São Jorge: devoção que vai além do catolicismo

Além de ser cultuado na igreja católica, o santo também é um forte símbolo nas religiões de matriz africana e entre os corinthianos

por Daiane Crema ter, 23/04/2019 - 14:16
Divulgação / CNBB Fiéis celebram o santo guerreiro nesta terça-feira (23) Divulgação / CNBB

Nesta terça-feira (23) é comemorado o Dia de São Jorge, conhecido como o santo guerreiro. Segundo a história católica, Jorge é nascido na Capadócia e pertenceu a um grupo de militares do imperador romano Diocleciano, que perseguia os cristãos. Ele não queria estar a serviço do império perseguidor e opressor, pois era cristão também. Diocleciano tentou fazer com que Jorge desistisse de sua fé, torturando-o diversas vezes. Porém Jorge permaneceu firme em sua crença e lutou até o fim. Tal atitude foi o que serviu de exemplo para a conversão de diversas pessoas ao cristianismo. No dia 23 de abril do ano 303, Jorge foi decapitado.

A profissional de marketing, Leidiane Dantas dos Santos, 27 anos, é devota de São Jorge desde a infância. Aos 15 anos, um amigo dela sofreu um acidente grave que o deixou em coma por quatro meses. Ela pediu ao santo que concedesse um milagre. "Essa foi a graça mais importante que recebi. Teve também a cura do câncer da mãe de uma amiga, e outras graças pessoais, como emprego, bens materiais, diploma, entre outros. Recorro a ele sempre. Quando acho que não vou conseguir algo, peço discernimento, sabedoria, e ele sempre me guia pelos caminhos justos", conta.

Fiéis lotam a igreja de São Jorge, em Quintino, na zona zorte do Rio de Janeiro em comemoração ao dia do Santo | Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

São Jorge não é cultuado apenas na igreja católica. As religiões de matriz africana também celebram o santo. Ogum, como é conhecido na umbanda ou no candomblé, é o orixá da guerra, muitas vezes invocado para abrir os caminhos dos seus seguidores.

Quando os escravos africanos chegaram ao Brasil encontraram muita dificuldade de praticar suas próprias religiões, foi então que decidiram fazer o sincretismo de algumas divindades africanas com santos católicos. Benedita de Lourdes da Conceição, 49 anos, é umbandista e, desde a infância, conhece e acredita tanto em São Jorge como em Ogum. Aos 17 anos, Benedita descobriu uma hérnia e, após orações ao santo, ela conseguiu a graça da cura. Ela também é filha de Ogum, e por meio da mediunidade procura ajudar amigos e pessoas que vão ao centro de umbanda atrás de auxilio. "Uma amiga minha estava passando por um período de dificuldades na vida financeira e afetiva, e eu queria ajudar de alguma forma. Então perguntei se ela tinha fé em Ogum e fiz um trabalho pedindo ao orixá para abrir os caminhos dela", afirma.

São Jorge é comemorado em diversas lugares do Brasil, e ganhou feriado no estado e na cidade do Rio de Janeiro. Segundo os devotos, a capital carioca é onde acontecem as mais belas celebrações e cultos a São Jorge e ao orixá Ogum.

Fé e futebol

Além de ser cultuado nas duas religiões, São Jorge também é padroeiro do Corinthians. Em 1926, o time paulista de futebol, adquiriu sua sede social no bairro que leva o nome do santo, zona leste de São Paulo. Por isso, hoje também é comemorado Dia do Torcedor Corinthiano.

A advogada Mônica Toledo Poso carrega consigo a medalha de São Jorge | Foto: Acervo Pessoal

A advogada Mônica Toledo Poso não é adepta de uma religião, mas torce com fervor para o Corinthians. Foi por meio do time do coração que ela conheceu São Jorge e virou devota. "Na minha casa, o único santo que eu cultuo e tenho em casa é o São Jorge. Tenho quadros, estatuetas e, na porta de casa tenho uma imagem também", comenta ela, que em todos os jogos do time pede proteção aos jogadores.

Junto com alguns amigos, Mônica conta que já fez uma pequena oferenda a Ogum pedindo proteção em um dos jogos de final de campeonato.

COMENTÁRIOS dos leitores