Miss Beleza do Pará divide passarela com ações sociais
Politizada e engajada, estudante universitária Milena Gomes vai representar o Estado no concurso Belezas do Brasil
Milena Gomes de Jesus tem 23 anos, é natural de Belém, mas cresceu e mora no município de Salvaterra, no Marajó. Possui no currículo títulos de Miss Beleza Marajó 2018, Miss Cidade das Mangueiras 2018 e, agora, Miss Beleza do Pará 2020. Além das passarelas, também é maquiadora e estudante de Biologia da (Universidade Federal do Pará (UFPA). Engajada, criou o projeto solidário “Eu me importo”, durante a pandemia.
Nesta entrevista, Milena Gomes conta sobre a carreira de miss, como lida com o distanciamento social e também fala sobre representatividade e empoderamento.
O ano de 2020 revelou muitas surpresas. A pandemia nos obrigou a deixar algumas atividades de lado. Você deixou de cumprir algum compromisso
Realmente, o ano de 2020 está sendo um ano atípico. De muitas surpresas. Muitas delas negativas para todo mundo, não somente no nosso país ou no nosso Estado. Em relação a deixar de cumprir compromissos: na minha vida acadêmica, eu estaria me formando no início desse ano. Faltava apenas defender o TCC e terminar alguns dias de uma disciplina. E, devido à pandemia, não tive como cumprir esse compromisso. Com relação às outras coisas, os compromissos precisavam ser adiados. Em relação ao concurso, nós conseguimos cumprir nossos compromissos on-line. O mundo inteiro teve que se readaptar a esse momento. E nós tivemos que nos readaptar também.
Você está na reta final do curso de Biologia. Pretende trabalhar na área ou seguir com a carreira de miss/modelo?
Eu pretendo trabalhar, sim, na área da Biologia e também pretendo seguir com a carreira de miss. Os concursos têm certo período, uma faixa etária, até onde você pode concorrer. Então eu quero, sim, seguir nas duas carreiras, porque miss também é um trabalho. O Miss (Beleza Brasil) é um propósito para minha vida. Também tenho vontade de ser professora, trabalhar na área Biologia, podendo ser não em sala de aula, mas também na área da pesquisa.
Você disse que ser miss é um propósito para sua vida. Como você definiria ser miss?
Ser miss vai muito além da beleza, vai muito além do típico tchauzinho de miss. Hoje a miss é uma mulher engajada, uma mulher com propósito. A miss é representatividade, ela é a porta-voz de várias mulheres. Ser miss é ser representante de um povo, de uma causa, é dar voz às causas. Hoje, o concurso em que eu estou — o Concurso Belezas do Brasil— tem uma plataforma que defende o empoderamento feminino, o feminismo, a sororidade e as causas importantes em prol da luta dos direitos pela mulher. E é esse o propósito que eu carrego comigo hoje. Também, sou engajada em projetos sociais. Acredito que, enquanto miss, nós representamos uma comunidade, um Estado, um munícipio, e nós usamos essa mídia, essa representatividade, em prol da gente. O que nós devemos fazer em prol da sociedade? Como nós podemos devolver toda aquela torcida, todo aquele crédito que as pessoas depositam em nós? Então, eu acredito que uma miss é uma mulher engajada, é uma porta-voz e é uma representante.
Temos visto o seu compromisso em mostrar o lado miss solidário. O que levou você a criar a campanha "Eu me importo"?
O Miss já deixou de ser apenas sobre a mulher mais bonita. Ou sobre aquela que é melhor passarela. Ele deixou de ser apenas a personificação da beleza. O Miss, agora, quer uma mulher que seja líder, uma pessoa engajada e que tenha uma responsabilidade social. E eu sempre digo, quando eu vou os lugares ou quando vou participar dos concursos, que eu quero representar bem o meu povo; que eu levo comigo a força, a garra, a cultura, a inteligência, a beleza de Salvaterra, da nossa ilha do Marajó. Nesse momento tão difícil que nós estamos, ainda, passando eu fiquei: “Poxa eu levo comigo essa força, mas o meu povo está passando por um momento de fragilidade”. E eu preciso usar a plataforma do Miss e a credibilidade que essas pessoas me dão para ajudá-los em alguma coisa. Então, quando eu vi que a empatia estava faltando nesse momento entre as pessoas, eu pensei “Não. Eu preciso fazer a comunidade ajudar o seu próximo, preciso ver e fazer com que as pessoas sejam mais empáticas e solidárias”. E daí surgiu a ideia da campanha “Eu me importo”, de mostrar que ainda existem pessoas que se importam umas com as outras. E a campanha foi maravilhosa.
Deixando o lado Miss de lado, como a pessoa Milena está lidando com a pandemia?
É nesse momento que eu, Milena, como pessoa, vejo o quanto é importante nós darmos valor às pessoas, aos pequenos detalhes. A vida é muito passageira e todos nós estamos interligados e eu aprendi a dar valor em muitas outras coisas. Estou passando por um processo de autoconhecimento, valorizando coisas que antes eu não valorizava em mim, aprendendo com isso e seguindo para evoluir como pessoa ainda mais. Sempre fui uma pessoa muito calma, eu sempre busquei respostas. E para aquilo que não tem resposta a gente tem que confiar e crer nos desígnios de Deus.
Quem é ou foi sua maior inspiração? E por quê?
Para a maioria das pessoas a mãe sempre é um grande exemplo. E no meu caso não é diferente. A minha mãe é um grande exemplo para mim. É um exemplo de força, de perseverança, de garra. Ela é uma mulher muito forte e empoderada, uma pessoa muito trabalhadora que nunca desistiu de seus sonhos, dos seus objetivos. Sempre colocou a felicidade dos filhos acima da sua. Sempre foi muito protetora. Sempre incentivou e apoiou todos os meus sonhos e ela é uma grande inspiração para minha vida.
Do que você teve de abdicar pela carreira? E do que você não abre mão?
O Miss é uma profissão, e como em toda profissão nós temos que abdicar de muitas coisas. E ser Miss não é fácil, principalmente se você tem um objetivo de ser uma boa representante, você tem que ter muitas renúncias. Para ser Miss eu abdiquei, por exemplo, de viagens — porque geralmente os concursos acontecem em períodos de férias —, de conhecer novos lugares, de ter novas experiências. Assim como todo período de preparação eu abdico de comer coisas gordurosas — porque para chegar lá bem, você passa por toda uma preparação física, mental, alimentar —, tem que ser uma preparação alimentar para chegar no perfil que eu quero, que me agrade, não um padrão, porque não existe padrão, existe perfil. Então, são muitas renúncias para seguir essa profissão da melhor maneira possível. Eu não abro mão da minha família. A minha família vem sempre em primeiro lugar. Qualquer coisa que aconteça no meu âmbito familiar, no meu círculo familiar que coloque para eu escolher entre minha família e algo do concurso, a minha família sempre em primeiro lugar, eu não abro mão disso.
Qual conselho você daria para as meninas que sonham entrar para o mundo dos concursos de beleza?
Os conselhos que eu sempre dou para as meninas que, assim como eu, têm o sonho e o desejo de serem misses é que elas devem, acima de tudo, querer de verdade isso para a vida delas. Porque o Miss não é apenas conto de fadas, não. Temos muitas renúncias, muito trabalho. Então você precisa se dedicar, ter responsabilidade, estudar muito e ser humilde. Humildade é a chave do sucesso no mundo Miss. Você precisa ser você mesma, seguir a sua própria essência, nunca se comparar. Você precisa ter autoconhecimento do seu poder, porque a miss tem o dever de empoderar também outras mulheres. Essas são as dicas que eu sempre dou para as meninas: sejam vocês mesmas. Se divirtam. Estudem. Tenham responsabilidade. Dedicação. Amor ao mundo Miss. E humildade. Assim você vai conseguir trilhar uma carreira de sucesso nesse mundo.
Veja aqui imagens das ações do projeto "Eu me importo".
Por Carolina Albuquerque e Even Oliveira.