Denúncia: cadeia tem larva na comida e transações ilegais

Após greve de fome dos reclusos, familiares denunciam um esquema de venda de transferências, maus tratos e falta de estrutura para visitantes no Presídio de Itaquitinga, em Pernambuco

sex, 29/11/2019 - 16:19

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Após a greve de fome feita por detentos em protesto contra a administração do Presídio de Itaquitinga (PIT), na Zona da Mata de Pernambuco, familiares denunciam maus tratos e um suposto esquema ilegal de transferências. Eles acusam a administração de não cumprir com as determinações legais e relatam a rotina vivida pelos parentes que estão atrás das grades. 

Segundo a denúncia, o fato que culminou no protesto do grupo de presos foi a presença de larvas nas refeições do dia 17 deste mês. Após encontrar 'tapuru' no arroz, eles negaram-se a comer e atearam fogo em colchões. Como resposta, foram espancados pelos agentes, dizem os familiares; que também reforçam que as definições da nutricionista não são cumpridas e o horário de entrega atrasa até 5h. "Em Itaquitinga a fome é constante", declara Roberto*, irmão de um preso há cerca de um mês na unidade.

Sem aviso prévio, os parentes deslocaram-se para a visita do dia 23, contudo, tiveram o acesso negado. Eles acreditam que foram proibidos para evitar que vissem o resultado das agressões. Em contraposição à 'opressão' e no intuito de chamar atenção de órgãos responsáveis, cerca 150 pessoas incendiaram o canavial em frente ao presídio. 





Inaugurado em 2018 como uma referência, o PIT tem capacidade para mil presos e, atualmente, comporta 660, calcula a Secretaria Executiva de Ressocialização (Seres). Ainda assim, os visitantes também destacam a falta de estrutura. Na espera da revista, eles ficam aproximadamente 4h embaixo de sol e chuva, sem disponibilidade de um banheiro. Durante esse tempo, carregam garrafas de cinco litros d'água para driblar a sede dos detentos, pois garantem que a água é escassa e, junto com a luz, é 'desligada' às 17h. "Se ainda não tava pronto para garantir a integridade, por que colocou gente lá?", questiona Simone*, que tem o marido e um irmão na unidade.

Sob comando dos ‘gatos’- Trancados por 22h diárias, os detentos solicitam atividades ocupacionais pela "falta do que fazer" durante a pena. A insatisfação é potencializada diante das regalias concedidas pelos agentes aos "presos que trabalham para a polícia". Intitulados 'gatos', essa classe de reclusos são os olhos dos agentes e comercializam armas e drogas na unidade. 

O líder desse grupo seria um preso identificado apenas como "Gê", que é chaveiro do pavilhão A e posa ao lado de chocolates enquanto a maioria reclama de fome. Ele também seria responsável por castigar os demais reclusos -chamados de cachorros- a mando dos agentes e realizar cobranças do comércio ilegal. "Um pacote de biscoito não pode entrar, mas eu posso tá pagando por droga", delata Roberto. Ele conta que neste mês pagou R$ 2.100 ao Gê para quitar dívidas do irmão.

“Só bota vendido e só sai comprado”- Para presos e parentes, todos os problemas de Itaquitinga recaem sobre o Superintendente de Segurança Prisional. Supostamente, o coronel Clinton Paiva sempre age de modo prejudicial, além de comandar um esquema de transferências ilegal. Sem conhecimento dos juízes de execuções penais, ele cobra entre R$ 50 mil e R$ 150 mil para retirar detentos da rigidez de Itaquitinga, apontam.



"Só bota preso para Itaquitinga vendido e só sai comprado", garante Simone. Ela conta que o coronel Clinton destrata os familiares que tentam encontrar soluções e coloca propositalmente inimigos na mesma cela, além de presos com doenças infectocontagiosas. Para a denúncia, trata-se de um método cruel de reduzir a população carcerária em Pernambuco.



Posição da Seres-Procurada pelo LeiaJá, a Seres negou as informações, destacou a 'idoneidade' do coronel Clinton e reafirmou que as queixas são fruto da rigidez da segurança máxima da unidade. Confira na íntegra:

A Secretaria Executiva de Ressocialização (Seres) informa que não procedem as denúncias relatadas e esclarece que a Penitenciária de Itaquitinga funciona no regime fechado com estrutura concebida para a segurança máxima, com rigidez do regime que pode causar insatisfação a familiares. A unidade dispõe de mil vagas com cerca de 660 detentos recolhidos. Com relação ao superintendente de Segurança Penitenciária, Clinton Paiva, a Seres informa que o servidor atua na segurança prisional com idoneidade a fim de manter a ordem necessária aos servidores, detentos e visitantes.      

*Com medo de represálias, os denunciantes preferiram não se identificar na matéria. Nomes fictícios foram utilizados.

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