Namoro no trabalho: casais falam dos desafios da relação

Pessoas que começaram um relacionamento no ambiente corporativo afirmam que esse nunca foi um motivo para diminuir a produtividade

por Daiane Crema sex, 08/11/2019 - 14:43

Nesta semana, o CEO da rede de fast food McDonald's, Steve Easterbrook, foi demitido por assumir um relacionamento com uma funcionária. Acontece que uma das regras internas da empresa proíbe relacionamentos amorosos entre pessoas que possuem cargos elevados com os demais funcionários.

Esse tipo de regra ainda é bastante comum em algumas empresas. Muitas pessoas já se deparam com elas logo que participam do processo seletivo. "Algumas empresas perguntam se o candidato tem um relacionamento com algum colaborador da empresa, ou algo nesse contexto. Acontece que ainda está enraizado nas organizações o olhar negativo perante a situação que pode ocorrer dentro do ambiente de trabalho", comenta a consultora de recursos humanos business partner Priscila Siciliano. A analista explica que essa negatividade se dá pela percepção de que o relacionamento amoroso pode prejudicar o comprometimento do trabalho de ambos os profissionais, trazendo prejuízos e conversas desnecessárias.

Há quem diga que isso não interfere na produtividade. É o exemplo do coordenador de projetos em logística Ronaldo Oliveira, 45 anos. Ele e a esposa, Angélica de Mattos Oliveira, 44 anos, que é analista de logística, se conheceram há mais de 20 anos por meio de bilhetes. "Nós dividíamos a mesma mesa em horário diferentes, ela deixava tudo desorganizado, daí eu escrevi um bilhete: 'pode usar, mas deixe do jeito que estava'. E ela respondeu com um bilhete de desculpas muito malcriado", lembra Ronaldo.

Com o tempo, o casal começou a trabalhar no mesmo expediente. Ronaldo virou chefe de Angélica, e eles começaram a namorar. "Os colegas de trabalho da época ficaram felizes com nosso relacionamento e sempre fomos bem aceitos pelos nossos chefes", diz. Ao longo da união foram raras as vezes em que não estiveram juntos no ambiente profissional. "Nós já chegamos a passar 24 horas juntos, e isso nunca foi um problema. Nunca misturamos as coisas. Às vezes falávamos algo sobre o dia, mas nada que interferisse na vida pessoal ou profissional", conta Ronaldo.

Há quase 20 anos, Ronaldo Oliveira e Angélica Oliveira trabalharam juntos | Foto: Acervo Pessoal 

Já os escreventes Danilo Rudic, 39 anos, e Caroline Rodrigues Rudic, 33 anos, participaram do mesmo processo seletivo e começaram a trabalhar juntos. Tinham o costume de almoçar na companhia um do outro e de conversar sobre assuntos do trabalho. Depois de um ano e meio, a amizade virou namoro. "Completamos cinco anos juntos no próximo mês. Ainda trabalhamos onde nos conhecemos, e nossos superiores torceram pela nossa união", afirma Danilo.

Atualmente, o casal não atua no mesmo setor, mas a mudança não foi influenciada pela relação. "Trabalhar junto com minha esposa é bom demais. Gostamos de fazer tudo juntos. Mesmo não estando no mesmo setor, ainda almoçamos juntos todos os dias", conta Danilo.

Os chefes de Caroline Rudic e Danilo Rudic apoiam a união do casal que se conheceu no ambiente de trabalho | Foto: Acervo Pessoal 

Infelizmente não são todas as empresas que autorizam os casais a trabalharem no mesmo setor. É o caso da bancária Márcia Urbani, 39 anos, e do contador Fábio Urbani, 38 anos. Depois de cinco anos atuando na mesma agência bancária, eles começaram um relacionamento e precisaram ser separados. "Nossos superiores e amigos de trabalho ficaram felizes com nosso relacionamento, porém a política da empresa não permite que o casal trabalhe junto. Hoje, nós trabalhamos em lugares diferentes", conta Márcia.

Márcia Urbani e Fábio Urbani não trabalham mais juntos por causa das regras da empresa | Foto: Acervo Pessoal 

A consultora de recursos humanos Priscila Siciliano ressalta que podem acontecer relacionamentos amorosos no ambiente corporativo porque a maioria das pessoas passam mais tempo no trabalho do que em casa ou em outro lugar, fazendo outras atividades. "Em um mundo onde muito se fala sobre empatia, pouco é colocado em prática. Não deveria existir culpa ou penalidade para duas pessoas que se encontram no ambiente de trabalho e que se interessam de maneira amorosa", finaliza.

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