Mães e filhas encaram a pandemia em serviços essenciais

Por hora, dar abraços e comemorar com a casa cheia vai ficar para depois do isolamento

por Alex Dinarte sab, 09/05/2020 - 14:44
Arquivo Pessoal Doralice Pucci (à esq.) com a filha Roberta Vale Arquivo Pessoal

Para muitos, a celebração do Dia das Mães neste domingo (10) vai ocorrer sem contato físico. Os tradicionais festejos em família vão ser apenas pelo ambiente virtual. A possibilidade de dar abraços e comemorar com a casa cheia vai ficar para depois do período de isolamento. Tal realidade, entretanto, já é uma constante na vida de profissionais que seguem o trabalho nos serviços essenciais.

As funções em postos de trabalho como saúde, transportes, segurança pública e alguns segmentos do comércio não podem obedecer às recomendações de isolamento das autoridades sanitárias. Pelo contrário, atuam para que o colapso não seja definitivo. É o caso da enfermeira Roberta Vale, 36 anos. Além de fazer parte da linha de frente no combate à pandemia ela teve que mudar toda a rotina em relação ao contato com a própria mãe. "Ela e meu pai cuidam do meu filho enquanto o marido e eu trabalhamos. Então, as visitas diárias à casa deles acabaram", declara. "Coloco minhas coisas numa caixa plástica na parte externa e vou direto para a lavanderia retirar sapatos uniforme. Só tenho contato com filho e marido depois do banho", complementa.

Doralice Pucci (à esq.) com o neto e a filha, Roberta Vale | Foto: arquivo pessoal

A mãe de Roberta, a dona de casa Doralice Pucci, 65 anos, teme que a filha seja infectada e está diariamente preocupada com o risco de contágio. Além disso, a falta do carinho das filhas e dos netos a deixa mais saudosa neste período. "O contato físico para mim é necessário. Os beijos e abraços deles me fortalecem", diz Doralice, que tem orgulho da filha estar na linha de frente no combate ao coronavírus. "Por ela estar nessa profissão, orgulho-me pela sua garra em ajudar aliviar tanta dor. Deus é maior, e tenho muita fé que nada de ruim vai acontecer a ela", acredita.

Outra profissional que continua exercendo seu trabalho é a bancária Suzana Souza, 40 anos. O fato de ter que cumprir a jornada na agência em que atua fez com que ela deixasse de se encontrar com familiares que moram próximos, como a mãe e o irmão. "Não tenho mais contato pessoalmente com nenhum familiar. Nos comunicamos somente por telefone. Minha principal preocupação é ser contaminada mesmo tomando todas as precauções e respeitando as orientações do Ministério da Saúde", reflete. A família Souza optou por não proporcionar riscos à saúde dos entes. "Deixaremos a confraternização para um outro momento, que esperamos ser em breve", acrescenta.

O receio de Suzana com a possibilidade de contaminação também não sai da cabeça da mãe. A aposentada Sônia Souza, 70 anos, se preocupa com a bancária que, além de ter que utilizar o transporte público para ir e voltar do trabalho, atende um grande número de pessoas durante a jornada. "Minha filha tem muito contato com o público e ainda precisa usar o transporte coletivo. O risco dela é muito grande", aponta.

A aposentada concordou com a decisão de não celebrar o Dia das Mães neste ano. "Sou do grupo de risco, meu filho também, por ter baixa imunidade, então preferimos nos preservar", diz Sônia, que elegeu a situação mais desfavorável da pandemia. "A pior parte é ficar sozinha, sem contato com ninguém, não poder ver meus filhos. Tenho medo de sentir solidão", complementa.

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