Covid-19: "Agora estou levando meu pai para o cemitério"
Filho precisou acampar para conseguir uma vaga de UTI para o seu pai, de 62 anos. Agora, ele revela um sentimento de incapacidade
O estudante de direito, Jessé dos Anjos, 34 anos, passou as últimas semanas lutando para conseguir que o seu pai, que contraiu o coronavírus, conseguisse o devido atendimento. Foi preciso até acampar para conseguir que Jocélio da Silva, 62 anos, tivesse uma vaga na Unidade de Pronto Atendimento de Fortaleza, onde passou oito dias. No entanto, o filho que prometeu levar o pai para casa desabafa: "agora estou levando meu pai para o cemitério".
A luta do estudante de direito para ajudar o seu pai começou no dia 8 de maio, quando Jocélio foi levado com os sintomas do Covid-19 para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro de Vila Velha, em Fortaleza, Ceará. Só depois que reivindicou por ajuda ao seu pai, o idoso foi levado para um melhor e correto atendimento médico. Porém, nesta quinta-feira (21), Jocélio não resistiu e faleceu.
"Ele aceitou ser internado com a condição que eu não ia deixar ele lá, sozinho, de jeito nenhum. Eu prometi para ele que logo ele estaria em casa e agora estou levando meu pai para o cemitério", desabafou Jessé ao Diário do Nordeste.
Abalado, o estudante de direito aponta que todo o seu sacrifício foi em vão e a família está com um sentimento de perda e desgaste emocional - principalmente por conta da dificuldade de saber informações sobre o seu pai enquanto ele estava na UTI. "Todos os dias, eu me humilhando por notícias, para saber pela bocas dos outros 'seu pai está indo bem', para de repente receber a ligação com o hospital dizendo que ele morreu", lamenta Jessé.