para trabalhar questões relacionadas à medicação e demais comorbidades. Neuropsicóloga, para avaliar se existe comprometimento cognitivo e o grau, posteriormente seguir com a terapia cognitiva comportamental para estimulação e treino de habilidades sociais. O terapeuta ocupacional, que trabalha aspectos relacionados à estimulação sensorial. O fonoaudiólogo, para o desenvolvimento da linguagem. Quando se fala em autismo se fala um conjunto de terapias de propiciem a maior estimulação da criança. Quanto mais cedo o diagnóstico, maior as chances de desenvolvimento da criança.

Como funciona o aprendizado de uma criança autista na escola?

O aprendizado deve ser inclusivo, com um plano individual que considere o momento da criança, com estratégias específicas de aprendizado para ela, material escolar inclusivo para autismo, provas adequadas e estimulação correta por parte dos profissionais.

Como o diretor da escola pode garantir a inclusão de alunos com autismo?

Primeiro possibilitando o ingresso dessas crianças diagnosticadas com TEA (Transtorno do Espectro Autista) na escola. Depois proporcionando a todos os profissionais que atuam no ambiente pedagógico o treinamento necessário, com informação sobre o autismo e suas formas de intervenção.

Quais as recomendações para os pais que enfrentam dificuldades para matricular os seus filhos?

Procurar orientação com a rede de apoio, profissionais especialistas e grupos de suporte. Buscar por escolas que ofereçam de fato a inclusão, não apenas porque se denominam inclusivas, mas porque têm estrutura pedagógica para ensinar essas crianças.

 

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