Irlanda vota entre ameaça do Brexit e avanço do Sinn Fein
O primeiro-ministro Leo Varadkar advertiu que o Brexit "ainda não terminou, esta é a apenas a primeira parte", ao convocar eleições em janeiro
A Irlanda comparece às urnas para eleições legislativas antecipadas no sábado (8), e o primeiro-ministro Leo Varadkar faz campanha, insistindo em que persistem os riscos do Brexit no vizinho Reino Unido.
Na pesquisa mais recente, o premiê está atrás dos nacionalistas do Sinn Fein, ex-braço político do IRA. Varadkar advertiu que o Brexit "ainda não terminou, esta é a apenas a primeira parte", ao convocar eleições em janeiro.
Na sexta-feira passada, com a saída britânica da União Europeia, a demarcação terrestre entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte se tornou a nova fronteira entre o Reino Unido e a UE.
O acordo de divórcio evitou o retorno de uma fronteira rígida que poderia ameaçar o acordo de paz da Sexta-Feira Santa. Em 1998, este pacto acabou com três décadas de um conflito violento que deixou 3.500 mortos na província britânica situada ao norte da ilha.
Nada mudará durante o período de transição, previsto para durar até dezembro. Bruxelas advertiu, no entanto, para um novo risco de ruptura brutal, se um acordo não for alcançado sobre a futura relação entre as duas partes.
E Varadkar concentrou a campanha em repetir que ele é o mais adequado para obter o acordo.
"As pessoas confiam em nosso governo sobre o Brexit, porque protegemos o país durante uma crise que nós não criamos", afirmou o vice-premier e chanceler, Simon Coveney, ao apresentar o programa eleitoral do partido de centro direita Fine Gael.
A aposta do partido pode resultar em fracasso, porém.
- Auge do Sinn Fein -
Diante da ameaça de um Brexit brutal sem acordo, que teria consequências dramáticas para a economia irlandesa, o partido de oposição, também centrista, Fianna Fail, decidiu apoiar o governo minoritário do Fine Gael de 2016 até 2019.
A aliança entre ambos foi prejudicada por vários escândalos que envolveram figuras importantes do partido de Varadkar, também afetado pelos problemas no sistema público de saúde e por uma crise cada vez maior da habitação.
"A ideia de que a Irlanda não pode mudar de governo por culpa do Brexit é cínica e desesperada", denunciou o líder do Fianna Fail, Micheal Martin. nCoveney afirmou, porém, que Martin "não é a pessoa para liderar a Irlanda na segunda metade do desafio do Brexit".
"Ele deseja que acreditem que qualquer um pode fazer isso, como se o Brexit fosse um processo automatizado", criticou. Enquanto os dois partidos se enfrentam, o esquerdista Sinn Fein parece avançar no momento de turbulência.
Uma pesquisa do instituto Ipsos MRBI, publicada na terça-feira pelo jornal "Irish Times", atribui 25% das intenções de voto ao ex-braço político do extinto Exército Republicano Irlandês (IRA), que deseja a união da província britânica da Irlanda do Norte com a República da Irlanda.
- Saúde e moradia -
De acordo com a pesquisa, o Sinn Fein aparece pela primeira vez à frente do Fianna Fail (23%) e do Fine Gael (20%). Se conquistar este resultado histórico, o partido liderado por Mary Lou McDonald não poderia governar sozinho, mas teria um papel-chave na formação de um Executivo de coalizão.
Como prova da mudança de tendência, McDonald foi finalmente convidada a participar de um debate eleitoral organizado pelo canal público RTE. Inicialmente, o encontro seria apenas entre Varadkar e Martin.
O eleitorado parece mais preocupado com questões de política nacional, como saúde e a falta de moradias acessíveis, as prioridades citadas pelos mais de mil votantes entrevistados em uma pesquisa recente, na qual o Brexit ficou em 12º lugar.
Os hospitais irlandeses estão saturados e a escassez de residências provocou a disparada dos preços, a níveis impossíveis para boa parte da classe média.
Na semana do Natal, o país registrava 9.731 pessoas sem casa, e o número de famílias sem residência aumentou 280% desde dezembro de 2014, segundo a organização Focus Ireland.