Hemopa coleta plasma de pacientes curados da covid-19
Homens com idade de 18 a 60 anos e peso acima acima de 55 quilos podem doar, desde que estejam sem sintomas da doença há um mês
A Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH) aprovou o uso do plasma de pacientes convalescentes da covid-19, ou seja, pessoas recuperadas da doença do novo coronavírus com a comprovação de testes já negativos para o SARS-COV-2, para o uso em pacientes doentes. No Pará, a Fundação Centro de Hemoterapia e Hematologia (Hemopa) realizou estudos para a alternativa de tratamento. O plasma sanguíneo de pacientes curados de covid-19 pode ajudar na recuperação dos infectados pela doença no Estado e combater a pandemia.
De acordo com a gerente da hematologia clínica e membro do Comitê Transfusional do Hemopa, Cátia Valente, o estudo surgiu a partir da observação de protocolos semelhantes em grandes centros de pesquisa do Brasil e do mundo. A realização da pesquisa no Hemopa, por meio da Diretoria Técnica e Núcleo de Ensino da Fundação, surgiu da necessidade de melhorar a resposta dos pacientes frente à infecção. “Observou-se por meio de pesquisas que o plasma convalescente é rico em anticorpos e, após a sua administração, ocorre uma melhora na resposta imunológica do paciente, pois são fornecidos anticorpos contra a doença”, informa Cátia.
“O plasma é retirado por meio da aférese, que um procedimento que filtra apenas o sangue do doador e separa o plasma sanguíneo e os anticorpos específicos contra a covid-19 que serão utilizados para o tratamento. São retirados 500 ml e o método dura em torno de uma a duas horas”, afirma Cátia Valente sobre processo da doação. “Após a coleta, esta bolsa de plasma passa por exames específicos, com a titulação de anticorpos lgG e PCR-RT, pós-covid-19, que vão habilitar a utilização ou não do material para transfusão. Se tudo for aprovado, ela ficará guardada no espaço chamado ‘distribuição’ dentro do Hemopa assim como é feito com o sangue e outros componentes”, destaca.
Segundo a gerente da hematologia clínica, quem decide o uso do plasma é o médico do doente que está internado na rede hospitalar. “O médico solicita no próprio formulário do Hemopa o pedido e nós, os responsáveis, dispensamos a bolsa para ser usada”, afirma Cátia Valente.
“Nós obtivemos resposta positiva da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), na elaboração de protocolos para a utilização da técnica experimental do plasma convalescente”, destaca o presidente da Fundação Hemopa, Paulo Bezerra. “É muito importante que o hemocentro possa participar desta movimentação com uma técnica relevante na qual, por meio do plasma, é possível transferir anticorpos e ajudar fortalecer o sistema imunológico dos pacientes que estão acometidos e salvar vidas”, complementa.
Arthur Braga, delegado da Polícia Civil do Pará, contraiu o coronavírus atuando na linha de frente na fiscalização nas ruas da capital. No período de isolamento social, leu bastante a respeito da doença e constatou que já existiam pesquisas relacionadas ao plasma. “Fiquei entusiasmado com a possibilidade de poder ajudar. Procurei me informar mais a respeito e liguei para o Hemopa, eles fizeram uma entrevista comigo por telefone, tive que fazer um novo teste mostrando que não estava mais infectado e uma série de novos exames de saúde”, afirma.
O policial disse que foi atendido em uma sala reservada e ressaltou que o procedimento é simples e indolor. "Fico feliz de ter contribuído e ajudado no mínimo possível. Estou esperançoso, e acredito que essa pesquisa trará muitos bons frutos e poderá ajudar pessoas que estão em estado de saúde grave”, diz o delegado.
Os voluntários para a doação devem obedecer aos seguintes critérios: homens com idade entre 18 e 60 anos, pesar mais de 55 kgs, ter tido exame positivo para SARS-COV-2 por teste de PCR-RT ou teste sorológico. A candidatura fica liberada após 30 dias sem nenhum sintoma decorrente da doença
A equipe multiprofissional de pesquisadores do projeto explicou que optou pela coleta de plasma por voluntários do sexo masculino porque mulheres em condições de gestação podem vir a produzir anticorpos anti-HLA (anticorpos direcionados a antígenos leucocitários humanos, o que pode provocar algumas complicações nos receptores, entre elas, a Lesão Pulmonar Aguda Relacionada (TRALI), que pode ser letal.
Por Amanda Martins.