Opinião: 'A Chinesa' funciona bem. Muito Bem
Por Cláudio Lacerda*
Em 11 de dezembro de 2020, publiquei nesta coluna, artigo intitulado “Pela Vacinação Imediata. Com Qualquer Delas”. Foi uma modesta resposta à crescente onda negacionista de então, liderada pelo Presidente, que, além de minimizar a gravidade da pandemia, semeava insegurança na população quanto aos efeitos das vacinas, particularmente da Coronavac, produzida em parceria com o Instituto Butantã, em São Paulo, e por isso duplamente estigmatizada por ele, que logo a rotulou pejorativamente de“chinesa” e “do João Dória”.
E foi mais além, declarando reiteradamente que havia mandado cancelar uma grande encomenda do Ministério da Saúde à Pfizer, pois o Presidente era ele, e que não iria tomar vacina alguma, “muito menos a chinesa”.
Todavia, àquela altura, já havia resultados robustos de pesquisa de fase três, atestando a eficácia e a segurança da Coronavac. Tanto que, não tardou a ser aprovada, ainda que emergencialmente, pela ANVISA, tornando--se a primeira e a mais aplicada no País, começando pelos profissionais de saúde.
Por isso, eu, minha mulher, minhas filhas e demais colegas próximos fomos contemplados no começo da campanha, com a primeira dose, e com a segunda, quinze dias após.
Ocorre que, mais recentemente, foi desenvolvida e tornou-se acessível uma nova
tecnologia que permite separar e quantificar, laboratorialmente, no sangue, os anticorpos IGG de mera memória imunológica, portanto sem efeito protetor, daqueles chamados neutralizantes, que conferem imunidade real. Era exatamente o que estávamos precisando para avaliarmos nossa resposta imunológica, comparando-a, inclusive, com a daqueles que haviam tido a doença.
Os resultados foram altamente gratificantes em todos os vacinados, onde os títulos de anticorpos neutralizantes revelaram-se uniformemente elevados, bem acima do considerado de proteção e bem maiores que a média daqueles que haviam tido a infecção.
O impacto epidemiológico dessa e de outras vacinas já são observados em vários países e já começa a ser sentido no Brasil. Com efeito, em São Paulo, a incidência da doença em profissionais de saúde caiu vertiginosamente e isso já começamos a observar também em Pernambuco. Nos poucos casos registrados, a evolução tem sido benigna e curta.
Vale dizer finalmente que, embora vacinados, todos devemos continuar com os mesmos cuidados de distanciamento social, pelo menos até que esses novos conhecimentos se consolidem.
*Cláudio Lacerda é médico cirurgião e professor da UPE e da Uninassau.