Americano é morto em ataque no Iraque

Na sexta-feira à noite, 30 foguetes atingiram a base K1 em Kirkuk, uma região petrolífera ao norte de Bagdá

sab, 28/12/2019 - 08:40
SAFIN HAMED Veículos militares americanos em Bardarach, Iraque, 21 de outubro de 2019 SAFIN HAMED

Novos disparos de foguetes no Iraque deixaram um morto nas fileiras americanas pela primeira vez, aumentando o medo de escalada da violência em um país mergulhado em sua pior crise política e social em décadas.

Os Estados Unidos prometeram recentemente "uma resposta firme" à proliferação de ataques visando seus interesses no Iraque - não reivindicados, mas que para Washington são realizados por facções pró-Irã.

Na sexta-feira à noite, 30 foguetes atingiram a base K1 em Kirkuk, uma região petrolífera ao norte de Bagdá, segundo informou uma autoridade americana à AFP.

"Um funcionário terceirizado americano foi morto e vários soldados americanos e pessoal iraquiano ficaram feridos", relatou o comando da coalizão antijihadista no Iraque e na Síria.

Os tiros de foguetes e morteiros contra bases iraquianas que abrigam soldados americanos ou representações diplomáticas dos Estados Unidos se intensificaram nos últimos dois meses.

Desde 28 de outubro, dez ataques fizeram feridos e uma vítima fatal nas fileiras iraquianas e causaram danos materiais inclusive na embaixada americana, localizada na Zona Verde de Bagdá.

O ataque de sexta-feira, no entanto, difere em sua intensidade. Jamais uma quantidade tão grande de foguetes foi lançada contra uma única base.

"Os tiros foram muito precisos. O ataque teve como alvo precisamente a área onde os americanos estão, perto da sala de reuniões", disse à AFP uma autoridade dos serviços de segurança da província de Kirkuk. O ataque também poderia ter sido muito mais mortal.

Comandantes da polícia iraquiana e da coalizão internacional deveriam se reunir na sexta-feira no K1, de onde liderariam uma vasta operação nas áreas montanhosas onde ainda estão escondidas células do grupo Estado Islâmico (EI).

Mas, devido às condições climáticas desfavoráveis, a operação - e, portanto, a reunião - foi adiada.

Embora nenhum dos recentes ataques antiamericanos tenha sido reivindicado, Washington aponta para as facções armadas pró-Irã, cuja influência está crescendo e que agora fazem parte das forças de segurança iraquianas.

Para os americanos no Iraque, essas facções agora são mais ameaçadoras do que o EI, segundo uma fonte da segurança ocidental.

Sinal dessa preocupação, "um comboio de 15 veículos americanos transportando blindados e armas" chegou recentemente em sua embaixada em Bagdá, segundo um oficial da segurança iraquiano.

Em seu comunicado anunciando o ataque à base K1, a coalizão disse que as forças iraquianas conduziam a investigação e que seriam elas que responderiam.

O Iraque vem dizendo há meses que não quer servir de campo de batalha para os dois grandes inimigos que são seus dois aliados.

Hoje, porém, a situação mudou. O Irã fortaleceu sua influência sobre seu vizinho às custas de Washington.

Desde a renúncia do governo, quase um mês atrás, a República Islâmica e seus aliados no Iraque têm pressionado para colocar um de seus homens como primeiro-ministro.

Diante da intransigência iraniana, o presidente Barham Saleh também ameaça renunciar.

A instabilidade política foi desencadeada pela pior crise social vivida pelo segundo produtor de petróleo da Opep.

Os manifestantes, pela primeira vez em décadas, saíram às ruas espontaneamente a partir de 1º de outubro para exigir a saída de toda a classe política.

Um movimento que não vacila, apesar de quase 460 mortos e 25.000 feridos.

Os manifestantes prometem continuar até obterem a revisão do sistema de distribuição de cargos políticos de acordo com grupos étnicos e religiões e a renovação de uma classe política inalterada por 16 anos.

A reforma eleitoral recentemente votada no Parlamento altera o sistema de votação, de um sistema de listas para o sistema uninominal.

Mas, para especialistas, isso poderia favorecer notáveis locais, que os partidos no poder sempre conseguiram cooptar graças ao clientelismo.

COMENTÁRIOS dos leitores