Janguiê Diniz, páginas que fazem parte de nossa história

dom, 18/10/2020 - 13:51

Para entendê-lo, é necessário não ignorar Zygmunt Bauman. Diz-nos Janguiê Diniz que ter compreendido a expressiva mudança de uma economia alicerçada em indústrias para uma economia baseada na informação foi o que o fez não permanecer nas “velhas maneiras”. O mundo moderno exige flexibilidade, velocidade e qualidade – é o que vemos de suas ações. O que se herdou não mais é adequado para o mundo. A mudança é compulsiva. A mudança lhe é comum. Tudo, rapidamente, exige expansão e reconfigurações.

A passagem da fase sólida para a líquida, isto é, para a condição em que as organizações que garantem rotinas, padrões e configurações sólidas não mais perduram, é o que torna esse empreendedor dinâmico e líquido. Janguiê não sugere construções com concretos que resistam a renovações. Suas edificações, portanto, não envelhecem. Reconfiguram-se, então. É que a sociedade, aos seus olhos, é cada vez mais tratada como uma rede. Já não mais é uma estrutura. O empreendedor, portanto, deve ter suas edificações como matrizes de conexões e permutações contínuas.

Quem o acompanha a mesas de trabalho não o encontra declinado em planejamentos e ações de prazos longos. Porém, declina-se à edificação de projetos com longevidade no tempo. Suas ações são distintas, pois são respostas dotadas de habilidade. Suas ações são rápidas e novas. Suas mãos germinam o solo: em 1996, funda o Bureau Jurídico – Cursos para Concursos. Em 1998, o BJ Colégio e Curso, escola de ensino básico. Em 2003, apresenta ao povo pernambucano, em Recife, a Faculdade Maurício de Nassau. A Joaquim Nabuco, em Paulista e em Recife, em 2007, já o tornam exemplo para muitos. Há motivações em seu dia a dia: o Brasil precisa crescer mais e mais. O que leu no passado e o que, atento, observa exige expansão de sua gente: seu empreendimento chega a quase todos os estados do Brasil. O processo de expansão é acompanhado pela chegada de uma nova marca: o grupo Ser Educacional, que, em 2013, abre capital na Bolsa de Valores, hoje um dos maiores grupos universitários  do país, com cerca de 185 mil alunos, e unidades em vários estados da federação,  mantenedor da Uninassau - Centro Universitário Maurício de Nassau,  Uninabuco – Centro Universitário Joaquim Nabuco, Unama – Universidade do Amazonas, UNG – Universidade de Guarulhos, Univeritas – Centro Universitário Universus Veritas, Uninorte – Centro Universitário do Norte, dentre outras.  

Talvez, sua inteligência maior esteja em sempre declarar que a força de um empreendedor está em não se tornar imune à crítica, a reavaliações. Ao contrário: é saber acompanhar as exigências de mercado, estar consciente da historicidade social – contínua e perpétua historicidade. E isso tudo o renova. Ter a validade vencida na vitrine é advindo da inércia institucional. Ora cede, ora reage. Há alternâncias. Quando é necessário reagir, fá-lo com a sabedoria e o rigor da experiência de um homem bem-sucedido em seus projetos. Assim como sugeriu Michel Foucault, esse empreendedor nascido no distrito de Santana dos Garrotes, na Paraíba, está convicto de que a identidade não é dada. Está consciente de que somos o que queremos ser. Embora esteja consciente de nossas limitações, não ignora que somos engenheiro de nossas vontades. Somos autores a escrever no tempo real, à janela, com tinta fresca ao vento. Somos livres.

Quem somos? Qual o nosso lugar no mundo? Por que estamos aqui? Enfim, nossa identidade precisa ser criada, da mesma maneira que as obras de arte são criadas. Jean Paul Sartre também pensou o mesmo, acrescentando que estamos condenados à liberdade. Mas que precisamos ser responsáveis e assumirmos nossas ações. Janguiê sempre nos lembra que qualquer ideia pode se transformar em uma obra ou dar início a uma obra - é o homem vindo de suas leituras; é o homem vindo de progressões internas, sobretudo. Sempre esteve com os livros. É-lhes fiel. Assim como o cão Quincas Borba foi fiel ao filósofo Quincas Borba, em Machado de Assis, ele o é aos livros. Mas também escreve. Acredita, inclusive, que a própria vida humana pode ser transformada em mais uma obra. Janguiê nos alerta que os dias de hoje não nos querem com um valor permanente, imperecível, vencendo o fluxo do tempo. Os olhos da rua, os ouvidos do consumidor, o tato do cliente, o olfato do público e o paladar do outro não estão sedentos de necessidades, desejos e vontades pré-fabricadas. É a commoditização ou recommoditização que está em moda. Seja para substituir o belo, seja para descartar “velhas maneiras”, seja para preservar a obsolescência. Seja, enfim, para desconstruir as máximas. Eis o sentido da expansão de seus empreendimentos, erguidos para a pluralidade social e com a pluralidade de impressões digitais de nosso país. José Janguiê Bezerra Diniz, páginas que fazem parte de nossa história - e de nossa História.

Edvaldo Ferreira - Escritor

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