Comportamentos abusivos em ambiente familiar causam trauma
Especialistas expõem os sinais que indicam um relacionamento tóxico e explicam como lidar com as dificuldades de convivência
O primeiro contato e os primeiros laços construídos entre as pessoas têm início no ambiente familiar. Na maioria dos casos, família é sinônimo de amor, proteção e conforto. Entretanto, essa não é a realidade de todo mundo e o convívio com os familiares pode ser carregado de conflitos, tensão e, possivelmente, se transformar em uma relação considerada tóxica.
Histórica e culturalmente, a sociedade aprende a colocar a família em um lugar de prioridade. Sendo assim, as pessoas acabam acreditando que têm de suportar todas e quaisquer situações.
A psicóloga Carolina Fernandes explica que uma relação tóxica é caracterizada por ser disfuncional, opressora, com impactos negativos e traumáticos para a vida de uma pessoa. “É aquilo que não permite que a pessoa seja o que ela é e que traz amarras, traz sofrimento, traz dor”, diz.
Carolina afirma que dentro do ambiente familiar é possível identificar situações desagradáveis. “Reconhecer relações tóxicas em uma família é justamente perceber quando a família não te motiva, quando a família te oprime, não deixa você ser quem você é e não te elogia. Onde só existem cobranças e situações traumáticas”, complementa.
Consequências
A psicóloga destaca a insegurança, traumas e o medo como uma das consequências de um relacionamento tóxico. Segundo ela, muitas vezes, quem passa por essa situação acaba reproduzindo ou projetando esse comportamento no seu entorno, fora do meio familiar ou quando estiver em uma posição verticalizada e superior. Carolina complementa explicando que uma família saudável possui relações horizontalizadas.
“Famílias tóxicas possuem relações verticalizadas, como se sempre precisasse ter alguém que manda em tudo, e eu não estou falando sobre respeito. A gente respeita a nossa família e o próximo. Estou falando sobre a necessidade de ter alguém que manda e alguém que obedece de maneira disfuncional. Porque os nossos pais mandam na gente. Porém, a diferença é o momento e a forma como somos mandados”, acrescenta.
De acordo com a especialista, o discurso social e cultural de colocar a família sempre em primeiro lugar gera muita culpa, insegurança, medo e a impressão de que aqueles que decidem se afastar de familiares tóxicos estão errados. “Está tudo bem em nos afastarmos dos nossos pais, irmãos, tios e tias, caso eles nos façam mal. Não é porque é de sangue, não é porque é família que a gente precisa permitir e legitimar comportamentos abusivos”, afirma.
Busca por aliados
Carolina acredita que, diante de uma relação tóxica, a blindagem pessoal para escapar da convivência é muito difícil. “O que eu acho que é possível ser feito é conseguir identificar a relação tóxica. Então conseguimos começar a nos empoderar, legitimar o que sentimos, pra ir nos afastando, entender que nem tudo o que aquela pessoa fala é verdade absoluta e pra criar força, inclusive, pra encontrar aliados no nosso caminho que nos ajudem a nos distanciar disso, dessa realidade”, explica.
Em algumas famílias, existem casos em que uma pessoa tem o desejo de controlar o outro somente pelo ato de controlar, diz a também psicóloga Tiara Klautau. Em outros, as pessoas não enxergam uma abertura para solucionar os problemas pelo diálogo. Diante de situações como essas, Tiara defende a ajuda profissional. “Vai ser nessa ajuda que essa pessoa vai ter esse lugar de fala que não encontra nem na família”, afirma.
Para os casos de separação dos familiares e rompimento dos laços que podem desencadear em sentimentos de culpa, dor e angústia, a psicóloga comenta que procurar ajuda profissional também é indicado. “Quem é que tem a culpa? Só podemos modificar a nós mesmos, não conseguimos modificar o outro. A decisão é sempre nossa, por mais difícil que seja”, finaliza.
Por Isabella Cordeiro.